Hypocrisis By Luiz Afonso Alencastre Escosteguy / Share 0 Tweet Derrubamos uma árvore aqui, plantamos outra acolá e zeramos a equação da natureza. Lidar com a natureza é simples assim! Nem tão simples assim, porém, é lidar com gente repleta de interesses escusos. O prefeito de Porto Alegre já deu mostras suficientes de que o interesse privado está acima do interesse da população. E nisso há transparência. Mas não no caso das árvores! O atual prefeito entregou o Largo Glênio Peres para a Coca Cola. Lá colocou um chafariz patrocinado. E lá colocou o boneco da Copa, outro símbolo patrocinado. Há quem confunda – por conta da mídia – ter o futebol, público, com ser res publica, coisa pública e, portanto, bancado e alardeado pelo governo. Vistos e analisados os autos da questão; ponderados os prós e contras, resta-me apenas uma questão, velha e em forma de chavão: a visão de mundo. Os romanos impuseram a sua visão de mundo até que os cristãos os fizeram ver o quanto estavam errados: a dominação não deveria se dar pela força dos exércitos, mas pela força da fé. Os cristãos impuseram a sua visão de mundo até que a razão os fez ver o quanto estavam errados: a dominação não deveria se dar pela força da fé, mas pela força da razão! Resultado? Romanos, cristãos e donos da razão convivem sem harmonia até hoje. Acompanhados de perto por chineses, crentes em geral e loucos de todo gênero. Romanos desenvolveram o Direito que ainda hoje usamos; cristãos aplicam-no, adaptado, no tribunal do céu, onde os darwinianos e os loucos de todo gênero são barrados. No fundo, razão assiste àquele macaco do filme 2001, o que descobriu que poderia usar um osso contra tudo e contra todos. E assim regredimos aos tempos das cavernas: as autoridades de Porto Alegre levantam o osso contra tudo e contra quase todos. E, como não poderia deixar de ser, conta com o apoio dos macacos mais fracos (os que pensam usar de certa razão, a Justiça) para fazer valer a sua visão de mundo. E apelam para o raso argumento de que foram eleitos por ampla maioria da população. Mas pergunto: sabia essa maioria, ao tempo da campanha, que fazia parte dos planos do prefeito vender parte de Porto Alegre para a iniciativa privada? Alguém que votou na atual configuração do governo de Porto Alegre, de sã consciência, concorda não com a derrubada de árvores, mas com o “progresso” acima de qualquer coisa? Seria arrogância, da minha parte, afirmar que pouquíssimos teriam votado se soubessem disso? Escusos já eram os interesses ao tempo da eleição. Alguém sabia, por exemplo, que a duplicação da Avenida Tronco prevê a derrubada de mais de 1500 árvores? (aqui) Por um mundo sem macacos e seus ossos. Uma visão de mundo, apenas isso.