Demografia By José Eustáquio Diniz Alves / Share 0 Tweet O futebol é uma paixão nacional. O Brasil é considerado a pátria de chuteiras. Mas na verdade, enquanto os jogadores vão estar com a chuteiras em campo, o povo vai ser incentivado a assistir aos jogos com um caneco de cerveja na mão, conclamados a serem guereiros patrióticos. A associação entre seleção brasileira de futebol e cerveja é um péssimo exemplo para os jovens e toda a população brasileira. Pode-se considerar criminoso o fato do comando da CBF vender a imagem da seleção brasileira de futebol para promover e valorizar uma marca de cerveja no Brasil. Na verdade as propagandas de cerveja deveriam ser tratadas sob a ótica da saúde pública, sendo insuficiente e cínica colocar a frase “beba com moderação”. Aliás, o Ministério da Saúde, por meio da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), tem tentado implementar propostas de restrições à publicidade deste bilionário mercado das cervejas, pois associa o consumo de álcool a acidentes de trânsito com vítimas, má-formação de bebês e até ao abuso sexual e episódios de violência de todo tipo. Cerveja e violencia no futebol, com as batalhas campais dentro e fora dos estádios é uma cena “familiar”. Os efeitos sobre o aumento da pobreza e das taxas de mortalidade e morbidade são evidentes. Sem dizer que cerveja e churasco são grandes emissores de gases de efeito estufa, sendo uma combinação deletéria para o meio ambiente. Tem crescido as manifestações contra a venda da imagem da seleção de futebol pentacampeã do mudo. No dia 13 de maio, o desembargador aposentado, Aloísio de Toledo César, escrevu o artigo “A seleção a serviço da cerveja”, no jornal O Estado de São Paulo. Ele escreveu: “É desanimador, profundamente desanimador, assistir na televisão, várias vezes ao dia, às propagandas que mostram craques da seleção brasileira de futebol induzindo a população a ingerir bebida alcoólica. Realmente, o técnico Dunga e jogadores que integram ou já integraram a seleção ali estão, presumivelmente por dinheiro, a estimular aqueles que os admiram a esse vício, que representa drama dos mais sérios para milhões de pessoas neste país: o alcoolismo”. Na edição de número 2165, de 19 de maio de 2010, da revista Veja, o colunista Roberto Pompeu de Toledo, escreveu o artigo “Talibãs de chuteiras”, dizendo: “A temporada de Copa do Mundo começa mal. Logo de saída, o técnico Dunga nos ameaça com patriotismo. Nada menos do que patriotismo! Um anúncio de cerveja na televisão, no ar faz algumas semanas, já batia na mesma infausta tecla. Um desesperado Dunga, esbravejando iracundas palavras de ordem e gesticulando como um possesso, num cenário cheio de sugestões de verde-amarelismo, pregava que para ganhar no futebol só sendo “guerreiro”, no caso, “guerreiro” como os consumidores da cerveja em questão”. No dia 17 de maio, o jornalista Ruy Castro, escreveu no jornal Folha de São Paulo, o artigo “A Copa dos goles”, com as seguintes denúncias”: “Um tradicional festival de jazz -música que só interessa a adultos, e, mesmo assim, a uma fração deles- deixou de existir no Brasil há alguns anos porque não podia ser patrocinado por uma marca de cigarros. Já a seleção brasileira, que estará onipresente nos lares brasileiros dentro de três semanas, pode ser patrocinada por uma bebida alcoólica. A dita bebida, uma cerveja, tomará o país em dimensões nunca vistas e por todas as mídias existentes, incluindo publicidade estática, indução subliminar e telepatia. Uma rima pobre -“brahmeiro”, “guerreiro”-, pespegada aos jogadores, será o mote de milhões de crianças enquanto durar a Copa do Mundo, enfatizando, inclusive para os pais, a “naturalidade” do consumo de cerveja desde tenra idade. Quinze por cento desses milhões desenvolverão alcoolismo dentro de dez anos. E, embora estejamos falando de futebol, isso não é um chute. É apenas a porcentagem de pessoas que desenvolvem a doença num universo humano com acesso livre a bebidas alcoólicas, o que sói ser o caso do Brasil. Não por acaso, esse é também o número estimado de alcoólatras no país: 28,5 milhões -15 % da população”. Esperamos que estas manifestações de protesto contra o uso da imagem da seleção brasileira de futebol e contra este patriotismo e ufanismo infantil e atrasado se ampliem, e que o povo brasileiro não aceite ser feito de consumidor alienado de qualquer bebida alcoólica a serviço do lucro corporativo.