Paul Klee

Hoje não vou tecer teorias, nem levantar nenhuma questão. Vou apenas tratar de um dos meus artistas favoritos, o sujeito que pintou esse peixinho dourado que ilustra o cabeçalho da coluna: Paul Klee.

Poucos artistas foram tão livres quanto Paul Klee, talvez nenhum. Poucos tiveram uma trajetória tão coerente. Seu desenvolvimento foi lento e gradual. Graças à publicação dos seus diários é possível acompanhar o modo como ele enfrentava os problemas estéticos que se apresentavam. Era metódico, lúcido e disciplinado.
Durante anos Klee esteve dividido entre a música e a pintura, e é possível perceber a influência desse conhecimento musical em seus trabalhos. Um tema principal, simples ou sofisticado, e suas variações cromáticas e tonais, como em “Estrada Principal e Estradas Secundárias” e “Alvo Atingido”; ou algo como uma banda de jazz: baixo, piano e bateria construindo uma base sólida para que o sax, soprano ou tenor, flutue livre sobre eles, como em “Flora sobre a Rocha”.
Gosto de Klee desde criança: achava suas pinturas divertidas, bem como os títulos das obras: “Medidor Reagente Magnético para Senhoras”, “Espírito Rígido em Movimento", “Os Policiais Perturbados”, e por aí vai. Gostava particularmente do “Senecio”. Ficava olhando para aquela figura e imaginando o que poderia ser, qual era sua história, de onde vinha, no que estaria pensando.
Klee nunca deixou a biografia confundir-se com sua obra (confusão, aliás, que considerava um grande equívoco), nem mesmo durante a Primeira Guerra, quando foi convocado para prestar serviços burocráticos, além de ter passado por alguns apuros durante a sua vida. Nunca se vê isso em sua obra. Não que fosse uma espécie de Poliana, mas considerava que a arte não é transcrição de sentimentos ou de emoções.
O que sempre me chamou a atenção em seu trabalho é o papel preponderante da imaginação. É nesse sentido que considero Paul Klee um artista absolutamente livre: sua imaginação não tem limites, parte de certo ponto e desenvolve a idéia sugerida, percorre os caminhos que se abrem, usa a cor, a tonalidade, linhas, símbolos, tudo o que possa lhe ocorrer, e tudo isso num contexto novo, inusitado. Graças à intensidade e foco que sempre colocou em seu trabalho, ele criou um universo próprio, rico, inventivo, lúdico. “A arte não reproduz o visível, mas torna visível”, é uma das suas frases mais conhecidas, e sintetiza maravilhosamente bem seu trabalho.
Melhor do que ler a respeito é ver seu trabalho. Deixo aqui alguns endereços onde se pode fazê-lo:

The Athenaeum

World Visit Guide

Philadelphia Museum of Art

MoMa

Metropolitan Museum of Art

About the author

Marcos Schmidt

Marcos Schmidt é designer gráfico e ilustrador. Vive e trabalha na irremediável cidade de São Paulo.