Sem Açúcar By Patrícia Louzada dos Anjos / Share 0 Tweet Caravela-portuguesa Ou: O cinema! O cinema! Esta coluna reúne pensamentos, reflexões,entrevistas e anotações diversas. É a continuidade de um trabalho iniciado no O Pensador Selvagem há alguns anos. Este é um texto de reapresentação e de reestreia. Bem-vindos! Imagens fílmicas são articulações narrativas, onde os primeiros minutos são os mais intensos e reveladores sobre como se dará nosso processo de envolvimento com a estória apresentada. Micrometragens, curtas, médias ou longas apresentam oceanos narrativos a serem explorados pelo espectador dentro dos limites da narrativa. Nessas águas quentes a personagem paira como uma caravela-portuguesa, uma Physalia physalis. Exótica, se move conforme as determinações do vento narrador, encarnado na figura das equipes responsáveis pela execução da obra fílmica. As personagens são conjuntos, módulos cooperativos compostos por fragmentos diversos, tais como história prévia, sociedade em que se insere, tempo, traumas, limitações, sonhos, ou qualquer outra característica que as façam verossímeis, inclusive personagens documentais. Estas peculiares caravelas-portuguesas, sempre de beleza ímpar, timidamente perigosas, atraentes, e com grandes e surpreendentes tentáculos submersos, são a dinâmica da narrativa. Estas personagens, em meio a imensidão cinematográfica, guiam o filme discreta ou indiscretamente, modulam todos os oceanos ao seu redor de forma diversa. Todo contexto e camada em que elas se fazem, cada detalhe de um ambiente de essência hostil, modela individualmente a personagem/caravela-portuguesa, e fazem os oceanos fílmicos sedutores ao espectador. Turbilhões aparentemente serenos tocarão em linhas de relação com nosso próprio tempo e nossa história, dialogarão com nossas experiências e nossas experiências colaterais, nosso souvenir. Souvenir, ou lembrança, memória, que nos convida de modo a potencializar a narrativa a nós exposta. Camadas profundas dos oceanos do cinema, sempre frescas, com variados regimes sensoriais, com diversos modos de ver e sentir. Obras que mobilizam conjuntos complexos de encadeamento sígnico. Algumas tentam se colocar como emancipadoras, com regimes de relação passiva e ativa, que articulam o dizer, o ver e o pensar, outras vão por caminhos distintos, ou excessivamente opostos. Todas aqui serão constantemente exploradas, debatidas e admiradas, a fim de compreendê-las dentro de seus diversos meios e relações, tendo sempre a personagem como discreto e essencial propulsor. Desenvolveremos a cada quinzena, uma conversa distinta sobre as diversas camadas do cinema. Espero você no próximo embarque. A função do crítico perante a obra de arte, segundo André Bazin