A Pastoral da Criança e a redução da mortalidade infantil

Uma das obras sociais mais impactantes da Igreja Católica no Brasil foi a criação e o engajamento da Pastoral da Criança no trabalho de redução da mortalidade infantil no Brasil. Quando a Pastoral foi criada, em 1983, as taxas de mortalidade infantil no Brasil estavam em torno de 62 por mil. Atualmente morrem em torno de 20 crianças para cada mil nascidas vivas. A queda foi significativa, especialmente se consideramos que na década de 1980 houve redução na renda per capita do país e na década de 1990 o crescimento econômico foi muito baixo, mantendo alta proporção da população brasileira na pobreza.

Evidentemente são muitos os determinantes da redução da mortalidade infantil: o aumento do nível educacional dos pais, em especial das mães, as melhores condições de saneamento e higiene, o maior acesso à água tratada, a queda da fecundidade e o aumento do espaçamento entre os nascimentos, o aumento da segurança alimentar, etc.

Porém, o envolvimento da Igreja Católica em ações concretas para salvar vidas de crianças foi uma fator que acelerou o processo de transição da mortalidade infantil. O papel da médica pediatra e sanitarista Zilda Arns foi essencial. De sua participação e determinação foi criada a Pastoral da Criança que é uma organização não-governamental vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A idéia central utilizada pela Pastoral foi mobilizar voluntários para acompanhar o desenvolvimento das crianças pobres, orientar as mães, coordenar a produção de uma multimistura (complemento alimentar conhecida como “farinha milagrosa”) e uma ampla campanha de aleitamento materno.

As ações da Pastoral da Criança no sentido da promoção do desenvolvimento infantil e a melhoria da qualidade de vida só foram possíveis graças ao uso do trabalho voluntário. Segundo o site oficial da organização: “Mais de 261 mil pessoas acompanham mais de 1,8 milhão de crianças e 95 mil gestantes em mais de 42 mil comunidades de 4.066 municípios brasileiros. As ações dessas pessoas ajudam a reduzir a desnutrição, a mortalidade infantil e ainda promovem a paz e a justiça social nos grandes bolsões de pobreza e miséria do país. Todo trabalho tem como base a solidariedade e a multiplicação do saber. O resultado é a promoção humana e o fortalecimento do tecido social das comunidades. Na Pastoral da Criança, cada líder voluntário dedica, em média, 24 horas ao mês a esse trabalho. No Brasil, foram realizadas 21.341.982 visitas domiciliares em 2007” (http://www.pastoraldacrianca.org.br/)

O método de atenção às gestantes pobres e às crianças desnutridas, proposto por Dona Zilda Arns, passou a ser adotado em vários países da América Latina e da África. Por essa razão ela se encontrava no Haiti em sua missão de salvar vidas, mas por capricho do destino, perdeu a sua própria vida se doando ao trabalho altruísta. Ela nos deixa, de herança, o sonho de salvar vidas por meio de ações comunitárias e voluntárias da sociedade, sem deixar de considerar as obrigações do Estado e o papel do Terceiro Setor em ações de responsabilidade social.

A Dra. Zilda Arns nos deixa, antes de tudo, um exemplo de atuação social voluntária com a comunidade e pela comunidade e a crença de que a mortalidade infantil não é uma fatalidade imposta por desígnos superiores, mas sim um problema de saúde pública que pode e deve ser resolvido com a união de todos e a vontade geral. A trágica morte de Zilda Arns não impedirá que milhares de vidas continuem sendo salvas e que a infância seja valorizada em todo o mundo, inclusive no Haiti.

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José Eustáquio Diniz Alves