Sobre Darwin e a religião

“Fatos falsos são extremamente prejudiciosos para o progresso da ciência porque eles duram por muito tempo; por outro lado, visões errôneas, se baseadas em alguma evidência, fazem pouco mal já que todos tem um saudável prazer em provar sua falsidade” – Charles Darwin
É realmente curioso como a minha inocência sempre me engana. Eu imaginava viver em um mundo aonde a grande maioria das pessoas já aceitasse algumas das idéias básicas que a ciência tem a nos ensinar, mas de tempos em tempos eu provo que estou errado. Eu estou passando por mais uma destas épocas, as quais eu intitulo carinhosamente de “sessões masoquistas”, que nada mais são do que períodos de sofrimento agudo, que ocorrem quando eu faço pesquisas sobre diversos assuntos que eu pensava já serem esclarecidos para o público geral. O darwinismo é um bom exemplo.
Eu não sou um ateu convicto, ou ao menos na forma como a maioria dos ateus são. A grande maioria deles usam argumentos que eu simplesmente não posso concordar para contestar a existência de algum deus, e estes argumentos facilmente cruzam a barreira que nos separa do dogmatismo. Diversos americanos aderiram a esta onda chamada “Novo Ateísmo”
http://pt.wikipedia.org/wiki/Antite%C3%ADsmo
, e eu não consigo olhar para eles de outra forma a não ser como uma matilha. Existem alguns programas aonde cristãos ligam para discutir religião com apresentadores ateus, e estes últimos sempre saem com um ar superior. Risadas e táticas extremamente sujas para ganhar discussões são empregadas sem a menor vergonha. O ponto mais importante desta história, e que todos sabem, é que não é possível convencer um religioso de que ele está errado. Simples assim. Não se convence porque este é um assunto aonde a lógica não se aplica, de acordo com o religioso, e quaisquer argumentos utilizados serão como gritos ecoando no deserto. E esta vontade de “converter as pessoas ao ateísmo” é extremamente semelhante à atitude que os mesmos criticam na posição da Igreja.
Por outro lado, digo com a mais clara convicção: o deus cristão não existe, tampouco o deus muçulmano, assim como Zeus. E eu espero que ninguém aqui se choque com isso (ou não se choque muito), esta idéia já é bem antiga (vide “O Anticristo”,
http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Anticristo
de Frederich Nietzsche, que hoje em dia é um livro água-com-açúcar de cento e tantos anos de idade). Argumentos não faltam, e eu realmente não irei insistir neste ponto. Dependendo do debate que poderá ser aberto nos comentários, eu escreverei a este respeito no meu próximo texto, mas voltando, eu não tenho a certeza de que um ser criador, ou seres criadores, existam, e é por PURA CONVICÇÃO que eu, pessoalmente, penso ser esta a nossa única existência. Não sei provar isto, mas parece que a nossa mente gosta de ter controle sobre as coisas, e é por isto que é tão difícil viver com um grande ponto de interrogação como forma de motivação. É realmente doloroso pensar que estamos aqui por acaso, sozinhos e vulneráveis, e que os nossa existência não é nada mais do que a mera consequência de certas leis naturais. Mas ainda assim esta é a minha mais profunda convicção. “O niilismo mora na porta ao lado”, alguém pode dizer. Pois talvez este niilismo já seja um companheiro de quarto.
De qualquer forma, pensava eu, sejam vocês cristãos, ateus ou testemunhas de jeová, todos sabemos que o mundo NÃO foi criado há seis mil anos atrás, todos sabemos que o no princípio não era o verbo, mas sim formas primitivas de vida. Existem um trilhão de bilhões de provas para a teoria evolucionária, e uma tarde num museu de história natural poderia mudar qualquer pessoa. Mas não é isto que eu encontrei nestes últimos dias… o que eu encontrei foi uma legião de fanáticos postando textos, vídeos, publicando livros a favor do criacionismo. Sim, a teoria de que um ser todo poderoso criou tudo em seis dias, inclusive os fósseis (que devem ter sido enterrados de propósito somente para gerar este tipo de controvérsia e, portanto, selecionar os bons cristãos). Os fatos que eu encontrei são realmente horrorizantes…
Sete estados americanos, por exemplo, proibem que um ateu assuma um cargo político (óbviamente a constituição americana é soberana sobre a dos estados, e esta prevê a igualdade entre crenças). Apenas cerca de 12% dos americanos votariam num presidente ateu, e todos os outros grupos de minorias (negros, mulheres, homossexuais) ficaram à frente na pesquisa. Uma reedição comemorativa do livro “A origem das espécies” foi lançado nos EUA e 50.000 cópias foram distribuidas gratuitamente em várias Universidades, mas com um prefácio de 50 páginas escrito por estes dois sabichões aqui.
http://www.youtube.com/watch?v=2z-OLG0KyR4&feature=related
E como provar a existência dos cocos ou das jacas? Chocante é o mínimo que pode ser dito sobre isto. E o que podemos dizer, por exemplo, sobre este diálogo (são atores que montaram o texto todo com citações retiradas de foruns cristãos), ou então sobre esta cena real de um lar pacífico cristão?
