Um pouco de poesia (mais uma adicionada)


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Pessoal, eu estive viajando nestes últimos dias e não tive tempo de preparar um artigo. Deixo vocês então na companhia de dois poetas depressivos tchecos, os quais eu traduzi o melhor que pude. Espero que vocês gostem. Volto na semana que vem, grande abraço a todos!

* * *

 

“O fim do mundo” – Miroslav Holub

O pássaro chegou ao fim de sua canção
e a árvore se desfez sob suas garras.

E no céu as nuvens se dissolveram
e a escuridão invadiu todas as frestas
da embarcação naufragante que era o mundo.

Apenas nos fios do telégrafo
havia uma mensagem, ainda
codificada:

V…- e. n-. h…. a.- p.–. a.- r.-. a.- c-.-. a.- s… a.-
v…- o— c-.-. ê. t- e. m–
u..- m– f..-. i.. l.— h…. o—

* * *

“In memoriam” – Jiri Karásek ze Lvovic

Apenas os macios e úmidos cabelos, seus companheiros,
agora na sua terrível cova, lentamente, lentamente apodrecem,
e seu asqueroso e esfarrapado traje funerário,
rompendo-se, decompondo-se, esconde o seu corpo.

Este corpo cheio de força e alegria,
estes olhos bons como se sua alma sonhasse,
seus cabelos com seu bom odor,
tudo isto na cova lentamente, lentamente apodrece.

E a mim parece que no meu próprio corpo
também já existe asqueroso verme, decompondo
e rompendo as vestes com as quais a Morte me veste.
E já agora os meus cabelos, caro amigo,
como os seus, lentamente, lentamente apodrecem.

* * *

“Eu afinei a minha viola o mais grave possível” – Karel Hlavácek

Eu afinei a minha viola o mais grave possível,
e com delicado acompanhamento, na noite eu canto.

O inquieto instrumentista, taciturno e nostálgico,
ainda busca a mágica das velhas e irônicas baladas.

Eu toco a minha viola herdada somente para eles, tão somente para eles,
que, pelo amanhecer, escutam longinquamente a música das noites insones.

Minhas melodias querem ter a tristeza de tudo
que cresceu, floresceu e amadureceu em vão, para ninguém,

e a esperança e a incerta ternura do que
quer brotar na infértil terra da margem distante,

e querem ter um som inseguro, mas suave, e confundir os sentidos,
como a vibração das cordas graves amortecidas pela sordina,

e querem poder confiar no silêncio dos staccatos prolongados,
quando estão para chorar nas posições mais baixas…

Eu toco a minha viola herdada somente quando, tão somente no momento
em que a lua está para surgir e a paisagem ainda está imersa nas trevas,

e quando a dura vigília cai de trás das florestas e águas,
e o grande segredo das festas natalinas vai pela paisagem.

Meus dedos esguios sempre tremem nervosamente ao passar pelas cordas,
quando, com delicado acompanhamento, na noite eu canto…

Eu afinei a minha viola o mais grave possível.

* * *

Eu gostaria de deixar meus sinceros agradecimentos à Markéta Kučerová, minha querida professora de tcheco e aluna de português, quem me ajudou muito não somente com estas traduções, mas também me ajuda sempre com este dificílimo idioma. Obrigado.

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Gilberto Agostinho