Index tupiniquim!

Dia desses vi um negão sendo empurrado porta afora das Lojas Americanas, no centro de Porto Alegre. Muito puto com o guarda que não o deixou entrar, o negão berrou: “seu branco filhadaputa!”, enquanto cambaleava tal fora o empurrão que havia levado.

Espera! Tudo errado. Começo novamente. Passando numa tarde ensolarada em frente às Lojas Americanas, vi um cidadão sendo gentilmente convidado a se retirar. Tudo indicava ser mais um a tentar furtar algo de algum dos fartos balaios da loja. Mas não. Dito cidadão apenas portava maltrapilhos e não era branco retinto, o que por certo denunciavam sua condição de marginal… ops, marginalizado. Não! Ainda não está bem assim. Que tal: denunciavam sua condição de excluído.

Pois agora me aparece essa: querem colocar um livro do Monteiro Lobato no index tupiniquim. Vamos do começo, se bem entendi o artigo da Folha de São Paulo (aqui), publicado no dia 29/10: parece que um cidadão, o senhor Antonio Gomes da Costa Neto, apresentado como mestrando da UNB, teria enviado à Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, órgão ligado à Presidência da República, uma denúncia de que a obra “Caçadas de Pedrinho” estaria eivada de passagens preconceituosas e que, por isso mesmo, deveria ser retirada da lista dos livros distribuídos pelo MEC.

Até aí nada de mais. É como se diz, ter curso superior não ilide ninguém de ser idiota, imbecil e outros adjetivos menos simpáticos. Lembremos que a Constituição garante a todos o direito à livre manifestação do pensamento, o que, por óbvio, inclui idiotas e imbecis (e a mim, inclusive). Fora apenas mais um cidadão manifestando seus traumas infantis, vá lá. A questão é uma senhora, Nilma Lino Gomes, dita professora da UFMG (mais uma vez o diploma…), fez um parecer recomendando à Câmara de Educação Básica do CNE  (Conselho Nacional de Educação) para que o livro fosse realmente retirado da distribuição.

A lista engrossa. O tal da câmara aprovou o parecer. Mais, o CNE, mesmo antes de analisar o caso, divulgou nota técnica, divulgada pela Secretaria de Alfabetização e Diversidade do MEC, onde consta que a obra a obra só deve ser usada “quando o professor tiver a compreensão dos processos históricos que geram o racismo no Brasil”. Tudo isso, agora, está na mesa no Exmo. Sr. Ministro da Educação, que contará com a ajuda da Secretaria de Educação Básica.

Até eu me confundi. Vamos rever a lista, em forma de lista:

1. Antonio Gomes da Costa Neto

2. Secretaria de Promoção da Igualdade Racial

3. Nilma Lino Gomes

4. Câmara de Educação Básica do CNE

5. Conselho Nacional de Educação

6. Secretaria de Alfabetização e Diversidade do MEC

7. Exmo. Sr. Ministro da Educação

8. Secretaria de Educação Básica

Vou terminar o artigo chegando a conclusão que idiotas e imbecis foram meus pais que nos deram, a mim e aos meus irmãos, quando pequenos, a obra completa do Monteiro Lobato. E que tenho ainda hoje, passados mais de cinquenta anos.

Somem, por favor, os salários de toda esses servidores públicos listados acima. Esse é o valor que essa gente deveria devolver aos cofres públicos, não sem antes responderem por danos ao patrimônio nacional. Sim, dano ao patrimônio nacional é o que querem fazer. Monteiro Lobato e suas histórias são patrimônio literário da brasilidade. É muita hipocrisia dessa gente toda…

Para quem se interessar, o link de um abaixo assinado a ser encaminhado ao Exmo. Sr. Ministro da Educação.

Enquanto isso, o guarda “branco” das Americanas não sabe o que vai fazer. Perguntei a ele o que achou de ser chamando de “branco”, ao que me respondeu: “o branco é o de menos, não aguentei foi ele me chamar de filhodaputa”!

 

About the author

Luiz Afonso Alencastre Escosteguy

Apenas o que hoje chamam de um idoso. Parodiando Einstein, só uma coisa é infinita: a hipocrisia. E se você precisou saber meu "currículo" para gostar ou não do que eu escrevo, pense bem, você é sério candidato a ser mais um hipócrita!