Rotas Alteradas By Afonso Henrique Oliveira Félix / Share 0 Tweet O Baú do tesouro Eu não sei se algum de vocês teve a chance de encontrar um dia um baú do tesouro. Eu encontrei, há muitos anos atrás, e não estava enterrado. Minha mãe se mudara naquela época para um apartamento que pertencera a meu tio Olmiro. Neste apartamento tinha um roupeiro embutido onde ficaram guardados diversos objetos que eles não queriam mais, alguns pincéis e estudos de pintura que meu tio tinha em seu atelier, pois tinha o hobby de pintar durante toda a sua vida. Mas na parte superior do roupeiro foi que encontrei aquela caixa que tinha um dos maiores tesouros que encontrei na minha vida, embora não tenha tido consciência na época: Uma caixa com uns 10 discos de vinil, e entre eles um LP da obra LIBERTANGO, de Astor Piazzolla. Eu tinha uns 20 anos na época, e tinha ouvido no máximo algumas propagandas na televisão tocando alguma música de Piazzolla, que eu achava que era apenas um outro “tanghero” da Argentina. E nem mesmo pelo tango eu tinha alguma atração na época. Nos dias seguintes coloquei aquele disco para tocar várias vezes, e fui ficando cada vez mais apaixonado pela obra deste grande mestre da música do século XX. Este disco é de uma fase em que Piazzolla estava morando na Itália, nos anos 70, pois era o local onde ele encontrou terreno fértil para praticar a sua música que, apesar de ser muito ligada ao tango, por causa do bandoneon, tinha estruturas muito complexas, relacionadas com o jazz, e tinha passado por diversos “altos e baixos” na Argentina, seu país de origem. Libertango é talvez um dos trabalhos em que Piazzolla mais se afastou da estrutura tradicional de “Orquestra típica” de tango. Seu conjunto Italiano contava com a presença ilustre de uma guitarra elétrica e bateria, além de flauta, piano, violino, contra-baixo acústico e, é claro, seu leading bandoneon. No entanto, neste disco, ele fez uma regravação, com este conjunto, de sua obra-prima “Adios nonino”, que para mim é a versão definitiva, ou aquela que deveria ter sido a primeira. Na Itália, nos anos 70, Piazzolla esteve muito ligado a músicos da cena do Jazz e do Rock Progressivo Italiano, que era uma cena muito forte na época. E o disco Libertango respira uma jovialidade e uma coragem de experimentar sonoridades, como por exemplo a presença da bateria marcante em diversas das músicas Piazzolla havia sido rechaçado em seu país de origem, a Argentina, em diversos momentos por causa da mexida que suas experimentações faziam nas estruturas do tango tradicional, deixando de cabelos em pé os seus conterrâneos. Nesta época dos anos 70, as novas gerações já haviam se rendido ao tom contemporâneo da sua música, e Piazzolla já tinha inclusive feito apresentações no Teatro Colón, o templo mais sagrado do tango em BsAs, com lotação esgotada. Mas mesmo assim, viver dependendo da música na Argentina não era possível, e Piazzolla mudou-se para a Itália onde tinha um cenário mais interessante e livre para ele atuar e compor sem pressões ou concessões ao tango tradicional. Libertango é para mim a obra mais impressionante de Piazzolla, e um dos discos mais imprescindíveis da história da música, o tesouro que encontrei numa tarde qualquer e que me vale através da vida inteira. Se você quer conhecer um pouco da obra de Piazzolla acesse o site Piazzolla.org, um portal que reúne tudo, simplesmente tudo que existe sobre piazzolla na internet. www.piazzolla.org Enjoy It! : )