Sobre o roteiro cinematográfico – Parte Primeira: “Uma ideia e um coelho”

 

Para debatermos melhor o processo de produção de um roteiro cinematográfico, dividimos nosso texto em partes e temas específicos.

 

Segue a primeira parte:

 

Sobre o roteiro cinematográfico – Parte Primeira: “Uma ideia e um coelho”

 

Teoricamente, um bom filme deriva de um bom roteiro, nascido de uma boa ideia. Mas, porém, todavia, contudo, fazer cinema não é um processo matemático, é uma cadeia lógica, técnica, e seu resultado final não é previsível e, muito menos, calculável.

Escrever sem ter medo do que se é, ter o mundo como fonte inesgotável, como alimento para nossas produções diversas. De um ponto nasce uma ideia que se propaga em letras, palavras, sentenças. Agora, como estendê-las em imagens? Mais que sussurros do mundo, muitos roteiristas, especialmente alguns estreantes, esperam retirar da cartola um coelho grande e criativo, único e filmável. Manuais diversos se espalham pela internet, sítios (sites), textos, livros, palestras, debates, conferências refletem sobre este processo que é o nascedouro de um filme. Mas, para elaborar um roteiro, deve-se crer mais no conhecimento da técnica do que na magia pura e na ilusão.

Um aspirante a roteirista que procure um aspecto extremamente literal em suas obras, produzindo algo lindo, belo e romanceco, encontrará uma palavra simples, que pode barrar seu roteiro: inexecutável.

Uma ideia boa não faz um bom filme, ela sustenta todas obras de qualidade, porém não é seu único alicerce. O ponto inicial se recria através, e a partir, da ideia central, que, bem trabalhada, desenvolvida e desenhada, cria uma determinada história que será pensada, repensada e trilhada pelo roteirista, que conduzirá seu trabalho para a equipe responsável pela produção e pós produção do filme. Este, que dantes existia apenas no papel, prepara-se para envolver cada uma de suas amarras às tarefas da equipe de produção, aos olhos dos diretores, ao trabalho dos atores, aos detalhes do cinematógrafista, enfim, passará por diversas mãos, horários, escalas e prazos.

Para que seu conto sera realmente transcrito em imagens, deve ser visto como, além de um processo criativo, um trabalho técnico.

Desenhar e imaginar o encantamento imagético e sonoro, possuir o conhecimento de todo o processo cinematográfico, ter critérios e bom senso é que faz a magia acontecer.

Onde realmente vão parar aquelas páginas? Em que irão se transformar os detalhes descritos por mim?

Você observa o mundo, recolhe materiais de pesquisa, se tranca em universos diversos a cada escrita, revisa, repassa, transforma, passa sua produção textual-técnica para frente. Se o resultado é fidedigno ao que você pretendia, é outra história.

E, além do conhecimento do processo técnico, onde entra a poética inspiração? Ah, a inspiração é algo que vê como casável com a criatividade e o suor. Esquece-se de que, para tê-los a seu favor, deve-se sim compreender a significação de cada um desses termos. O que é inspiração? Como a encontro? Criatividade é um conceito palpável? Onde e com quem ela está? Suor se dá em que processo da pesquisa? Cada um terá uma resposta diversa, mas buscá-la é essencial.

Refletir sobre sua produção escrita, entendendo seu encadeamento lógico e executável, saber o que se faz e para quem, são os caminhos óbvios do “como?”.

Podemos um dia tirar o coelho da cartola, quem sabe, podemos contar até com a sorte, mas nenhuma delas se fará útil sem uma real compreensão de como o contexto da magia de faz e como o universo cinematográfico se dá.

Muitas são as obras escritas com uma elaboração crível e executável, casando com uma construção crítica da ideia inicial, compreendendo o processo de produção e construção da magia cinematográfica, prontas para serem retiradas da cartola e estregues para a filmagem. Porém, muitas faltam retornar devagar onde tudo começou, repensar onde e como aquilo foi parar onde está, repensar como aquilo se desenvolveu daquele modo, dominando para onde aponta e por que aponta em determinadas direções.

Mais que desenvolver uma história, deve-se trabalhá-la direcionada à execução, tenha esta palavra a conotação que tiver.

 

Na próxima, iremos conversar um pouco sobre como a memória entra no processo criativo e qual sua relação com o “fazer diferente”. Até lá.

 

 

About the author

Patrícia Louzada dos Anjos

Com planos irrealizáveis desde 1983, possui o ser humano como foco central de suas atividades. É bacharel em comunicação social, com habilitação em cinema e vídeo, e especialista em comunicação digital. Escreve como vício e estuda por compulsão. Usa linux, comemorou seu casamento com um bolo de padaria e inventa estórias para sua filha comer.