Um pouco de luz By Ricardo Montero / Share 0 Tweet Difícil precisar a data da transição, mas em 2008 constata-se: antes regra, a fotografia por processo físico-químico é hoje exceção, executada apenas por apaixonados ou teimosos. O sistema digital não apenas ocupou este lugar, mas também ampliou o alcance da fotografia: numericamente, as câmeras fotográficas, “puras” ou combinadas com outros aparelhos, nunca foram tão populares. Difícil precisar a data da transição, mas em 2008 constata-se: antes regra, a fotografia por processo físico-químico é hoje exceção, executada apenas por apaixonados ou teimosos. O sistema digital não apenas ocupou este lugar, mas também ampliou o alcance da fotografia: numericamente, as câmeras fotográficas, “puras” ou combinadas com outros aparelhos, nunca foram tão populares. A tecnologia digital nem é tão recente; por exemplo, a primeira Sony Mavica data de 1981. Porém, a popularização do sistema digital só ocorreu quando as câmeras atingiram parâmetros mínimos de qualidade de imagem por um preço razoável. Lembro-me bem de minha primeira digital: uma Casio QV10, com sensor de meros 77 mil pixels (menos de 0,1 megapixel). Pouco mais que um brinquedo, pois sua resolução de 240 por 320 pixels se prestava apenas a fotos três por quatro. Porém, naquele já longínquo ano de 1996, a camerazinha fazia sucesso pelo ineditismo: o então estranho enquadramento pelo visor de cristal líquido, o silêncio absoluto do obturador eletrônico (o que permitia fotos sem ser notado), a possibilidade de visualização imediata das fotos. E, ao menos para mim, muita diversão com a posterior edição e montagem das fotos em computador. Hoje, algumas câmeras de celulares atingem 5 megapixels, e raras as compactas que oferecem menos que 7 “megas”. Impressionante, tanto mais se pensarmos que 2 megapixels são suficientes para excelente qualidade de impressão em 10 por 15 centímetros. E, ao que parece, a resolução ainda continuará crescente nos modelos de todas as faixas de mercado. A arte da previsão por vezes nos leva a cometer terríveis furos. Certa vez, vi em uma revista portuguesa dos anos 50 as projeções para um ônibus – a ser construído em 20 anos – movido por energia nuclear! Jamais faria previsões tão bombásticas, mas ainda assim me arriscarei em algumas projeções. Câmeras em celulares e handhelds: após a banalização das câmeras integradas, a tendência é o incremento de funções e da qualidade de imagem. Espero maior resolução dos sensores, variados recursos típicos das compactas, popularização dos flashes e integração maior das câmeras com os aparelhos em que estas encontram-se inseridas. Por limitação de espaço físico, não espero lentes zoom muito potentes ou qualidade de imagem melhor que a das câmeras compactas mais simples. Câmeras compactas: recursos como edição na própria câmera, estabilização de imagem e detecção de faces/sorrisos/piscadas terão popularidade crescente. A crescente difusão da TV de alta definição implicará em incremento na qualidade dessas câmeras como filmadoras. A insana batalha dos fabricantes em torno da resolução dos sensores ainda mostra fôlego. Para o futuro, em data ainda incerta, os sensores das compactas apresentarão menores níveis de ruído e serão capazes de trabalhar em ISOs muito elevados, acima do valor 3200. Sistemas de GPS integrado e transmissão wireless das fotos são tecnologias bastante prováveis a médio ou longo prazo. Câmeras SLR: a resolução dos sensores destes modelos continua em ascensão. Dentro de limites, as SLRs básicas ainda podem continuar a trajetória descendente de preços; afinal, com modelos na faixa dos U$500, já não há tanto custo para cortar. Por sinal, acredito que exista espaço para simplificação de recursos em prol do barateamento – afinal, as atuais SLRs básicas são modelos bastante sofisticados. Tecnologias de auto-limpeza do sensor, de live view (enquadramento pelo monitor LCD) e de estabilização de imagens já são universais. Depois do live view, é provável que as futuras SLR desenvolvam a inédita capacidade de fazer filmes. Em breve, serão mais acessíveis e populares os ainda caros modelos com sensores de quadro integral (full frame). Os valores máximos de ISO devem aumentar, atingindo cinco dígitos. GPS integrado e transmissão wireless devem se popularizar antes entre as SLRs do que nas compactas. Para Canon e Nikon, que não adotaram estabilização de imagem no corpo da câmera, é provável que todos os novos lançamentos de lentes incluam estabilização – o que, diga-se de passagem, é uma solução melhor e mais cara. Existe espaço também para firmwares (programas que controlam a câmera) mais sofisticados, no sentido de oferecer maior quantidade de parâmetros de regulagem e maior personalização do funcionamento da câmera em acordo com as necessidades do usuário. Câmeras de médio formato: trata-se de segmento de uso estritamente profissional, com modelos caríssimos. Por exemplo, uma Hasselblad H3DII-39 custa, nos Estados Unidos, a bagatela de 34 mil dólares! Até por isso, as inovações tecnológicas são mais constantes entre as SLRs do que nessas câmeras que visam primordialmente a excelência da qualidade de imagem. Acredito que os grandes players em SLR – Canon, Nikon, Pentax-Samsung, Sony – poderão eventualmente se interessar por este nicho de mercado, tão pequeno quanto prestigiado, o que possibilitaria a criação de modelos com preços menos inacessíveis. Previsões e especulações à parte, estou certo de que os amantes da fotografia analógica, com seus filmes e cromos, manterão viva esta arte em um nicho bastante específico, sem grandes progressos tecnológicos em relação ao que hoje existe. Em contraste, para os apreciadores da fotografia digital, as novidades acontecerão em ritmo acelerado ainda por bastante tempo. O futuro é brilhante!