Geraldo Flach (1945-2011)


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Estive pesquisando esta semana sobre a repercussão na mídia digital da morte do músico Geraldo Flach.
 
Eu fiquei sabendo de sua morte através de uma crônica de Arthur de Faria na Zero Hora, e fui arrebatado por uma grande tristeza.
 
Em diversos portais da internet encontrei uma breve nota que algum órgão de imprensa escreveu dando um resumo da sua vida num parágrafo e citando 3 ou 4 músicas que ele escreveu para cantores famosos, sem fazer muita referência sobre a colaboração real de sua obra instrumental para a música Brasileira. Aquele mesmo release frio e resumido foi repetido por todos os portais mais importantes da internet brasileira, quase como uma obrigação de publicar alguma coisa, mas sem saber o que dizer…
 
Uma página que me chamou a atenção foi o caderno “cotidiano” da Folha, que deu um relato muito próprio daquele caderno,  narrando uns fatos de modo sutil, uma abordagem bem “cotidiana” para a vida dele, mas que não me deixou satisfeito. Fica uma coisa assim, nas entrelinhas: “Oh… a morte, esta coisa tão cotidiana… todos nós chegaremos lá um dia… O cidadão comum que morreu hoje foi Geraldo Flach.”
 
Parece que a passagem deste grande monstro-mestre do jazz e fusion e da criação instrumental Brasileira seria apenas mais um fato “cotidiano” que teria passado despercebido de todos, se não fosse minimamente comovente.
 
Enquanto isso, todos os deslizes e os peitos a mostra da Amy Winehouse no hotel do Rio ganharam as capas e vários minutos nas televisões e jornais do país.
 
É por este motivo, por rebeldia, pela paixão por tudo aquilo que passa despercebido da grande maioria, e que deveria ser a ordem do dia, por todos esses motivos é que existe esta coluna Rotas Alteradas.
 
Creio que a obra do grande Geraldo Flach será redescoberta no ano de 2024 quando os DJs mais “cabeça” estiverem remexendo nos arquivos da música brasileira do passado  atrás de “novos sons” que ficaram nas prateleiras de CDs dos sebos do centro da cidade.
 
Aí então os CDs estarão em extinção, e não os LPs como agora, e o soul-funk-brasileiro-parecido-com-tim-maia já estará saturado nas cabeças dos hypes de plantão.
 
Eu não acredito seriamente nisso, mas gostaria que sim…
 
Bem, eu vi pessoalmente alguns shows de Geraldo Flach aqui em Porto Alegre, e tenho bem nítidas na minha memória algumas marcas pessoais dele no palco.
 
Primeiro, o costume de quebrar o protocolo e falar com a platéia. Mesmo sem microfone, e ali mesmo sentadinho no banquinho do piano, no palco do “Salão de Atos da UFRGS”  ou no “Theatro São Pedro” com toda a pompa e circunstância merecida, Geraldo, no intervalo entre as músicas vira para o lado e conta histórias que só quem está sentado na primeira fila ouve… Mas é isso mesmo! Geraldo dá um ar intimista para sua apresentação como se estivesse ensaiando no estúdio em sua casa. E puxa cada vez mais, com muita humildade, a platéia a conversar e interagir, e ao final estimula as pessoas a cantarem junto com seu piano em voz alta o “Luar do Sertão”. Nessa hora, ouvindo a voz do público que o acompanha, Geraldo tem um enorme sorriso estampado na sua cara de lua…
 
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Esta característica de seu espetáculo está muito ligada com a outra faceta deste músico, que eu considero como a mais importante até: sua música instrumental ao piano transitava livremente entre os estilos do folclore, da música gaúcha, passando rapidamente para o território do jazz, e chegando até os limites do piano clássico.
 
Era uma imbolada!
 
A coisa que eu mais prezo de Geraldo Flach são seus “chamamés”. Ao memso tempo em que parecia que usava as 80 teclas de seu piano com tamanha destreza, o ritmo do chamamé corria delicioso e leve, e a gente tinha vontade de levantar no meio do teatro e sair dançando.
 
E esta faceta ele gostava de explorar tocando junto com seus amigos dos seus quartetos,  músicos como Borghetti, Luiz Carlos Borges ou Yamandu Costa, e o percussionista Fernando do Ó, ou o quarteto argentino “Los cuatro vientos” e tantos, tantos outros.
 
Ah! Esses ares que correm sobre as coxilhas do Rio Grande ainda levam consigo esses sons eternos, de Geraldo!
 
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Afonso Henrique Oliveira Félix