Luiz Carlos Garrocho By Rafael Reinehr / Share 0 Tweet “Devemos, em primeiro lugar, tentar reunir alguns dos traços que a abordagem do espaço literário permitiu-nos reconhecer. Aí, a palavra não é um poder, não é o poder de dizer. Não está disponível, de nada dispomos dela. Nunca é a linguagem que eu falo. Nela, jamais falo, jamais me dirijo a ti e jamais te […] Imagem de Tomas Rotger “Devemos, em primeiro lugar, tentar reunir alguns dos traços que a abordagem do espaço literário permitiu-nos reconhecer. Aí, a palavra não é um poder, não é o poder de dizer. Não está disponível, de nada dispomos dela. Nunca é a linguagem que eu falo. Nela, jamais falo, jamais me dirijo a ti e jamais te interpelo. Todos esses traços são de forma negativa. Mas essa negação somente mascara o fato mais essencial de que, nessa linguagem, tudo retorna à afirmação, que o que nega nela afirma-se. É que ela fala como ausência. Onde não fala, já fala: quando cessa, persevera. Não é silenciosa porque, precisamente, o silêncio fala-se nela. O próprio da fala habitual é que ouví-la faz parte de sua natureza. Mas, nesse ponto do espaço literário, a linguagem é sem se ouvir. Daí o risco da função poética. O poeta é aquele que ouve uma linguagem sem entendimento. Isso fala, mas sem começo. Isso diz, mas isso não remete a algo a dizer, a algo de silencioso que o garantiria como seu sentido. Quando a neutralidade fala, somente aquele que lhe impõe silêncio prepara as condições do entendimento e, no entanto, o que há para entender é essa fala neutra, o que sempre já foi dito, não pode deixar de dizer se dizer e não pode ser ouvido, entendido. Essa fala é essencialmente errante, estando sempre fora de si mesma. Ela designa o de fora infinitamente distendido que substitui a intimidade da fala. Assemelha-se ao eco, quando o eco não diz apenas em voz alta o que é primeiramente murmurado mas confunde-se com a imensidade sussurrante, é o silêncio convertido no espaço repercutente, o lado de fora de toda a fala. ” Maurice Blanchot, O espaço literário. Tradução de Alvaro Cabral. Rio de Janeiro: Rocco Editora, 1987 Mais referências: Blanchot: Pensar a força Site Maurice Blanchot (e seus contemporâneos) – em francês Espace Maurice Blanchot – em francês e espanhol Espaço Maurice Blanchot – português Apenas Blanchot! – Organizadores: André Queiroz, Luiza Alvim, Nilson Oliveira. Editora: Pazulim. 2008. Faperj Enigmatic French writer committed to the virtues of silence and abstraction. The Guardian. Obctuary LEVY, Tatiana Salem. A experiência do fora: Blanchot, Foucault e Deleuze. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003 Imagem: Tomas Rotger Leia no blog de origem: Olho-de-Corvo » um blog de Luiz Carlos Garrocho