Panta Rhei-Poesiasofia Uncategorized By Paulo Vinícius / Share 0 Tweet Programação conflitante. É curiosa a atitude de alguns “materialistas marxistas” ou mesmo de alguns autodenominados “anarquistas” que emocionalmente se concentram em defenderem religiões e, em nome disso, muitas vezes atacam com falácias grotescas qualquer tentativa de crítica racional contra as bobagens da religião “x” ou “y”; tal atitude parece, muitas vezes, uma tentativa desesperada de tentar conquistar parcelas da classe trabalhadora, ainda mergulhadas na “visão mitológica” sobre a realidade, ou, será ainda, uma tentativa ingênua de misturar visões as quais, no campo filosófico, são opostas? Afinal um anarquista que aceita hierarquia de poder, mesmo que apenas na perspectiva metafísica religiosa, reconhecendo algum tipo de divindade, torna explícito uma incoerência na base do discurso que toma como ideal, uma incoerência que não é expressa pela realidade material com a qual o “ideal” nem sempre combina, mas, está no próprio discurso, o que é mais grave, pois, mina, já na raíz, a proposta. Talvez isso dependa da forma como a religião em questão é interpretada, mas, não há dúvida de que hierarquias de poder (seja de que tipo forem) não podem combinar com as bases de uma proposta anarquista (e, mais problemático, sendo hierarquias de poder de cunho “sagrado”), mesmo se o anarquismo for tomado como mera referência ética (e não como proposta revolucionária propriamente dita e cultuada como tal). No caso do marxismo, o “materialismo histórico dialético” combinado a uma visão teológica é algo “bem forçado”, mais ou menos como a Igreja Católica aceitando a “teoria da evolução das espécies” ou o “big bang” e dizendo que “foi Deus quem fez”. Ao contrário do marxismo o anarquismo não tem compromisso com nenhuma concepção metafísica (mesmo negando ser) explicativa “do processo de desenvolvimento dialético e histórico” das sociedades humanas. Confesso que, quando mais jovem (e, na época, ainda cristão) tentava fazer misturas conceituais tais como as mencionadas aqui, combinações sem sentido. Percebo hoje, com mais atenção, como é fácil identificar que isso é equívoco, dadas as incoerências explícitas. O sujeito precisa ter coragem de afirmar os princípios que toma como referências e pelos quais gasta energia para defender; que tente os defender de forma sincera, no mínimo; tente esclarecer para si mesmo o que “está fazendo” e no que realmente “acredita”; tal não é nada fácil e exige, também, um processo de auto conhecimento , autocrítica e coragem para tentar realizar ou viver na prática a proposta escolhida. O melhor caminho me parece ainda ser o de construir autonomamente sua visão “teoria” e tentar, pelo menos minimamente, segui-la em vida, o que, mais uma vez, não é simples ou fácil, já que o mundo “teima” em estragar nossos planos idealizados e devaneios, por mais bem elaborados que possam parecer. Neste ponto entra uma concepção muito útil sobre “verdade”: aquela que afirma ser a verdade uma correspondência entre o pensado e o percebido do mundo, sendo que, o que é pensado deve ter coerência interna, revista constantemente; se alguma falha irreparável no “quebra cabeças” for identificada, a “teoria” (visão) deve ser descartada e novo esforço empreendido para gerar nova “visão” (interpretação sobre algum aspecto da realidade). Não é fácil compreender o que rola na contemporaneidade e acompanhar o fluxo de informações (a maioria inúteis) mantendo sanidade em meio à estupidez reinante. Não é nada agradável reconhecer que os grandes ideais foram mastigados pela máquina de um sistema nefasto que parece ser imbatível no momento e, diante do qual, somos soldados armados apenas com canivetes, canetas, teclados, pincéis, voz e mentes astutas (as quais cansam e exigem algum tipo de prazer para manterem o movimento), mentes que precisam tecer teias de representações e explicações para darem sentido a si mesmas e ao mundo absurdo onde sobrevivem fustigadas. Paulo Vinícius (02/04/2019)