Todos estão surdos


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Nunca se vendeu tanto carro no Brasil. Reflexo de um clima econômico favorável, as vendas atingiram quase dois milhões e meio de unidades em 2007, notável incremento em relação às quase 1,3 milhão de unidades comercializados em 1998. As fábricas trabalham em múltiplos turnos e não dão conta da demanda. No acumulado dos quatro primeiros meses de 2008, foram vendidas 909 mil unidades, incremento de 35% sobre o mesmo período no ano anterior.

Nunca se vendeu tanto carro no Brasil. Reflexo de um clima econômico favorável, as vendas atingiram quase dois milhões e meio de unidades em 2007, notável incremento em relação às quase 1,3 milhão de unidades comercializados em 1998. As fábricas trabalham em múltiplos turnos e não dão conta da demanda. No acumulado dos quatro primeiros meses de 2008, foram vendidas 909 mil unidades, incremento de 35% sobre o mesmo período no ano anterior.

A frota brasileira, de 17,6 milhões de unidades em 1997, ultrapassou os 24 milhões em 2007, ampliando-se hoje à razão de um milhão de unidades ao ano. Grande dúvida é relativa à aplicabilidade de um modelo de massificação do transporte individual, com o conseqüente desestímulo ao transporte coletivo. A circulação de pessoas nas grandes cidades é cada vez mais complicada, em razão dos congestionamentos. Por vezes, a velocidade média dos carros é inferior à de um pedestre. Perde-se um tempo incrível em engarrafamentos. Já existe até uma “cultura do trânsito”: rádios e televisões valem-se de helicópteros para informar à audiência, em tempo real, as condições de tráfego. Em São Paulo, uma emissora FM dedica-se única e exclusivamente a falar sobre o trânsito da cidade.

Parece mais e mais evidente que a frota de automóveis se expande a uma velocidade muitíssimo superior à expansão da estrutura viária. Ou seja: se hoje a situação já é ruim, tende a ser pior no futuro.

Por isso, surpreendo-me com a miopia política observada em nossas administrações municipais, estaduais e federal. Por óbvio que seja que o modelo “um carro em cada garagem” está condenado, muito se faz contra o transporte coletivo.

Os exemplos se sucedem ao longo dos anos. Desde 2002, o governo estadual destinou a moderna pista de descida da Rodovia dos Imigrantes, que liga São Paulo a portos e praias, apenas a carros e motocicletas, sendo vedado o tráfego de ônibus e caminhões. O prefeito de São Paulo construiu “modernosa” ponte, dedicada apenas a carros e motos, proibida para ônibus, caminhões e pedestres. Por fim, o governo federal, em seu recente pacote de estímulo à produção industrial, destinou 53% dos incentivos fiscais para a indústria automobilística – coisa de R$3,2 bilhões concentrados em um dos setores que mais cresce em nossa economia, sendo também dos que menos precisam de estímulos extras envolvendo renúncia fiscal.

Como já disse profeticamente Roberto Carlos em velha canção, “todos estão surdos” – por certo em razão do ruído de motores, freadas, escapamentos e buzinas. Os mais surdos de todos, porém, parecem ser nossos governantes, que em detrimento da coletividade continuam a estimular “soluções” individuais.

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Ricardo Montero