Um pouco de luz By Ricardo Montero / Share 0 Tweet O fotógrafo Marcos Piffer faz o relançamento de Santos – Roteiro Lírico e Poético, originalmente publicado em 1997. Idealizado na época como livro com imagens da cidade, este Roteiro Lírico e Poético é hoje um documento histórico do quanto Santos mudou em apenas uma década. Enquanto lecionava na Parson School for Design, de Nova York, o célebre fotógrafo brasileiro Otto Stupakoff pedia aos alunos: "Não vejam livros de fotografia! Fotógrafo deve ler muito. Ir muito ao cinema, ver pinturas e escutar muita música. Tudo menos livros de foto." Permito-me discordar do Otto. Ainda que sob o risco, por vezes inconsciente, de sofrer influência do olhar alheio, conhecer o trabalho dos outros fotógrafos é fundamental para a formação de uma cultura fotográfica. Ademais, é atividade das mais prazerosas a observação dos resultados obtidos pelos grandes profissionais da fotografia. Faço essas considerações para justificar a minha intenção de escrever sobre ótimos livros de fotografia. O primeiro trabalho que aqui comento é o há pouco relançado Santos – Roteiro Lírico e Poético. Originalmente publicado em 1997, seu autor é um conterrâneo meu, o santista Marcos Piffer. Arquiteto de formação, Piffer começou a se interessar mais profundamente por fotografia na época da faculdade. Talvez não por acaso, um de seus professores era o também fotógrafo e arquiteto Cristiano Mascaro, que neste livro assina texto introdutório. O apuro estético do artista se mostra não apenas em marinhas atemporais, mas também nas paisagens urbanas, nas imagens arquitetônicas e nos retratos dos trabalhadores portuários em atividade. Interessante também observar as fotos da não muito conhecida parte continental de Santos, pouco habitada e separada da zona urbana pelo mar. Idealizado na época como livro com imagens da cidade, este Roteiro Lírico e Poético é hoje mais que uma coletânea de belas imagens de uma cidade que se espreme entre dois pólos igualmente fotogênicos, a praia e o porto; trata-se também de um testemunho do quanto Santos mudou em apenas uma década. Ficam eternizados o prédio do Clube XV (demolido para a construção de um hotel), a venda de frutas na subida do morro (não existe mais), os jardins da praia sem a atual ciclovia. Adicionalmente, em belo texto, o fotógrafo protesta quanto a mudanças que comprometem o futuro de uma cidade que anseia por um maior progresso: a liberação do gabarito para edifícios de 30 andares (adensando ainda mais a cidade e comprometendo a ventilação e a circulação humana), a substituição dos tradicionais paralelepípedos por asfalto (sem um maior debate quanto a questões estéticas, históricas ou mesmo de drenagem) e o descuido com a arborização (o quase corte dos chapéus-de-sol da orla). Para esta caprichada reedição, o fotógrafo acrescentou 15 imagens inéditas, todas elas contemporâneas às da edição original. Piffer, que conta com trabalhos publicados na National Geographic, BBC Magazine e Private Brokers, continua residindo em Santos e atualmente se dedica a dois novos projetos: Coffea, com lançamento previsto para maio de 2008, e O Brasil pelos Céus do Brasil.
