O otimismo da vontade e o pessimismo da razão Uncategorized By Marlon Marques Da Silva / Share 0 Tweet Desde 1991 quando oficialmente a União Soviética acabou, os comunistas/socialistas torcem pelo fim do capitalismo – como uma espécie de prêmio de consolação. Então a cada crise econômica, bradam os socialistas que o capitalismo está caindo em contradições internas que o levarão finalmente ao fim. O que vejo é o contrário disso: vejo o capitalismo em geral cada vez mais voraz e se adaptando as vicissitudes históricas a que é exposto. Porém os socialistas verdadeiros são pouco sensatos – e explico: a discussão deles é a negação do fracasso da experiência não só soviética, mas de todo o leste europeu, se agarrando na idéia de implantar novamente o socialismo nos países. Já uma esquerda mais sensata, admitiu a derrota socialista e se engajou numa crítica ao capitalismo tal qual ele é – e não se trata de negar o capitalismo, mas de reformá-lo. E aqui nesse ponto, resgata-se uma discussão já velha: mais estado ou mais mercado (ou Keynes versus Hayek). Mercados muito livres tendem ao colapso e na mais razoável das hipóteses ao aumento das desigualdades. E é aí que entra o papel do estado – no controle e no freio da impetuosidade do mercado. Já os defensores do livre-mercado dizem que quanto mais estado atuando, mais burocracia e isso faz com que a economia perca dinâmica e no fim das contas isso é ruim apenas para os indivíduos. Eu aqui me posiciono contra os “purismos”. E explico o que quero dizer com isso. Acredito que as duas posições se levadas ao limite, nos levarão a condições de vida ruins. A crença inabalável no mercado me parece não considerar a ganância humana. O capitalista raiz não é que ele não tem moral, ele não tem é coração e em condições muito favoráveis, nada irá frear seu ímpeto. Entretanto tão pouco considero razoável a crença no estado como tábua de salvação dos problemas da sociedade. Sabemos pela experiência histórica os males de um estado super-poderoso. E eu vi essa mesma discussão nas eleições municipais de São Paulo de 2020 (claro que em um nível muito rasteiro). Arthur do Val e Joice Hasselmann (à direita) colocando o mercado como a salvação da lavoura: empreendedorismo, parcerias com empresas privadas, privatizações etc. Boulos, Jilmar Tatto e Orlando Silva (à esquerda) com um discurso de aumentar o estado, mais concursos públicos, estatizações etc. Os primeiros eu considero um liberalismo barato. Os segundos eu considero um keynesianismo de microondas. A liberdade total do mercado é uma ilusão tanto quando o aumento do déficit público como injeção econômica. E a pandemia do novocorona vírus foi a oportunidade perfeita para uma chuva de argumentos furados e desmentidos de todos os lados. Os milhões de desempregados são usados como argumento de que o mercado não se sustenta em tempos de crise. Dizem os críticos: se não fosse o estado com o auxílio emergencial o que seriam dessas pessoas? Os defensores do mercado dizem que se não fosse o estado com o lockdown, às pessoas continuariam comprando e o mercado se manteria aquecido. O fato é que o auxílio emergencial nada mais é do dinheiro de uns sendo dado a outros (sim, o estado gera pouca receita, o grosso vem dos impostos que são cobrados das pessoas e o estado só administra) – tanto é que ninguém sabe exatamente de onde o estado vai tirar mais dinheiro se a pandemia continuar sem ter que aumentar impostos. E sim, Keynes estava certo: o aumento do déficit público gera inflação mesmo (vide a situação que estamos). Entretanto, a maior de todas as falácias é: O SUS É BOM! Se o comentário fosse, se não tivéssemos o SUS a situação seria muito pior – e o número de mortos seria muito maior, OK, agora é desonesto, principalmente vindo de quem vem, dizer que o SUS é bom! NÃO, O SUS NÃO É BOM! O que me incomoda é que quem diz isso são apenas os especialistas, os comentaristas, os jornalistas e os políticos – e agora eu lhes pergunto: quantos deles já usaram o SUS na vida? Nenhum! A questão é simples: o SUS é ruim, mas foi importante na pandemia porque os leitos do sistema ajudaram na cura de muitas pessoas (mas é fato também que o SARS-Cov 2 é mais contagiante do que mortífero). E é claro que tinha que ser usado mesmo, afinal de contas, pagamos por ele não é mesmo? As pessoas pensam que só porque não sai dinheiro direto da carteira, um serviço é de graça, e não é! O SUS é apenas um reflexo dos demais serviços públicos: precisam ser oferecidos porque há uma lei que obriga, mas não são de qualidade. Até porque a CF-1988 diz que tais serviços básicos como saúde, educação, segurança, saneamento, lazer, transporte etc. devem ser oferecidos, mas no texto não há uma linha sobre sua qualidade. Aí vem um estatista insano dizer: há, mas se privatizar esses serviços teremos que pagar e nem todos tem dinheiro para isso! Mas nós já pagamos por tudo isso! De onde vem o dinheiro que paga os policias, os professores, bombeiros, médicos e enfermeiros do SUS? Quem vive a realidade sabe muito bem que o atendimento na rede pública de saúde é ruim, as pessoas são tratadas como gado e humilhadas em filas enormes. Quantas vezes não vimos imagens desumanas de pessoas em macas precárias nos corredores? E a falta de remédios? E a demora dos exames? E as filas enormes para consultas? Isso sem contar que muitos tratamentos são suspensos por falta de equipamentos e instalações adequadas. O que acontece no SUS é o que eu chamo de paradoxo da vigilância. Por que não estamos vendo reclamações do SUS atualmente? Porque como ele está no centro das atenções, os profissionais trabalham direito. No dia-a-dia das periferias da cidade (que nenhum dos candidatos se quer conhece por nome) a coisa é diferente: não há fiscalização e absurdos acontecem diariamente. O principal problema é fazer do posto de saúde uma linha de produção. São tão cheios os postos e tão poucos os médicos; que esses poucos olham pro paciente, faz duas perguntas bem mal feitas, dizem que é virose, receitam um remédio (que estará em falta) e chamam o próximo. As pessoas são atendidas as pressas e saem das consultas até piores do que entraram. Isso é qualidade? O que mais irrita na política brasileira é isso: os liberais oferecem qualidade por um preço alto e os estatistas oferecem serviços ruins a preços baixos (insisto que nada é gratuito). A defesa de um estatismo que apenas oferece o serviço mas que não se preocupa com a sua qualidade, ajuda em muito a manter aquilo que eu chamo de desigualdade de dignidade. Pois os pobres continuaram tendo serviços precários. Defender o aumento do estado só seria menos cínico se ao menos o discurso viesse acompanhado da melhoria da qualidade dos serviços prestados. Só um cego não enxerga que uma das primeiras coisas que as pessoas pobres fazem quando ascendem economicamente é contratar um convênio médico (caro), colocar os filhos em escolas privadas (caras) e comprar um carro (caro também) e por quê? Porque elas gostam de gastar muito dinheiro apenas, já que os mesmos serviços públicos tem a mesma qualidade dos privados? Óbvio que não! O mais viável é: a qualidade dos serviços privados com o preço dos serviços públicos. E dá pra fazer? Dá sim, mesmo com toda corrupção que sabemos que não vai acabar; se fossem mais inteligentes na hora de alocar os recursos, treinar e cobrar seus profissionais e adotar práticas mais eficientes, teríamos serviços melhores e isso beneficiaria os mais necessitados. Mais Cícero e Rawls e menos Adam Smith e Marx.