Sem Açúcar By Patrícia Louzada dos Anjos / Share 0 Tweet Participação informal, direta e breve é a que terei aqui hoje, porém, procurarei, de forma simples, convidar o leitor a refletir, novamente, sobre o que é perecível. Falarei sobre telas, quadros que se foram, imagens e pontos que se perderam. Quando penso no tema em questão, que é preservação audiovisual, vou mais longe e me recordo das imagens de “O Nome da Rosa” onde, contra do fogo, um homem, sozinho, se agarra ao máximo de livros que pode, com a pretensão de salvar a quantidade máxima possível. De forma similar, os profissionais que trabalham na área de preservação audiovisual tentam salvar materiais diversos, relevantes para o conhecimento. O fazem, muitas vezes, sob condições não perfeitas de trabalho, onde muito do que se considera ideal para armazenamento, catalogação e cuidado está longe de ser o desejado. Quantos filmes se perdeu na história do cinema? Quantos quadros, cenas e sequências se lê sobre, se deseja ver e debater, mas eles não estão lá? É como ter a oportunidade de ler um belo texto, detalhando a mais bela obra pintada na história da humanidade, quando esta não pode mais ser vista. Longe de abordar tecnicamente o tema, apenas convido você a pensar como seria se cada rosto, cada frase, olhar, teoria e história produzida pelo homem estivesse coberto por uma falha, deteriorada ou inexistente. Vamos ser diretos e refletir sobre o isto: toda produção de conteúdo é importante para dizer um pouco sobre a essência humana. Amando ou odiando, somos resultado daquilo que alguém ontem realizou. Sem copistas, restauradores, preservadores, sem apaixonados pelo conhecimento, os clássicos de outrora não chegariam hoje em nossas mãos. A escrita, já considerada irrelevante, tempos atrás, foi oque, hoje, nos possibilitou dizer sobre ontem. Pinturas realizadas por mãos que não mais existem, inspiram homens que caminham hoje. Qual o preço disso? Não idealize o imediatismo ao pensar no cuidado. Reflita que o amanhã também necessitará de respostas, questionamentos e reflexões. Estamos aqui, hoje, de alguma forma, colaborando para isto ou ignorando tal apontamento. As próximas gerações, que passarão sobre nossos pensamentos, poderão colher, ou não, esses sopros de ideias que se produz a um pouco mais de um século. Imagine cada tela do Louvre como inexistente, cada escultura exposta como pó, cada letra escrita no passado como um sopro, agora, imagine cada quadro filmado, na curta história do cinema, se auto destruindo, onde cada parte daquele conto imagético e, muitas vezes também, sonoro se transforma em pedaços de memória de quem o pode apreciar e que desaparecerá com estes espectadores. Como uma bacia que recebe várias partes de uma só história, escrita com vários rostos, suores, utopias, ideologias, o tempo abre espaço para construções, mas também as transforma em algo perecível. Preservar não é lutar contra o tempo, é compreende-lo. [Na próxima semana, conversaremos sobre o voyeur. Até lá.]