Para o Congresso, o verbo aumentar é defectivo!

Como estou ficando velho e, provavelmente, esclerosado (termo que denota o tempo que tenho na vida), de algumas coisas tenho apenas uma vaga lembrança.

Um desses resquícios de memória são as aulas de economia, onde se aprende que a humanidade desenvolveu um sistema que privilegia uma das forças em detrimento da outra. Em priscas eras, a força física era a que mais valia. Gorilas cagavam a pau os chimpanzés que tentavam se abastecer da pouca comida existente. Mas o mundo dá voltas, como se diz, e os chimpanzés, de tanto apanharem, resolveram usar o cérebro. E vai daí que durante um bom tempo a força “inteligência” venceu a força “física”.

E os inteligentes chimpanzés conseguiram transformar os enormes e fortudos gorilas em meros burros de carga. Com o passar do tempo, alguns chimpanzés mais inteligentes que os demais, decobriram que sequer precisavam pensar muito para enganbelar tanto aos gorilas, quanto aos parceiros de inteligência, que a essas alturas já eram considerados “nem tanto inteligentes assim”. Inventaram que as suas propriedades valiam mais que tudo. Convenceram o burros dos gorilas a dar pau naqueles que duvidassem disso e a mais um tanto de chimpanzés mal formados de caráter, ou de menos inteligência, e assim inventaram o capital.

O mundo foi dividido entre os que possuiam capital e o resto, que deveria estar a serviço do capital. Esse é o mundo que vivemos, um mundo que simplesmente privilegia o capital em detrimento do trabalho.

Claro que os chimpanzés detentores do capital, dos gorilas e ds chimpazés menos inteligentes, trataram logo de inventar diversas historinhas para justificar a sua posição: a religião, a filosifia, a ciência, todos os derivados dessas três e a mais perversa de todas, a Economia. Tudo para justificar que eles, como detentores do capital, tudo poderiam e tudo teriam. Aos demais caberia o equivalente ao esforço que fizessem por merecer. Por sinal, a meritocracia nasce por aí: os detentores do capital simplesmente merecem; os demais devem fazer por merecer.

Poderia ser diferente, claro. Poderíamos ter um modo de civilização que, por exemplo, privilegiasse o trabalho em detrimento do capital. Por que não? Ou, quem sabe, uma forma igualitária de consideração dessas duas forças? Por que não?

Mas a evolução não para por aí. Dentre os chimpanzés menos favorecidos pela carga de inteligência que possuiam – e que, portanto, não os permitia possuirem capital – surgiu uma, com alguns pontos a mais de QI, que consegui fazer valer uma tese: nós somos trabalhadores sim, mas intelectuais. Conseguimos estudar – ou nos dedicamos ao povo em detrimento de nós mesmos – e somos diferentes dos demais chimpanzés de menos inteligência. Assim, e já que não temos capital, que ao menos nos dêem salários maiores e melhores que todos os demais. E dê-lhe a inventar teorias que justificassem que eram uma classe de chimpanzés apartada dos demais.

Os donos do capital, que a tudo assistem de camararote, vendo que reis e papas já não estavam com nada, decidem apoiar esses poucos chimpanzés e criam para eles um sistema que os acomodaria perfeitamente sem que os incomodassem. Inventaram o estado moderno com três poderes. O suficiente para acomodar todos os chinpanzés berrões da sua inteligência. Uns para cuidar do como fazer; outros para cuidar de fazer e outros tantos para cuidar de que se estão fazendo certo, conforme os primeiros haviam posto. E vamos dar-lhes altos salários e um status de semi-deuses. Assim não incomodam e fazem tudo quanto lhes dissermos para fazerem.

Eis assim, de uma maneira resumida, a justificativa para que o Congresso tenha votado o aumento dos próprios salários, na esteira de aumentos que o judiciário (com leis votadas pelo legislativo) se dão! E, para que não ficasse hipócrita demais, aumentaram o salário do presidente.

Eu só tenho uma pergunta a fazer: o quê, nesse mundinho finito, justifica alguém dizer que merece ganhar algo como R$26.000,00 enquanto faz morrer de fome milhões de brasileiros que ganham algo como R$500,00? O que juízes, membros de ministérios públicos, parlamentares, membros do executivos e outros têm, que justifique tal situação? (ok, foram duas)

E também só tenho uma resposta: quem mandou nascer gorila?!!! Ou, para combinar com o título, o verbo aumentar só existe na terceira pessoa deles: nós nos aumentamos!

Se eles são representantes e pedem ao povo para sê-lo, deveriam submeter ao povo seus aumentos!

É preciso acabar com a hipocrisia, que é a justificativa para tamanho disparate, de considerar o trabalho intelectual mais “valioso” que o braçal e ambos menos valiosos que o capital.

About the author

Luiz Afonso Alencastre Escosteguy

Apenas o que hoje chamam de um idoso. Parodiando Einstein, só uma coisa é infinita: a hipocrisia. E se você precisou saber meu "currículo" para gostar ou não do que eu escrevo, pense bem, você é sério candidato a ser mais um hipócrita!