Burrocráticas By Lia Drumond / Share 0 Tweet Você trabalha em escritório, jornada de 40 horas semanais, aquela coisa toda? Já pensou em fugir? Esse texto, que é minha estréia aqui no OPS, vou falar do sonho de liberdade que inspira o universo corporativo. E você? Já quis fugir? Talvez já tenha acontecido com você, ou vai acontecer algum dia. A clausura que o ambiente corporativo impõe dá margem para muita loucura, muito desejo. O mais radical de todos esses sonhos é mudar de vida. Quem nunca ouviu o caso do fulano que era engenheiro/advogado/executivo e um dia resolveu jogar tudo pro alto pra viver longe do estresse urbano e se deu bem? Reportagens sobre esse tipo de sucesso rendem boa audiência, não são poucos os que gostariam de ter apenas uma oportunidade para mudar de vida e fugir do escritório. Não é por acaso que as corporações se preocupam cada vez mais com o ambiente de trabalho, o estresse pode causar doenças e a empresa perde dinheiro quando um funcionário precisa se afastar por estar com os nervos em frangalhos. Os finais de semana são reveladores, a maioria das pessoas veste a roupa que gostaria de usar todos os dias e algumas fazem o que gostariam de fazer a vida toda se não precisassem trabalhar. Aí a turma se divide, há os que cuidam de uma família e então dedicam os finais de semana às obrigações sociais como fazer compras para casa, visitar a sogra, levar os filhos para passear e, se tiver sorte, descansar; e há os que aproveitam para se divertir em atividades diversas. O final de semana é a redenção do trabalho corporativo. As conversas da segunda-feira geralmente são sobre as coisas incríveis do fim de semana: a aula de teatro que o fulano freqüenta na esperança de um dia ser descoberto como um grande artista, a série de ondas iradas que o cicrano pegou na esperança de um dia poder viver na praia e surfar todo dia, a trilha off-road super difícil que o beltrano fez na esperança de um dia participar de uma aventura de verdade. A vontade de ser diferente é comum num ambiente onde quase tudo é igual, as mesmas baias, os mesmos horários, o mesmo cenário, rotina, roupas parecidas, todo mundo trabalhando no mesmo lugar, todo dia. Ninguém sonha em ser Gerente Administrativo quando é criança, e a imaginação atormenta pelo resto da vida quem sonhava com uma coisa, mas se contentou com o que era mais acessível. Por isso os casos de sucesso de quem fugiu do escritório são uma inspiração, o comportamento no ambiente de trabalho é sempre subordinado a normas de conduta arbitrárias como não usar bigode ou unhas vermelhas. Trabalhar fora do mundo corporativo pode ser tão atraente quanto os altos rendimentos de grandes corporações, mas é preciso muita coragem para deixar um modelo testado e funcional pela incerteza da liberdade.