O Quênia, Bhutto e a correspondência internacional no Brasil

O mundo cada vez mais globalizado, ferramentas de interatividade e comunicações cada vez mais alcançáveis e potentes e agências de notícias cada vez mais poderosas podem dar, no Brasil, um fim na boa função de correspondente internacional.

O mundo cada vez mais globalizado, ferramentas de interatividade e comunicação cada vez mais alcançáveis e potentes e agências de notícias cada vez mais poderosas podem dar, no Brasil, um fim na boa função de correspondente internacional. Ainda existem aqueles que estão sempre fora do Brasil, como Marcos Losekann, Sônia Bridi ou Jorge Pontual, que estão sempre fora mas nunca num único país.

Mas porque é preciso ficar mais tempo? Será que um ano, dois que sejam é tempo suficiente para conhecer os conflitos históricos, a cultura e o pensamento político de um país? Este tempo é justamente o período de amadurecimento do correspondente, quando seu texto/matérias estão no auge são transferidos. Existe uma diferença muito grande entre escrever notícias "do-para" seu próprio país e produzir matérias para seu país sobre o país d´outros. É preciso que o receptor, nós brasileiros, tenhamos o contexto completo da situação para entender a notícia de uma forma aproveitável.

Quênia e Bhutto

Dois episódios recentes mostram a falência da correspondência internacional do nosso país: a morte da ex-premiê do Paquistão, Benazir Bhutto e os conflitos políticos no Quênia. O primeiro exemplo mostra a qualidade e a força das agências de notícias como a Reuters, que pautaram os muitos jornais impressos do país, com imagens iguais e textos recozidos. Já as mídias televisivas e internet mostram a interatividade destas agências com um pouco de correspondência internacional, imagens recentes e de arquivo de toda a família Bhutto e, principalmente a Globo, fez uma boa contextualização do "episódio mais sombrio da história do Paquistão".

O segundo exemplo, dos conflitos políticos no Quênia mostram dois pontos a serem refletidos: a falta de contextualização sobre o conflito, já que muitas matérias apenas abordavam o incêndio brutal numa igreja em Nairóbi e somente depois, quando os conflitos tomaram uma dimensão maior, a grande imprensa contextualizou o assunto, mas de forma tímida, acredito, mas não posso também ficar no "achismo", que este episódo do Quênia mereça uma atenção maior.

O segundo ponto é ainda mais importante. Nossos correspondentes estão nos lugares certos? Não, não estão. Os Estados Unidos aos poucos perdem a sua potência econômica e cedem espaços para os países asiáticos. Nossos correspondentes ainda estão presos em Nova Iorque, Londres e raramente em algum país do Oriente Médio. O Oriente tão desconhecido para nós ocidentais não ganhou a merecida atenção da mídia. Enquanto o jornalismo o esquece, os orientais elevam-se econômicamente.

As entradas dos correspondentes nos jornais televisivos brasileiros, sobre a morte de Bhutto mostra que nossa correspondência internacional reproduz correspondência. "Marcos Losekann, de Londres, para o Jornal Nacional". "Sônia Bridi, de Nova Iorque, para o Jornal Hoje". Nenhum dos nossos correspondentes estavam em algum país da região.

Isso é ruim para o leitor-telespectador, isso é ruim para o jornalismo brasileiro, que às vésperas de comemorar seu bi-centenário em terras canarinhas, vai no mesmo barco de experiências que não deram certo…

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Marvin Kennedy