Artigos By Bruno Cardoso / Share 0 Tweet Um debate constante entre pessoas de uma mesma opinião só pode resultar em estupidez. A internet, ao longo da última década, tornou-se uma ferramenta indispensável e um gigantesco veículo de troca de conhecimento e informação. No entanto, apesar do público heterogêneo e das incontáveis possibilidades de debates e discussões entre pessoas fisicamente distantes, o lado democrático acaba perdendo espaço para os nichos. Um debate constante entre pessoas de uma mesma opinião só pode resultar em estupidez. A internet, ao longo da última década, tornou-se uma ferramenta indispensável e um gigantesco veículo de troca de conhecimento e informação. No entanto, apesar do público heterogêneo e das incontáveis possibilidades de debates e discussões entre pessoas fisicamente distantes, o lado democrático acaba perdendo espaço para os nichos. O problema aqui não é a reunião de semelhantes, é claro, pois este é um dos grandes atrativos da rede. A questão é que o internauta, de modo geral, entra em contato apenas com aquilo que lhe agrada ou que diz respeito aos nichos aos quais pertence, de forma que qualquer outra coisa acaba sendo ignorada com a facilidade de um clique — ou de um não-clique. Os debates, então, que servem não para apontar o que é certo ou errado, mas para enriquecer ambos os lados com opiniões diferentes, acabam sendo substituídos por discussões auto-referenciativas, sem oposição, que aos poucos fazem dos nichos um terreno propício ao extremismo. O fenômeno é notável principalmente em site e blogs políticos, onde os lados ou partidos tendem a se fechar em torno de seus próprios ideais, de tal modo que uma manifestação externa e de posicionamento diferente é quase sempre afastada com energia e sem qualquer discussão. Sem algo que possa refrear ou direcionar racionalmente a evolução narcisística desses grupos, as idéias, pouco a pouco, flertam com o radicalismo e tornam-se ainda mais polarizadas do que antes. Em parte, a culpa pela hostilidade nos debates virtuais pode ser atribuída justamente à distância e à impessoalidade dos participantes, uma vez que ofensas ou quaisquer outras atitudes reprováveis em discussões no mundo real tornam-se um lugar comum aos vários orgulhosos e irredutíveis. Não critico, porém, o anonimato — mesmo este sendo sedutor o bastante para fazer o indivíduo deixar de lado o bom senso –, mas sim a impostura e falta de ética nas relações com os demais avatares. O respeito pelo próximo se evapora tão logo um assunto mais controverso entra em pauta e, no furor das opiniões distintas, os iguais discutem entre si, em busca ávida pelo acordo em qualquer leviandade. Vemos a subversão da internet como ferramenta anárquica em um mero agente evangelizador, cujo intuito de afagar os egos dos já bem decididos torna cada vez mais difícil a conciliação de opiniões e a construção de debates saudáveis e elucidativos para qualquer uma das partes. As vantagens da diversidade acabam ofuscadas pela intolerância: pois quanto mais homogêneo, mais limitado e mais idiota.