Teoria dos Jogos: “O Big Bang”

Como prometido no artigo anterior, demonstrarei melhor e mais detalhadamente os conceitos, aplicações e versões envolvendo Teoria dos Jogos. Antes me deixe agradecer do fundo do coração a todas as pessoas que leram o primeiro artigo, os que comentaram que sugeriram que criticaram, ou que simplesmente visitaram a página, espero e faço votos que continuem acompanhando…

Como pequena introdução uma famosa frase de um dos criados da teoria, com vocês o pai de todos: Oskar Morgenstern (1944):
"A Teoria dos Jogos é matéria nova que despertou grande interesse em razão de suas propriedades matemáticas inéditas e suas múltiplas aplicações à problemas sociais, econômicos e políticos. A teoria atravessa fase de ativo desenvolvimento. Seus efeitos sobre as ciências sociais já começaram a manifestar-se ao longo de um largo espectro. Suas aplicações se vêm tornando cada vez mais numerosas e dizendo respeito a questões altamente significativas enfrentadas pelos cientistas sociais, mercê do fato de que a estrutura matemática da teoria difere profundamente de anteriores tentativas de propiciar fundamento matemático aos fenômenos sociais. Primeiros esforços em tal sentido foram feitos com base nas ciências físicas e se inspiram no impressionante êxito por elas alcançado ao longo dos séculos. Ocorre, porém, que os fenômenos sociais são diferentes: os homens algumas vezes lutam uns contra os outros e algumas vezes cooperam entre si, dispõem de diferentes graus de informação acerca do próximo, e suas aspirações os conduzem ao conflito ou à colaboração. A natureza inanimada não exibe qualquer desses traços. Átomos, moléculas, estrela podem aglomerar-se, colidir, explodir, mas nunca se hostilizam, nem colaboram uns com os outros. Conseqüentemente, era de duvidar que os métodos e conceitos desenvolvidos pelas ciências físicas pudessem lograr êxito quando aplicados a problemas sociais.”

Os jogos acompanham os seres humanos desde a pré-história. Jogos de tabuleiros, como o chamado Jogo Real de UR, que originou mais tarde os atuais jogos de tabuleiro como xadrez e damas, foram encontrados em escavações na região da antiga cidade Sumérica de Ur, na Mesopotânia, e datam de aproximadamente 3000 a.C. Mas só a partir de século XVI, com os trabalhos do médico, matemático e filósofo italiano Gerolamo Cardano (1501 – 1576) que a importância dos jogos assumiu caráter científico.
A definição de Teoria dos Jogos é: a ciência da estratégia. Procura determinar matemática e logicamente as atitudes que os jogadores (no caso específico do nosso estudo as organizações), devem tomar para assegurar os melhores resultados para si próprios num conjunto alargado de “jogos”. O amplo leque de “jogos” vai do xadrez a educação dos filhos, do tênis às aquisições.
A Teoria dos Jogos é uma teoria matemática sobre conflito e colaboração, de situações nas quais se pode favorecer ou contrariar um ao outro, ou ambos ao mesmo tempo. Para alguns jogos, a teoria pode indicar uma “solução” para o jogo, isto é, a melhor maneira a proceder para cada uma das pessoas envolvida. No entanto, na maioria dos jogos que descrevem problemas reais, ela só nos fornece uma visão geral da situação descartando algumas “jogadas” que não levarão a; bons resultados.
John Nash Forbes Jr (1928) um dos grandes; se não o maior, colaborador da Teoria dos Jogos até hoje, foi condecorado com o Prêmio Nobel de Economia em 1994 (por seus estudos em Teoria dos Jogos na Economia), e teve sua vida retratada no Filme: “Uma Mente Brilhante”, identifica três versões distintas para aplicação da teoria dos jogos – a econômica, a psicológica e a sociológica.
Versão Econômica: Interpreta os acontecimentos sociais por meio dos modelos de jogos de estratégia, ou seja, diante de certa gama de opções, os agentes escolheriam aquelas estratégias de ação que lhes fossem mais vantajosas de acordo com um cálculo acerca de sua probabilidade e satisfação máxima de sua utilidade. Uma estratégia é a lista de opções ótimas para cada organização, em qualquer momento. Para poder deduzir as estratégias ótimas sob diferentes variáveis quanto ao comportamento humano do resto dos agentes, as hipóteses têm que analisar diferentes aspectos: as conseqüências das diversas estratégias possíveis, as possíveis alianças, o grau de compromisso dos contratos e o grau em que cada acontecimento se repetir; proporcionando informações sobre as diferentes estratégias possíveis.
Versão Psicológica: A Teoria dos Jogos se torna ainda mais subjetiva se passar a levar em conta a intencionalidade dos agentes. Uma vez que a ignorância e o conhecimento das organizações passam a ser estimado como ruído, as idéias de informação incompleta e de utilidade esperada passam a desempenhar um papel fundamental. Troca-se o modelo de organizações completamente informadas em uma racionalidade coletiva perfeita por um modelo em que à intenção e as expectativas em relação aos outros passam a ser decisiva. Levando em conta um determinado número de ações interdependentes, não há um único resultado final, mas sim um número indeterminado de soluções possíveis, de equilíbrio relativo para o sistema. O número possível de soluções se multiplica bastante se admitirmos que as pessoas reais geralmente priorizem táticas suficientes para a realização de suas metas imediatas e não estratégicas ótimas. Para lidar com esta complexidade de resultados possíveis, introduziu-se a noção de informação imperfeita, por meio da distinção entra probabilidade aos vários resultados, ao passo que, confrontadas com situações de valor estimado de cada ação quando enfrentam o risco.
Versão Sociológica: Essa versão combina probabilidades lógicas e subjetivas das organizações em seu modelo e adotando definitivamente as idéias de ‘mundo aberto’ e ‘observador esterno’. O fundamental é entender, revisando e superando as contribuições anteriores, amplia o papel da incerteza porque não faz distinção entre ruído externo e o intersubjetivo. Com isto, a estratégia passa a ter uma função de autoconhecimento.
O ponto de partida da Teoria dos Jogos – em sua missão de equacionar, por meio da matemática, os conflitos de interesse que acontecem a todo instante na sociedade e no mundo dos negócios – é constatar que, de modo geral, a tendência entre as organizações é maximizar o ganho individual. Nem as sociedades mais civilizadas conseguiram resolver esse dilema entre o pessoal e o coletivo. É obvio que se todos se comportassem de forma altruísta não haveria dilema algum. Mas a vida real não é assim. E ao estudar por que não é assim, a Teoria dos Jogos despede-se de qualquer julgamento moral. Ao tentar os conflitos por meio da matemática e da lógica não existe espaço para conceitos como bem ou mal. O foco são as estratégias utilizadas pelas organizações. O porquê de determinadas ações. Não certo ou errado. A Teoria dos Jogos não manda ninguém nem para o céu nem para o inferno. Apenas, decodifica a equação que compõe cada tomada de decisão, e tenta compreender a economia interna das situações.

Próximo artigo: Competir ou Colaborar? Eis a questão!

Valdir Vitorino
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