Remoto Controle By Luiz Biajoni / Share 0 Tweet O filme preferido de um amigo meu é "A Morte do Demônio", do Sam Raimi. Ele não passa um mês sem rever o filme. É quase uma religião, para ele. Ele joga no lixo qualquer Resnais ou Antonioni por esse filmeco. Ele o ama; é um amor legítimo. Mas esse meu amigo não é um idiota, ele gosta e conhece cinema. Se perguntarem para ele qual o melhor filme de todos os tempos ele vai responder com outra pergunta: para mim ou para a história do cinema? O filme preferido de um amigo meu é "A Morte do Demônio", do Sam Raimi. Ele não passa um mês sem rever o filme. É quase uma religião, para ele. Ele joga no lixo qualquer Resnais ou Antonioni por esse filmeco. Ele o ama; é um amor legítimo. Mas esse meu amigo não é um idiota, ele gosta e conhece cinema. Se perguntarem para ele qual o melhor filme de todos os tempos ele vai responder com outra pergunta: para mim ou para a história do cinema? Para ele, o melhor filme de todos os tempos é "A Morte do Demônio". Para a história do cinema, segundo ele, o filme do Raimi entraria em sétimo ou oitavo lugar na lista, depois de Welles, Einsenstein, Hitchcock, Chaplin, Kubrick e Sergio Leone. Esse é um grande problema de listas. As pessoas confundem o seu gosto próprio — que deve se confundir com sua personalidade — com a importância que acreditam ver em algumas obras. Por serem grandes filmes, é comum que clássicos acabem sendo filmes preferidos de algumas pessoas. Assim, pode ser que muita gente ame "Cidadão Kane" da mesma maneira que meu amigo ama "A Morte do Demônio". Mas não acredito, piamente, que outros filmes que frequentam continuamente as listas, como "O Encouraçado Potemkim" ou "O Gabinete do Doutor Caligari" correspodam ao amor que talvez alguém possa ter por eles. Assim como acredito que muita gente que cita esses dois e outros filmes tenha, de fato, assistido-os. São filmes que ganharam certa aura de realmente ótimos. Entendo se uma garota toda de negro, neo-gótica, abraçar o "Nosferatu" de Murnau e andar com uma cópia debaixo do braço por semanas. Mas acho que seria uma coisa de emo de ocasião. O que quero dizer é que é muito difícil fazer uma lista dos melhores filmes da história do cinema sem fugir dos clichês, sem sair muito da lista dos 1.000 melhores filmes já feitos, publicada pelo NY Times. O que me interessa, de fato!, é a lista que alguém possa ter dos seus filmes afetivamente preferidos. Uma lista que possa ser encabeçada por "A Morte do Demônio", por exemplo. Ou por "O Fantasma do Paraíso", primeiro filme de Brian DePalma, que encabeça a minha lista de preferidos – e sobre o qual eu falar aqui, no próximo texto. Sejam todos bem-vindo à esse diário afetivo-visual.