Lágrimas por Timor – A Destruição

menino e fogoNorte, sul, sul, norte
Nascente ou poente
Que importam os pontos cardeais
Se de todo os lados vem a morte
Que ceifa a vida da gente
Vimos morrer gente demais
Comportam-se como os amantes
Entrelaçados nos…ais

António Veríssimo

Em 28 de novembro de 1975 o Timor Leste parecia ter se tornado independente de Portugal, o qual desde 1514 lucrava com o comércio de sândalo, mel e madeira na colônia. Foram dez dias de felicidades, até que tropas da Indonésia, enviadas pelo presidente Suharto, invadem a pequena ilha e desbaratam sua organização social, política e econômica.

Nesse tempo, pessoas fugiam de suas casas e refugiavam-se nas igrejas e mesquitas e ainda nos prédios de organizações internacionais. As casas desabitadas eram saqueadas e queimadas e já os relutantes moradores que não abandonaram suas casas sofreram torturas diversas, inclusive a de assistir à destruição do seu próprio lar.

A população timorense organizou milícias de resistência e essas foram abatidas por toneladas de bombas napalm que, além de matarem os guerrilheiros, queimavam a floresta facilitando o aprisionamento de pessoas escondidas na densa vegetação local. Foram duzentas mil mortes.

A Indonésia descaracterizou o Timor Leste em todos os sentidos. No plano cultural proibiu o ensino do português e a islamização, no plano político integrou a ilha à Indonésia como sua 27ª província e no plano econômico reservou a extração petrolífera no Mar de Timor às empresas australianas.

O general e presidente indonésio Suharto, o qual já havia orquestrado um massacre de comunistas no seu próprio país resultando em mais de um milhão de mortes, não hesitou em invadir e mutilar o pequeno país vizinho, pois ele ia de encontro com os interesses capitalistas no âmbito da Guerra Fria e era apoiado pelos Estados Unidos, Japão e Austrália. Na verdade, uma resolução da ONU criticou a invasão e os posteriores 24 anos de domínio indonésio no Timor Leste, mas esta foi uma medida simplesmente burocrática.

Um ano após a crise asiática de 1997, Suharto deixa o cargo de governante e seu sucessor juntamente com o governo português e a ONU iniciam o tortuoso processo de independência timorense. Em um referendo de 1999, 78,5% da população optam pela independência do país, no entanto, antes mesmo da divulgação dos resultados consagrados nas urnas, guerrilheiros da ala radical do exército indonésio espalharam o terror pelos cantos da ilha.

A história se repetia e somente vinte dias após o início da débil violência chegam tropas das Nações Unidas para apaziguar a situação. Mais desabrigados, mais mortes, mais medo na nação sem governo.

Chegado o novo milênio as esperanças refloresceram na população timorense. Em abril de 2001, os timorenses foram novamente às urnas para a escolha do novo líder do país. As eleições definiram Xanana Gusmão como o novo presidente timorense e finalmente, em 20 de maio de 2002, Timor Leste tornou-se totalmente independente.

 

No próximo artigo da série um panorama da crise interna timorense de 2006 e uma reflexão sobre o futuro do país asiático.

 

Paulo Henrique Guerra é um universitário da Universidade Federal Fluminense do curso de Relações Internacionais louco para mudar o mundo.

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Paulo Henrique Guerra