Cisne Negro (ou quando a arte invade a vida)


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Na coluna passada discutíamos Débora Seco, e sua repetição de caras e bocas. Agora temos Natalie Portman em grande forma. A atriz israelense mostra sua aura madura, sua facilidade em sair do papel da boa moça para adentrar o tormento, e quando falo em tormento, falo em arte. A arte como duas faces, construir e destruir.
 
natalie portman capa
 
Natalie consegue transitar entre o mundo “bom” e o “ruim”, a própria metáfora do cisne branco e do cisne negro. Estamos no Lago dos cisnes de Tchaikovsky. Sua personagem, Nina, sente maior dificuldade nessa transição, e isso é o maior obstáculo para assumir o papel ambíguo do bem e do mal. Natalie faz com coragem real, sua fragilidade nos bate no rosto, sua maldade está escondida e ela cava, cava na carne até achar as trevas.
 
Natalie, ou Nina, faz com que a arte invada o limiar da sua intimidade, transformando seu mundo privado em escola da vida artística, ao ponto de não saber mais onde cada um se enquadra.
 
O diretor Darren Aronofsky perturba, mostra as exigências do corpo dilacerado, e à conta gotas vai escrevendo a perturbação da mente, a ânsia pela perfeição da arte se imiscuindo na ânsia pela vida realizada, ao ponto de colocarmos em questão o que vale a pena. Ao ponto de colocarmos até que ponto a arte transforma ou transtorna.
 
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Cisne negro é daqueles filmes que ficamos imaginando, que levamos para a rua e pensamos em intensidade, em histórias bem filmadas. Puxando pela memória filmes equivalentes, lembrei do filme do Beto Brant, diretor brasileiro, chamado “Crime Delicado” que trata um pouco da arte que arromba as portas do mundo privado. Uma velha crise, ensangüentada, posto que dolorida e traumatizante. 
 
Pensando em limiares, em coisas pequenas, quando a arte invade nosso cotidiano enquanto espectador, somos como que abusados por coisas desconhecidas, e na perturbação que explode a vida voltamos à nossa velha verdade de que o dia de 24 horas precisa ser transformado com sangue, o sangue dos olhos de Nina. As lágrimas estão presas nas portas sem chaves do cisne negro.
 
Importante salientar também a atuação sempre intensa de Vincent Cassel com suas feições um tanto quanto violentas.
 
Do mais ficam as cenas cinematograficamente primorosas de alguém flertando com a loucura, colocando a perfeição como um totem a ser alcançado, a arte como reflexo da vida, que por ser tão prejudicada e imperfeita, acaba numa busca incessante pela tragédia. Bela. Feia. Linda e triste. 
 
 
 
 

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Diogo Brunner