A juventude que resiste no Irã


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Cinema iraniano sempre carrega nas costas uma pecha de hermético, ou de pseudo-intelectual, coisa para cinéfilo chato. Esqueçam tudo isso, e conheçam um Irã diferente, o Irã dos jovens que não querem ser controlados, que anseiam pela liberdade de poder formar uma banda ou assistir a filmes que venham de fora. Esse Irã, tão pouco conhecido para nós – que só vemos na grande mídia através das desventuras em série de seu ditador/presidente Ahmadinejad – é apresentado pelo diretor Bahman Ghobadi (do Tartarugas podem voar), em seu magnífico filme Ninguém sabe dos gatos persas. Pelo título já podemos presumir ou formar alguma idéia sobre o que está por vir.
 
 
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Teerã nos é mostrada com uma fotografia muito luminosa, utilizando muitas vezes a contraluz com o pôr do sol, ou planos rápidos da cidade com grandes panoramas, que nos permitem enxergar uma Teerã moderna, bonita e sobretudo colorida. Algo diferente do que vemos pela televisão. Mas essa beleza não esconde toda a repressão que ali é latente, onde qualquer ato que flerte com o mundo ocidental, ou que permita uma expansão do conhecimento é punido severamente com prisão e chibatadas.
 
É nesse contexto que entram Negar e Ashkan, um casal de músicos que tenta conseguir passaportes para sair do país e tocar num festival em Londres. Vemos, então, o funcionamento do mercado negro, a saídas criativas para poder ensaiar, e vamos acompanhando toda uma cena musical que ocorre – muito criativamente – pelos subsolos iranianos. Com uma câmera por vezes muito inquieta acompanhamos bandas, num ritmo frenético, que lutam e resistem para poder pôr sua arte nas ruas.
 
 
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Somos presenteados com uma trilha sonora riquíssima, ora cantada em inglês, ora em árabe, mas que realmente nos permite sair do lugar comum, viajar por lugares desconhecidos, se imiscuir nas mazelas do país através de um rapper iraniano. Há beleza no filme, há humor, uma técnica apurada, cores vivas como se mostrando uma saída possível. Os jovens de Ninguém sabe dos gatos persas, querem liberdade para sair do país, liberdade de expressão, poder ir e vir sem tomarem chibatadas por isso, mas em nenhum momento enxergo nisso um abandono, por parte dos personagens, ao país de origem. São iranianos e querem um país diferente, não apenas migrar para Europa, mas conseguir que o Irã mude. Eles não desistiram de seu país.
 
O casal de protagonistas, que creio não à toa possuírem o mesmo nome da vida real (Negar Shaghaghi, Ashkan Koshanejad), passa uma sensação de realidade no que estão fazendo, que é como se estivessem encenando a própria vida, a própria história. Quem sabe. Outro destaque vai para a cena com as velas. Em um show para 200 pessoas num lugar escondido qualquer e para não chamar atenção com luzes, são distribuídas velas para cada um dos convidados. O efeito cinematográfico é belíssimo.
 
O final vem como um aviso. Inesperado, trágico, indica que as saídas são escassas, a luta precisa ser contínua e coletiva. Interna e externa. Mesmo tragicamente vemos que o Irã vai além dos assassinatos por apedrejamento, enforcamento, repressão. Não se ouvia a juventude iraniana produzindo arte, realizando tentativas de transformação. Nas palavras do próprio diretor: o futuro do Irã está nas mãos desses jovens. Ninguém sabe dos gatos persas talvez não seja um filme denúncia, que bote o dedo diretamente na ferida, mas é um filme de resistência.
 
Observação: se alguém que passar por aqui, conhecer o filme e saber onde posso arrumar a trilha sonora dele, por favor, se manifeste.
 

 

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Diogo Brunner