Cidadão do Mundo?

Charles Chaplin estava errado, não somos cidadãos do mundo. Até onde podemos ir? Onde estão as fronteiras da nossa liberdade?

crianca-mundoLembro-me muito bem da primeira vez em que me deparei com o termo “cidadão do mundo”. Foi em uma biografia do Charles Chaplin (esses livrinhos ‘meia-boca’ que encontramos à venda em bancas de jornal), em que ele recusava o título de cidadão britânico e se considerava parte da totalidade, um cidadão do mundo. Posteriormente, por pura ingenuidade de minha parte, acabei descobrindo que o embrião destes dizeres foi Sócrates, e também cheguei à conclusão de que ambos se equivocaram.

Definitivamente, não temos esse acesso global, esse direito de ir e vir que os auto-proclamados cidadãos do mundo insistem em possuir. “Um mundo sem fronteiras” é um desejo tipicamente totalitário e é fácil encontrarmos idealistas desse tipo nos livros de história.

As fronteiras existem, e mesmo que sejam de difícil aceitação para muitos, elas são na maioria das vezes mais que necessárias; na verdade elas são a gênese da diversidade cultural dos povos através dos tempos. Territorialidades culturais são essenciais para a diversidade cultural verdadeira. Sejamos imparciais, fronteiras que às vezes são demarcadas por sangue, vide casos regionais atuais como a Palestina e o desafio de se colocar dois grupos culturais e religiosos sob um mesmo território. Até porque, muito mais importantes que as fronteiras políticas, são as fronteiras culturais que regem e preservam um determinado grupo étnico em um determinado território.

Não vou chegar ao ponto de concluir que estamos condenados a viver num mesmo metro quadrado eternamente, muito menos que sou a favor de segregações forçadas. O ponto-chave é o questionamento de “até onde podemos ir” e quais são as linhas que delimitam (política, social ou culturalmente) esse nosso deslocamento e ação no espaço.

Para os que acham que o turismo talvez sirva como a “resposta ideal” para essa pergunta, basta ressaltar que o lazer turístico sempre funcionou numa lógica de “apartheid social”, onde só é turista aquele que tem condições financeiras para tal ato. Esse poder está nas mãos de uma minoria quando pensamos em países subdesenvolvidos e emergentes.

Por fim, deixo aqui a questão para o leitor refletir: você se considera um verdadeiro “cidadão do mundo”, ou encaixa esse termo num estereótipo de pseudo-liberdade? Até onde você pode ir?

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Hevisley Ferreira