Histórias do Futebol – Bira Burro, Centroavante do Internacional

Bira foi contratado pelo Inter em 1979. Foi o centroavante titular do time tricampeão brasileiro invicto no mesmo ano. Ontem, ele deu uma entrevista absolutamente maravilhosa na Rádio Guaíba. Cometo aqui o abuso de reproduzir um trecho dela de memória. É uma bela história.

Cheguei a Porto Alegre com o apelido de Bira Burro. Na verdade, ganhei este lindo nome porque escolhi vir para o Inter e não para o Flamengo. O Mengo tinha Zico, Adílio, Tita, Junior, mas eu queria jogar com o Falcão, Mário Sérgio, Valdomiro e ser treinado pelo Ênio Andrade. Disse isso para uma rádio do Rio e os caras começaram a me chamar de Bira Burro. Nem me importei porque tinha um medo enorme. Com 23 anos, eu mal sabia assinar o meu nome e nunca tinha saído de Belém. Imagina, eu só tinha jogado no Remo e, de repente, todo mundo me queria!

Quando cheguei ao Inter, fiquei até apavorado quando recebi meu primeiro salário. Era uma dinheirama incrível. O Falcão veio falar comigo e perguntou o que eu ia fazer com a grana. Respondi que ia gastar, ué. O Falcão me falou super educadamente que eu precisava de alguém para cuidar de mim. Passou dois dias e me ligou a Dona Delmira, mãe do Batista, me convidando para almoçar. Durante o almoço, ela começou a fazer um monte de perguntas: “Meu filho, quanto tu ganha no Inter?”, “O que vai fazer com os bichos por vitória?”, “Tu sabe que a vida de jogador é curta?”. Me deu um monte de lição de moral e MANDOU eu lhe dar toda a grana que eu ganhava.

Ela passou a mandar em mim, era minha empresária. Olha, a Dona Delmira me deixava à míngua! Eu almoçava na casa dela e ela me deixava o dinheiro justo para eu comer e ir treinar. Um dia, ela escolheu um apartamento para mim e disse: “É lá tu vai morar, Bira. É um lugar que está valorizando. Um bom negócio.” E foi assim que eu arranjei uma mãe gaúcha. Uma baita mãe. Era dureza, mas eu obedecia.

Não fosse ela, o Falcão e o Batista, eu não teria uma filha advogada e um filho administrador de empresas. Teria jogado tudo fora. É gozado como as coisas acontecem. Depois eu me machuquei, fui para outros clubes, rodei o país, mas aprendi a me preparar para o futuro.

Agora espero que o Inter saiba comemorar no ano que vem os 30 anos do título de 1979. E que me chamem para a festa. Tenho 53 anos, sou daquele grupo que foi o único campeão brasileiro invicto. Vai ser difícil nos bater, né? Ninguém chega perto. A gente era bom mesmo. Que time nós tínhamos, que Flamengo nada!

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Milton Ribeiro