Diálogo
http://www.youtube.com/watch?v=qO9IPoAdct8
Mãe louca
http://www.youtube.com/watch?v=T2KBLQOaUrQ&feature=rec-fresh+div-r-18
Também não aceito um cientificismo cego. O método científico, que sempre me pareceu como algo simples de se entender e rasoável, não é tão facilmente entendido pelo grande público, mas este ainda assim insiste em usá-lo. Nada me enoja mais do que alguns documentários religiosos nos quais alguns pseudo-cientistas “provam” que Darwin estava errado. Eu não vou nem comentar sobre a prova em si, mas sim sobre o provar: não eram eles mesmos quem sempre condenaram a “arrogância científica”? E cá estou eu batendo na mesma tecla novamente… Aqui estamos nós em pleno século XXI tendo que engolir este tipo de coisas. E isto tudo somente me entristece profundamente… Fuçando na minha memória (e também no banco de dados do OPS!), eu encontrei um comentário que eu fiz no blog do Milton Ribeiro
http://miltonribeiro.opsblog.org/
há cerca de um ano atrás, e sob o qual eu ainda hoje assinaria.
“Este é um dos grandes problemas contemporâneos, penso: somos demais esclarecidos, e por isto não conseguimos nos agarrar a nada. Condenamos a religião, mas desejamos uma segurança existencial, ao mesmo tempo que condenamos a racionalidade – mas não nos permitimos sermos demais emotivos; nos apegamos à arte, mas sabemos que mesmo a defesa mais hábil desta está baseada em vicissitudes; podemos convenser muita gente, mas não nos convencemos mais… não acreditamos que nossos trabalhos sejam os mais importantes nem que nossas vidas foram trilhadas pelo único caminho correto. Único caminho? Somos relativistas, somos ‘livres’. E, na minha opnião, o preço da liberdade é muito alto. Eu já não tenho forças para condenar a existência de tipos como este, e não por falta de paciência para discutir, mas por não conseguir acreditar que vivo de uma maneira mais legítima do que eles.”
“Fatos falsos são extremamente prejudiciais para o progresso da ciência porque eles duram por muito tempo; por outro lado, visões errôneas, se baseadas em alguma evidência, fazem pouco mal já que todos tem um saudável prazer em provar sua falsidade” Charles Darwin
É realmente curioso como a minha inocência sempre me engana. Eu imaginava viver em um mundo aonde a grande maioria das pessoas já aceitasse algumas das idéias básicas que a ciência tem a nos ensinar, mas de tempos em tempos eu posso comprovar como estou errado. Eu estou passando por mais uma destas épocas, as quais eu intitulo carinhosamente de “sessões masoquistas”, que nada mais são do que períodos de sofrimento agudo, que ocorrem quando eu faço pesquisas sobre diversos assuntos que eu pensava já serem esclarecidos para o público geral. O darwinismo é um bom exemplo destes.
Eu não sou um ateu convicto, ou ao menos da forma como a maioria dos ateus são. A grande maioria deles usam argumentos com os quais eu simplesmente não posso concordar para contestar a existência de algum deus, e estes argumentos chegam perto de cruzar a barreira que nos separa do dogmatismo. Diversos americanos e europeus tem aderido a esta corrente de pensamento chamada “Novo Ateísmo“, e eu não consigo olhar para eles de outra forma a não ser como uma matilha. Os Novos Ateus são caracterizados pelo combate a qualquer tipo de crença. Nos EUA, por exemplo, existe um programa aonde cristãos ligam para discutir religião com apresentadores ateus, e estes últimos sempre saem com um ar superior. Risadas e táticas extremamente sujas para ganhar discussões são empregadas sem a menor vergonha. O ponto mais importante desta história, e que todos sabem, é que não é possível convencer um religioso de que ele está errado. Simples assim. Não se convence porque este é um assunto aonde a lógica não se aplica, de acordo com o religioso, e quaisquer argumentos utilizados serão como gritos ecoando no deserto. E esta vontade de “converter as pessoas ao ateísmo” é extremamente semelhante à atitude que os mesmos criticam na posição da Igreja.
