Um Clooney, dois filmes.

 Sempre deixei claro aqui que a grandiosa festa do Oscar não significa nada para o cinema em termos de qualidade, relevância ou inovações. Nem é sinônimo de belos roteiros, fotografia e direção. Quero dizer com isso que – independente de premiações e festas glamourosas – os filmes estão aí, para além daquela estátua careca, dourada e cafona.

 
Mas é óbvio também que alguns filmes só ganham destaque devido às premiações. Para o bem e para o mal. Por isso nem entrarei nos méritos das indicações dos dois filmes aqui analisados. Quem quiser fazer esse trabalho sabe que é simples e fácil.
 
George Clooney é o nosso personagem central. Em “Tudo pelo Poder” ele dirige, atua e co-assina o roteiro. Em “Os descendentes” faz o personagem principal.
 
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“Tudo pelo Poder” peca por uma repetição já um pouco monótona ao mostrar os bastidores da política norte-americana. Ou melhor, da atmosfera das eleições, com seus comitês, delegados, prévias, e tudo o que há de mais complicado no processo eleitoral norte-americano. Clooney é um dos candidatos democrata para concorrer à Presidência (uma espécie caricata de Obama). Parece justo e honesto, mas como todo político tem suas sujeiras bem escondidas. O leitmotiv do filme é desembaçar qualquer olhar ingênuo por parte do espectador acerca das politicagens que envolvem a “democracia”. Não existem mãos limpas, não existem bons moços. Em certo momento um dos marqueteiros da campanha – se é que posso falar assim – dirige-se ao futuro candidato à presidência (as palavras não são exatamente essas, e espero não estar estragando a pipoca de ninguém): “Você poderia ter feito tudo, roubar, trapacear. Mas você cometeu o único erro que não poderia cometer: comer a estagiária”. São os vícios da política norte-americana. Clooney, que havia dirigido um interessante “Boa noite, boa sorte”, cheio de valor histórico, agora nos dá apenas mais do mesmo. Talvez um pouco de preguiça em arriscar outras abordagens.
 
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Diretor do ótimo “Sideways”, Alexander Payne retorna em “Os Descendentes” com a mesma atmosfera algo melancólica, onde a burguesia expõe suas crises existenciais, neuroses, e certos problemas de consciência. Estamos no Havaí e Clooney faz esse homem em reconstrução. Após um acidente com a esposa ele precisa lidar com as filhas adolescentes, uma herança que pode afetar o paraíso Havaiano, e descobertas nada agradáveis sobre sua vida privada. É um clássico homem burguês em crise. Não há que se esperar muitas surpresas. A vantagem para outros filmes do gênero é que Payne consegue dar a forma certa a um conteúdo já um pouco gasto, o que acaba por provocar aquele sentimento de aproximação. Sobram a boa trilha sonora havaiana, belas locações, a boa atuação de Clooney, e um personagem secundário algo engraçado, meio deslocado.
 
Dois filmes meio domingueiros, com altos e baixos.  
        
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Diogo Brunner