Hypocrisis By Luiz Afonso Alencastre Escosteguy / Share 0 Tweet Estamos assistindo a nação ser tomada, como se fôramos “impávidos colossos”, pelo fundamentalismo, ora sob a égide da religião, mas que, a qualquer momento, abertos os precedentes, será de qualquer grupo que se arvore o direito de sair repetindo, por aí, as palavras do vice-presidente do PSC – Partido Social Cristão, Everaldo Pereira, ao referir-se à posição do partido pela manutenção do deputado Feliciano na presidência da CDHM: “O PSC não abre mão da indicação. Democracia não é no grito”. “Democracia não é no grito”, repito. Para completar o quadro, a Comissão de Constituição e Justiça aprovou, em 27/3/12, a Proposta de Emenda Constitucional – da lavra do deputado João Campos (PSDB-GO) – que acrescenta o inciso X ao artigo 103 da Constituição Federal, para nele incluir as “associações religiosas de âmbito nacional (aqui a íntegra da proposta, com a justificação), a já apelidade “Emenda Evangélica”. “Democracia não é no grito”, repito. Também em 27/3/2013, foi entregue ao PSC um abaixo-assinado com mais de 455 mil assinaturas pedindo a saída do deputado Feliciano da CDHM. O texto linkado oferece uma versão do que teria dito Pereira: “Democracia é voto. Democracia não é grito, nem ditadura”. “Democracia é voto! Democracia não é grito, nem ditadura”, repito, com as atualizações. Não importa a forma, mas o conteúdo do dito. Sim, democracia é voto, mas também é grito. E quando alguém esquece isso, ultrapassa os limites do bom senso e nada mais faz do que expressar uma forma de fundamentalismo. Ultrapassa o bom senso que deve permear o convívio social, aquele valor que todos pensamos ser mínimo para a manutenção da sociedade. Não é por menos que a bancada evangélica houve por bem – e se colocando na condição de representantes das “associações religiosas” propuseram a PEC 99/11. É por sentirem que o “impávido colosso” não é mais “aquilo tudo”, que, afinal, não grita tanto assim. Será? “Democracia é grito”, digo eu! É e será o grito de tantos quantos estão não concordam com isso. E é também o grito do silêncio de tantos quantos que, por alguma impossibilidade, não se manifestam. Mas bons olhos veem além do simples enxergar. Veem, por exemplo, o que se contém no parágrafo introdutório da “justificação”: Após bom debate, a Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional deliberou por apresentar proposta de Emenda à Constituição objetivando inserir Associações Religiosas de caráter nacional (exemplo: CGADB – Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil, CONAMAD – Convenção Nacional das Assembléias de Deus no Brasil Ministério Madureira, CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, Convenção Batista Nacional, Colégio Episcopal da Igreja Metodista , etc.) no rol do art. 103 da Constituição Federal… Ora, o que faz a CNBB no rol de exemplos se quem se reuniu foi a “Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional”? “Pega ratão”, como se diz na gíria? Sem dúvida! Há mais a observar no texto. O último parágrafo explcita: “legitimando as Associações Religiosas para eventual propositura de ações de controle de constitucionalidade, naquilo que for pertinente”. “Naquilo que for pertinente”, repito. O que é pertinente, no caso? E se é pertinente, por que não constou expressamente no texto proposto para o inciso X a ser acrescentado? O pior cego é aquele que não quer ver, diz o velho ditado. Não constou por que aí se dá a maracutaia toda: da forma como redigido, qualquer tema será pertinente! Qualquer tema será pertinente, repito! Um pastor evangélico – com o currículo sobejamente exposto a quem queira ver – como presidente da CDHM e com uma emenda dessas, alguém tem dúvidas de que a nação está sendo tomada pelo fundamentalismo? Alguém tem dúvida? Repito! Amanhã poderá ser a torcida do Flamengo…