O exterminador de empregos

No artigo 7º – XXVII, da Constituição Federal brasileira, consta que é dever do Estado proteger o trabalhador contra o processo de automatização da indústria. Se deixarmos as máquinas assumirem tarefas realizadas por seres humanos, o que será destes trabalhadores? Mais ainda, se os empregos são roubados pelas temíveis máquinas,  consumidores perdem seu poder de compra. O que seria da economia?

 
Pensando assim, seria economicamente imprudente permitir a automatização desenfreada da indústria. Será? 
 
Automatizar a produção tem sido extremamente lucrativo para qualquer empresa.  É muito mais barato, já que máquinas não recebem salários, nem fundo de garantia ou plano de saúde (a não ser alguma manutenção de tempos em tempos).  Também não precisam dormir, não tem mau humor, oscilações emocionais, desatenção e especialmente, trabalham muito melhor do que nós.
 
 
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No quadro acima fica muito claro que observando este processo desde a Revolução Industrial, quanto mais máquinas trabalham, mais produzimos. Ou, quanto menos os seres humanos trabalham, mais produzimos. Mas existe uma função nesta história na qual não podem nos substituir. Somos os consumidores! Precisamos manter a economia girando, o consumo cíclico ativo e pra isso precisamos trocar nossa mãodeobra por dinheiro.  E aqui está a grande contradição: a tendência indica que seguiremos aumentando nossa produção enquanto que, de forma inversamente proporcional, diminui nossa capacidade de consumo. Ou errei na matemática?  
 
A Organização Internacional do Trabalho, em seu relatório anual ‘Tendências Mundiais de Emprego’, afirma que o número de desempregados no mundo chegou a cerca de 212 milhões em 2009 na sequência de um aumento sem precedentes de 34 milhões de trabalhadores, comparado com 2007. A forma como chegam a estes números são questionáveis, mas o principal a se analisar aqui é a tendência que percebemos. O relatório também relata que o número de jovens desempregados no mundo aumentou em 10,2 milhões em 2009, o maior aumento registrado desde 1991.”
 
É comum argumentarem que, conforme as empresas automatizam e o custo de produção diminui, também diminuem os preços dos produtos, anulando assim o efeito do desemprego tecnológico na economia. Mas esquecem que o que leva a empresa a automatizar é a possibilidade de ter um custo de produção menor sem abaixar os preços, o que é muito mais  lucrativo. Na selva do livre mercado, há uma "seleção natural"  das empresas que obtêm maior lucro, portanto mais competitivas, e as que não seguem o padrão do mercado, invariavelmente têm de fechar as portas.
 
Seja no capitalismo, socialismo ou qualquer outra variação, o problema segue o mesmo. O “monetarismo”, por assim dizer, simplesmente não comporta os avanços técnicos a que chegou a humanidade, esteja esta produção nas mãos do Estado ou da iniciativa privada. O trabalho como fonte de renda para obtenção dos bens de consumo e recursos em geral não permite, em nenhuma economia, que a automatização trabalhe a favor da humanidade. É puramente uma questão de lógica, matemática. Nenhuma indústria pode dar-se o luxo de não aplicar essa substituição, nem a sociedade tem condições de regressar a um modelo antigo que não daria conta de manter um alto padrão de vida aos quase sete bilhões de seres humanos. Demore dez ou cinquenta anos, não vamos nem podemos impedir este processo, e esperar que os postos de trabalho tornem-se cada vez mais escassos para pensar em uma alternativa não parece uma boa ideia
 
Há poucas centenas de anos, a agricultura consumia toda nossa força de trabalho, até as máquinas tomarem conta de praticamente todo o processo. Então fomos trabalhar nas fábricas, até as máquinas tomarem conta de praticamente todo o processo. Hoje a força de trabalho concentra-se no setor terciário (ou de prestação de serviços). Mas até quando? Estamos tão distantes de repetir a mesma explicação dos dois primeiros casos? 
 
Dos caixas eletrônicos até restaurantes já completamente automatizados, não há uma área sequer em que este processo não esteja acontecendo, e diferentemente das outras vezes, agora não há um quarto setor emergindo para compensar as ocupações do setor terciário extintas pelo fenômeno.
 
Para ilustrar, dois vídeos chamados ‘’Nossa realidade tecnológica pt1" e "Nossa realidade tecnológica pt2".
 
Além disso, com o advento da inteligência artificial (a chamada "singularidade"), veremos a automatização dos chamados "trabalhos intelectuais ou criativos", acabando de vez com o mercado de trabalho.
 
A tendência é clara, mas dentro da nossa estrutura, os resultados não são positivos como poderiam e deveriam ser. Precisamos reorganizar nossa sociedade para comportar estes avanços, de modo a não mais vermos a evolução tecnológica como algo de que o Estado deva nos proteger, mas como um auxílio fundamental na construção de uma nova sociedade e um novo paradigma para a humanidade. Automatizar para humanizar, ainda que soe contraditório.  
 
Se entendemos a tecnologia como uma extensão das habilidades humanas, precisamos tê-la ao nosso lado, aliviando-nos de trabalhos maçantes e repetitivos, possibilitando-nos gerar abundância para atender a todos os habitantes deste planeta e libertando o ser humano para atividades muito mais interessantes e prazerosas.
 
E o que faríamos se não tivermos que trabalhar para viver? Qual seria a motivação do ser humano? Num próximo artigo, em breve.
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Bruno Martis