Por outro lado, digo com a mais clara convicção: o deus cristão não existe; tampouco o deus muçulmano, assim como Zeus. E eu espero que ninguém aqui se choque com isso (ou não se choque muito), afinal de contas esta ideia já é bem antiga (vide “O Anticristo“, de Frederich Nietzsche, que hoje em dia é um livro água-com-açúcar de cento e tantos anos de idade). Argumentos não faltam, e eu realmente não irei insistir neste ponto. Dependendo do debate que poderá ser aberto nos comentários, eu escreverei a este respeito no meu próximo texto, mas voltando, eu não tenho a certeza de que um ser criador, ou seres criadores, existam, e é por PURA CONVICÇÃO que eu, pessoalmente, penso ser esta a nossa única existência. Não sei provar isto, mas parece que a nossa mente gosta de ter controle sobre as coisas, e é por isto que é tão difícil viver com um grande ponto de interrogação como forma de motivação. Eu me vejo muito mais próximo do agnosticismo, mas minha cabeça tende a acreditar que o fim é o fim, e ponto final. É realmente doloroso pensar que estamos aqui por acaso, sozinhos e vulneráveis, e que os nossa existência não é nada mais do que a mera consequência de certas leis naturais. Mas ainda assim esta é a minha mais profunda convicção. “O niilismo mora na porta ao lado”, alguém pode dizer. Pois talvez este niilismo já seja um companheiro de quarto.
De qualquer forma, pensava eu, sejam vocês cristãos, ateus ou testemunhas de jeová, todos sabemos que o mundo NÃO foi criado há seis mil anos atrás, todos sabemos que o no princípio não era o verbo, mas sim formas primitivas de vida. Existem um trilhão de bilhões de provas para a teoria evolucionista, e uma tarde num museu de história natural poderia mudar qualquer pessoa. Mas não é isto que eu encontrei nestes últimos dias… o que eu encontrei foi uma legião de fanáticos postando textos e vídeos na internet, e publicando livros a favor do criacionismo. Sim, a teoria de que um ser todo poderoso criou tudo em seis dias, inclusive os fósseis (que devem ter sido enterrados de propósito somente para gerar este tipo de controvérsia e, portanto, selecionar os bons cristãos). Os fatos que eu encontrei são realmente aterrorizantes…
Sete estados americanos, por exemplo, proibem que um ateu assuma um cargo político (obviamente a constituição americana é soberana sobre a dos estados, e esta prevê a igualdade entre crenças). Apenas cerca de 12% dos americanos votariam num presidente ateu, e todos os outros grupos de minorias (negros, mulheres, homossexuais) ficaram à frente na pesquisa. Uma reedição comemorativa do livro “A origem das espécies” foi lançado nos EUA e 50.000 cópias foram distribuidas gratuitamente em várias Universidades, mas com um prefácio de 50 páginas escrito por estes dois sabichões aqui. E como provar a existência dos cocos ou das jacas? Chocante é o mínimo que pode ser dito sobre isto. E o que podemos dizer, por exemplo, sobre este diálogo (são atores que montaram o texto todo com citações retiradas de foruns cristãos), ou então sobre esta cena real de um lar pacífico cristão?
criacionismo
Charge retirada do Sizenando
Também não aceito um cientificismo cego. O método científico, que sempre me pareceu como algo simples de se entender e aceitar, não é tão facilmente entendido pelo grande público, mas este ainda assim insiste em usá-lo. Nada me enoja mais do que os argumentos que alguns pseudo-cientistas usam para “provar” que Darwin estava errado. Eu não vou nem comentar sobre as provas que eles usam em si, mas sim sobre “o provar”: não eram eles mesmos quem sempre condenaram a “arrogância científica” e o método científico? E cá estou eu batendo na mesma tecla novamente… Aqui estamos nós em pleno século XXI tendo que engolir este tipo de coisas. E isto tudo somente me entristece profundamente…Fuçando na minha memória (e também no banco de dados do OPS!), eu encontrei um comentário que eu fiz no blog do Milton Ribeiro há cerca de um ano atrás. Deixando de lado a extrapolação inicial para todos os contemporâneos, eu ainda assino embaixo disto aqui:
“Este é um dos grandes problemas contemporâneos, penso: somos demais esclarecidos, e por isto não conseguimos nos agarrar a nada. Condenamos a religião, mas desejamos uma segurança existencial, ao mesmo tempo que condenamos a racionalidade – mas não nos permitimos sermos demais emotivos; nos apegamos à arte, mas sabemos que mesmo a defesa mais hábil desta está baseada em vicissitudes; podemos convencer muita gente, mas não nos convencemos mais… não acreditamos que nossos trabalhos sejam os mais importantes nem que nossas vidas foram trilhadas pelo único caminho correto. Único caminho? Somos relativistas, somos ‘livres’. E, na minha opinião, o preço da liberdade é muito alto. Eu já não tenho forças para condenar a existência de tipos como este, e não por falta de paciência para discutir, mas por não conseguir acreditar que vivo de uma maneira mais legítima do que eles.”
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Gilberto Agostinho