Transfigurações

    As transfigurações são – muitas vezes por vias indiscriminadas – consideradas negativas, alvo de depreciações por parte dos mais conservadores e, em geral, uma ameaça a aqueles que tremem diante dos movimentos, das potências, da vida.
     Transfigurar é desfazer, violentar a forma, ir contra o falseamento nutrido pelo estático.  As representações e interpretações de ordem do comum – dos estratos significantes, sobretudo – não serão objetos dessa coluna. Aqui a tentativa é agir em meio as possibilidades próprias e mesmas da escrita, que sucedem-se como acontecimentos em atos que estão, sob variados aspectos, ligados ao engendramento das criações.  A escrita como um meio, a idéia como experimentação – e um necessário processo de inversão entre ambas, também.
    Em suma, desfazer o rosto que impera; diluir subjetividades, deformar e promover torções tais que os autores e, conseqüentemente, temas aqui trabalhados sejam deformados; passem a um estado de estranhamento, mas que, sobretudo, ainda sejam reconhecidos. Um reconhecimento que se dê não antes de suas potencialidades, de seus possíveis devires e atualizações. De modo geral, a tentativa é que os textos escritos aqui, nesse espaço de transfigurações (um espaço monstro, diga-se de passagem.), sejam experimentações de uma escrita que leve em consideração a idéia de que

“Escrever é um fluxo entre outros, sem privilégio em relação aos demais, e que entra em relações de corrente, contracorrente, de redemoinho com outros fluxos, fluxos de merda, de esperma, de fala, de ação, de erotismo, de dinheiro, de política, etc.” (DELEUZE, 1992, p.17)

Por tanto, estaríamos, aqui, em busca do que pode um determinado tema, autor ou palavra; sem ousar a criação de conceitos, mas trabalhando intimamente com (e sob) eles na tentativa de um traçado que convirja para um (ou, vários) plano(s). Nesse sentido é que se dará a tentativa de extrair, por exemplo, as possibilidades de um filme, saber quais são as relações dessa máquina-audiovisual, com que outras máquinas ela se relaciona, quais são suas transfigurações. Identificar também, dentre outras coisas, o que se passa entre uma máquina-literária e nós, a que deformações estamos nos submetendo.

Espaço transfigurado é um lugar para experimentações, portanto, vamos a elas.

 

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Laio Bispo