velhos bebâdos barrigudos tocadores de blues – ta aí

Eu conheci o Saco de Ratos através da obra de Mário Bortolotto. Eu acompanhava a obra do dramaturgo e escritor, e toda a atmosfera, a vida que pairava ao redor. Eu sempre tive o Mário como mais escritor do que qualquer outra coisa, e isso continua assim. Tudo gira em torno das coisas que esse cara escreve, que é claro só aumenta em qualidade quando se junta a caras talentosos.
 
Esse documentário do Grima Grimaldi abre as portas e de certa forma causa uma união entre tudo que significa essa “obra”: letras, músicas, poemas, peças e textos. Uma junção sem concessões. Não há prioridades. Cada coisa toma o lugar que lhe é devido.
 
Isso aqui não é como um processo de caçar novos ouvintes para o Saco de Ratos (apesar da vontade que eu sinto de partilhar do meu sentimento ao ouvir esses caras) e sim para celebrar uma espécie de coletividade. Eu lembro que um tempo atrás eu escrevi aqui uma crítica do livro do Bortolotto, o “Dj – Canções para tocar no inferno”, que o Mário gostou e publicou no blog dele. Um tempo depois no facebook vi que o Grima – que até então não fazia parte do meu horizonte – havia lido e também elogiado o texto. Mal sabia que escreveria novamente sobre esse ambiente, e agora com o Grima em foco.
 
O cara fez um documentário nu e cru, de quem ta ali participando, sem o distanciamento higiênico de documentaristas que “olham de fora” e criam verdades distantes da realidade. As cenas meio “bastidores” da banda se aproximando pelas ruas, pequenos lapsos de conversas captados subterraneamente são de um sentimento extremo. Algo como união, criação de pequenos espaços de liberdade total. É como um agente infiltrado, que assume todas as conseqüências por apontar uma câmera para algo ou alguém.
 
Eu vi poucos shows do Saco de Ratos, mas todos foram intensos e rendem até hoje um sentimento saudosista – que envolvem coisas pessoais também – mas que dava uma sensação esquisita de sinceridade. Era nisso que eu pensava. Porra, isso é de verdade.
 
Rick, Mario, Pagoto, Brum, Watanabe (caralho, esse japonês ta engraçado no documentário), e o Grima, que não tem medo disso tudo. E ainda carrega uma câmera.
 
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Além disso, o mais chocante são as aparições. Renato Fernandes. Vi o cara em Campo Grande, e só posso dizer que ali também há verdades, vísceras e emoções profundas. Reinaldo Moraes, um dos meus ídolos na literatura e sem dúvida o grande escritor brasileiro vivo. O Bortolotto ta ligado sobre o que é ter um ídolo como o Reinaldo. Ae Grima, faltou um depoimento dele pô. Paulo César Peréio, sempre impagável. Todo o resto, e um todo.
 
Não sei como terminar, talvez eu fique com um simples sentimento de gratidão de ter ganho a minha noite. Talvez eu fique com “balada do velho quarteirão” e caralho isso já ta de bom tamanho.
“Agente fantasiava demais / agente lia demais / baby”.
 
E eu sei que faltou citar um monte de figurões aqui, mas enfim.
 
 
Nossa vida não vale um chevrolet mas com certeza vale isso ai ó (na íntegra): http://www.youtube.com/watch?v=jZN88vvhjJU
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Diogo Brunner