Sobre ovelhas, natação e Roberto Carlos


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Muito bem, muito bem, o Praguejando está de volta ao ar com o seu conteúdo de sempre. O último post, sobre Hamlet, foi uma exceção, e que, pelo visto, não agradou muito vocês. Mas hoje eu pretendo escrever sobre coisas divertidas, então apertem os cintos e vamos lá.

wild west

Comecemos com a ovelha assada e o Velho Oeste Tcheco. Há alguns dias atrás, eu fui convidado para uma festa de família no interior da República Tcheca. A casa da minha amiga, cujos pais estavam organizando a festança, fica num vilarejo minúsculo chamado Prstavlky, próximo da famosa cidade cervejeira, Plzeň. Este pequeno vilarejo conta com duzentos habitantes, tem menos de cem casas e possui três ruas, e é um dos lugares mais bonitos que eu já visitei por aqui. Pois bem, cheguei lá por volta da uma hora da tarde, e a família da minha amiga já estava toda reunida (e devidamente alcoolizada – nunca vi tanta cerveja em uma festa deste porte antes!). O prato principal foi uma ovelha assada, algo que eu nunca tinha experimentado, mas que descobri ser delicioso. Ao contrário do que muita gente pode pensar, assar uma ovelha não é um trabalho muito simples, mas um tio tcheco, embriagado, estava cuidando deste delicado procedimento (ao mesmo tempo que tentava me convencer de que a ovelha era, na verdade, um grande cachorro). Foi uma tarde ótima e eu pude treinar bastante o meu tcheco, já que todos no interior ficam intrigados com o fato de eu ser brasileiro, e sua paciência é, portanto, muito maior do que a dos praguenses. No meio da conversa, eu ouvi esta seguinte pérola do avô da minha amiga, um senhor com seus setenta e tantos anos, apoiado de um lado pela sua bengala e do outro pela sua esposa: “Gilberto, tome cuidado com as tchecas. Elas são as melhores cozinheiras, mas as alemãs são as melhores na cama”. Sua esposa é tcheca e, pelo que consta, sua mãe era alemã. Mas enfim, voltemos ao vilarejo. A noite foi chegando e a família foi se despedindo. No final sobraram somente os jovens, que ainda tinham muita energia acumulada. Decidimos pegar as bicicletas e sair pedalando por aí, em busca de alguma improvável festa. Acabamos achando três. A primeira, uma festinha meio sem graça num vilarejo menor ainda, mas ainda assim interessante. A última foi uma boate divertida e barata, que tocava Michael Jackson insesantemente. Mas a outra, meus amigos! Ouvíamos esta música vindo do horizonte, mas não conseguíamos ver nada. Não existe iluminação nas estradas desta região, e estas mais parecem pequenas ruas, e éramos guiados então somente pela música. Chegamos finalmente ao local da festa. O local é um vilarejo com decoração do velho oeste americano. Não, não estou brincando. Ninguém mora naquele lugar, é um vilarejo que pertence a algum ricaço que gosta de dar festas. Banda ao vivo tocando country e rock’n roll antigo, pianos desafinados, cerveja barata, brigas, campeonato de touro mecânico, chapéus de cowboy, whisky. Enfim, uma noite para se lembrar. Para terminar a festa, os organizadores desta Wild West Party ainda nos presentearam com um show de dança do ventre (!). Sim, no mínimo bizarro.

Mudando drasticamente de assunto, vamos falar sobre natação agora. Eu já falei muito sobre o famoso Rio Vltava que corta Praga, e praticamente toda a Boêmia, e este nome já não deve ser novidade alguma para os meus leitores mais assíduos. O Vltava é considerado um rio poluído pelo povo em geral, apesar de ser um rio de águas claras e sem cheiro algum. Tudo bem, depois de cruzar Praga inteira este rio deve ficar realmente sujo, mas como ele seria na entrada da cidade? Eu e meus amigos fomos lá para descobrir, e achamos o paraíso! O lugar fica bem afastado do centro, e é cercado por natureza. Há muitas famílias por lá, pessoas andando de bicicleta, jogando vôlei, etc. O ambiente me lembrou o das praias brasileiras, excetuando o fato de que não é preciso ter atenção com possíveis batedores de carteira. Então nós decidimos nadar no rio. Dia quente, sol à pino, um pouco de vinho para ganhar coragem, e então fomos. A água é incrivelmente limpa, e incrivelmente gelada também! O único problema foi a correnteza… eu que nunca nadei em nenhum rio antes tomei um pequeno susto quando entrei na água, mas não foi absolutamente nada perigoso (desculpem, mas eu sei que minha mãe lê a minha coluna). A parada de bonde para este lugar se chama Nádraží Braník, e eu aconselho todos que vierem aqui no verão a darem um pulinho por lá.

Para finalizar o artigo, eu quero falar sobre a versão tcheca do Roberto Carlos, o nosso querido e famoso Karel Gott. Gott e o Rei tem semelhanças além do habitual, e estas fotos à lá “separados no nascimento” não passam de uma introdução a esta semelhança.

Gott e o Rei 60

Quem é quem nestas fotos, hein?

Gott e o Rei hoje

Ambos foram hits nos anos 60, usavam o mesmo corte de cabelo, a mesma roupa e cantavam a mesma música. Anos 70, e ambos viram românticos chatos. Anos 80 e ambos se tornam hits internacionais, e dos anos 90 para cá ambos vem aparecendo em especiais de televisão de Natal, vestindo terninhos brancos e cantando músicas cada vez mais bregas. Não acreditam? Então que tal assistir ao hit dos anos 60, “Lady Karnival“, ou então à pieguíssima “Když muž se ženou snídá“, em português “Quando um homem toma café-da-manhã com uma mulher”.

Gott ganhou 34 vezes o prêmio máximo de voz masculina no concurso mais famoso aqui na República Tcheca. O mais engraçado é ver a cara de espanto que ele sempre faz ao receber o prêmio! Gott é um trilhardário, dono de um pequeno vilarejo, que conta com um museu e um hotel, chamado “Gottland”. Eu recebi de presente no meu aniversário um ticket para a Gottland (grandes amigos eu tenho…), mas o vilarejo foi fechado recentemente para reforma. Assim que eu der um pulo por lá, eu volto aqui para contar. Mas a crítica a Gott não é apenas musical. Gott foi um dos primeiros, e únicos, multimilionários durante o período comunista. Em 1978 ele é “forçado” a assinar uma petição contra Václav Havel e outros dissidentes tchecos, que lutavam pela libertação de seu país, e assim pode continuar com a sua carreira internacional. No final das contas, Havel se tornou o primeiro presidente deste recém libertado estado tcheco, e mesmo que tenha falhado em algo como presidente, ele é um dos mais notáveis humanistas sobre os quais eu li a respeito (em breve entrarei em mais detalhes sobre esta importante figura de nosso país). Ah, Karel Gott, Karel Gott, a vulgaridade em pessoa, a prova de que a mediocridade vende mais. A vitória do violão com acordes batidos sobre o meu querido piano. Karel Gott é uma apenas imagem, não respira e não existe, tal como Brintey Spears, e quem compra seus CDs os compra pelos mesmos motivos que as adolecentes da minha época ouviam suas boybands.

Mas que o Robertão vendeu quatro vezes mais discos, ah, isto ele vendeu.

 

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Gilberto Agostinho