Demografia By José Eustáquio Diniz Alves / Share 0 Tweet “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém diz violentas as margens que o oprimem”. Bertolt Brecht No dia 25 de janeiro de 2012 São Paulo comemora 458 anos sendo a cidade mais populosa e mais rica (em tamanho do PIB) do Brasil. Quando foi inaugurada, em 1554, era apenas uma pequena e pobre vila em torno do colégio jesuíta de Piratininga, instalado entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí, afluentes do Rio Tietê, palavra que na língua Tupi quer dizer “água pura” ou “água verdadeira”. O Rio Tietê tem uma peculiaridade interessante. Ele nasce bem perto do litoral, mas devido à barreira da Serra do Mar, corre para o interior. Isto possibilitou que, por seu curso, os Bandeirantes conseguissem penetrar o interior do Brasil e expandissem as suas fronteiras. Por exemplo, a atual cidade de Ouro Preto está mais perto do Rio de Janeiro do que de São Paulo, mas foram os Bandeirantes que descobriram o ouro e colonizaram a Vila Rica de Minas Gerais. Mas, fundamentalmente, o Rio Tietê e seus afluentes foram essenciais para o desenvolvimento da capital paulista na medida em que forneciam – além de peixes – água pura e verdadeira para o crescimento da população, da agricultura, do comércio e da industria da cidade. Também existem diversas represas e usinas geradoras de energia ao longo da bacia hidrográfica. São Paulo é fruto do Tietê, assim como o Egito é fruto do Nilo. Mas os aniversários de São Paulo foram passando e os únicos presentes que o Rio ganhou foram esgotos, dejetos, lixo e os restos da festa paulistana. Toda a mata ciliar do rio foi destruída sem dó e piedade. As vargens foram drenadas. As margens foram estreitadas. E o leito original foi reduzido. Com a poluição dos esgotos, dos resíduos sólidos e dos efluentes industriais o Rio Tietê se transformou em um esgoto a céu aberto. Nem os usuários da cracolândia usam o Rio Tietê. Sem oxigênio, virou “rio da morte” que exala mau cheiro e envergonha os cidadãos da cidade, do estado e do país. Fico pensando como a cidade de São Paulo seria mais alegre, mais bonita, mais agradável e mais convivial se a bacia hidrográfica do Rio Tietê estivesse mínimamente próxima do que já foi no passado: com suas matas ciliares, com as águas limpas, com os peixes, com as demais plantas aquáticas, com as aves, enfim, com a vida em toda a sua diversidade e explendor. Mas ao invés disto, o que existe é uma selva de pedra, onde o verde foi substituído pelo concreto e pelo asfalto, a especulação imobiliária transformou em lucro cada pedaço de chão e as pessoas normais passam horas presas em engarrafamentos monstruosos, enquanto os ricos se deslocam de helicópetero. Para complicar a situação, em toda temporada de chuva, São Paulo fica debaixo d’água. Os prejuízos econômicos são enormes. Alguns acusam o pobre rio. Outros dizem que o Rio Tietê transborda e segura as águas pluviais por vingança. Mas, na realidade, o rio não tem esta característica tipicamente racional. O que acontece todo ano, quando a bacia do Rio Tietê transborda, não é uma retaliação às maldades humanas. É apenas o choro de uma obra da natureza que perdeu a sua beleza e sua pureza original.