Literofagia By Alex Sens / Share 0 Tweet Um dos livros mais inteligentes que li sobre a metafísica do ato de escrever foi “Negociando com os Mortos”, da canadense Margaret Atwood. Ganhadora do Booker Prize de 2000 com o romance “O Assassino Cego”, a escritora não só domina a arte da ficção, como seus desdobramentos, suas causas, as hemoglobinas de seu sangue. Exagero? Talvez não. Margaret observa a ficção como poucos com seus mais de 40 anos de experiência criativa diante de uma escrivaninha, e além de debruçar sobre a própria vida, a infância, suas influências e o caos da vida de quem é escritor, lembra de tantos outros, cita fontes, procura iluminar o labirinto escuro de quem se entrega à arte da escritura, de quem mergulha em suas profundezas lodosas. “Negociando com os Mortos” é um belíssimo e enriquecedor estudo baseado em seis conferências dadas por Margaret no ano de 2000 na Universidade de Cambridge; ele discute o ofício do escritor, seus motivos, suas consequências, suas escolhas, sua posição diante destas escolhas, levando em conta aspectos que sempre envolvem esta atividade, como vocação, profissão, fonte de renda e arte. Está mais para conversa despretensiosa entre escritores nos fundos escuros e etílicos de um boteco enfumaçado, do que para um tratado de dicas ou uma oficina literária com ideias programadas e estilos embotadamente calculados. O livro não foca a mesmice do desmembramento da ficção, explicando teoricamente os pontos funcionais numa narrativa, ao contrário: mira seu facho inquiridor de luz quente sobre quem cria essa narrativa, tentando enxergar em cada gota de suor do suspeito (todo escritor é suspeito de alguma coisa, senão não escreveria) seus motivos para aquele ato incomum: escrever. Um crime? Se escrever for um crime, que a Arte nos absolva! Atwood busca respostas, justificativas para esta arte específica e a primeira pergunta soa como o maior clichê da história da literatura: por que você escreve? Vou deixar a pergunta queimar os neurônios de quem precisa das razões. Margaret compilou várias respostas a esta pergunta e conseguiu encher duas páginas com elas, e explica: […] todas são genuínas e não há nada que impeça um escritor de se sentir impelido por várias delas ou até por todas ao mesmo tempo. Foram extraídas de afirmações de escritores – recolhidas em fontes duvidosas, como entrevistas a jornais e autobiografias, mas também gravadas ao vivo em conversas de fundo de livraria antes das temidas sessões de autógrafos coletivas, ou entre um lanche rápido de hambúrgueres e tapas em bares baratos e outros antros frequentados por escritores […]; mas foram também extraídas de palavras de escritores ficcionais… Quer ler a lista de respostas compilada pela escritora? Então volte aqui no dia 15, segunda-feira, quando transcreverei tais respostas e darei seguimento ao assunto do livro até o fim do mês de novembro. Enquanto espera, você que escreve literatura, prosa ou poesia, sem importar para quem, e caiu nesta página por algum motivo, responda: por que você escreve? A resposta mais original (veja bem, original, não bonita) ganhará um exemplar de “Negociando com os Mortos”, cortesia da Editora Rocco. Nota: como as respostas estarão visíveis a todos os leitores desta página, fica combinado que só vale uma resposta por pessoa, então seja criativo antes de esperar pelo primeiro comentário! Cabe a mim a escolha da razão mais original, sopesando apenas isso, originalidade, não seu autor, conhecido ou não por mim, e ela será publicada no próximo artigo com a lista de Margaret.