As maratonas femininas no esporte e na política

As mulheres não participaram da primeira olimpíada da era moderna, em 1896, em Atenas. Nesta época nenhuma mulher do mundo tinha o direito de voto e estavam excluídas da política. Muita coisa começou a mudar nas primeiras décadas do século XX.

No Brasil, as mulheres estavam somente na platéia quando o assunto era esporte ou política nas primeiras três décadas do século passado. Naquele tempo, as mulheres não participaram das primeiras olimpíadas e não tinham o direito de voto. Coincidentemente, foi em 1932 que as mulheres brasileiras conquistaram o direito de voto e Maria Lenk, nadando em Los Angeles, se tornou a primeira brasileira a disputar uma olimpíada.
Em 1964, Aída Santos, do atletismo, foi a única mulher na delegação brasileira nas olimpíadas de Tóquio. Nas olimpíadas de Munique, em 1972, o Brasil mandou à Alemanha 89 atletas, sendo somente 5 mulheres, representando 5,6% da delegação. Para a olimpíada de Sidney, em 2000, o Brasil mandou 204 atletas, sendo 96 mulheres. Para Pequim, os últimos dados mostram que o Brasil vai mandar um número recorde de atletas – 272 no total – e de mulheres: 127 atletas do sexo feminino, representando 47% da delegação.
No esporte houve uma melhora significativa na participação de gênero, uma vez que a paridade entre homens e mulheres foi quase atingida. Espera-se que a maior participação feminina se traduza em uma conquista maior de medalhas, como aconteceu em Atlanta, em 1996, quando Jacqueline Silva e Sandra Pires, no vôlei de praia, conquistaram a primeira medalha de ouro feminina da história brasileira das olimpíadas.
Na maratona política, entretanto, as mulheres continuam engatinhando. A participação feminina é de apenas 12,3% no Senado, de 9,0% na Câmara Federal, de 11,6% nas Assembléias Legislativas, de 12,7% nas Câmaras Municipais e de 7,4% nas prefeituras municipais. O Brasil tem a menor representação parlamentar feminina da América do Sul.
Cabe então uma pergunta: por que as mulheres estão à toda nos esportes mas continuam patinando na política? Será que as mulheres não têm aptidão para o parlamento e os cargos executivos? Ou será que elas estão competindo em condições desfavoráveis?
Os dados mostram que a competição desigual tem sido a regra do jogo político. Várias pesquisas confirmam que o eleitorado não discrimina as mulheres. Todavia, o contrário se dá com os partidos que não se esforçam para completar a cota de 30% para as candidaturas femininas. Basta ver que de um total de quase 380 mil candidatos a vereadores nos municípios brasileiros, em 2008, somente 21% são mulheres. A exclusão das mulheres do processo eleitoral não é uma decorrência de uma suposta aversão feminina à política, como querem alguns.
A exclusão começa quando os partidos não as indicam para os cargos de primeiro escalão. O governo Lula possui, atualmente, apenas duas ministras e uma quase completa exclusão feminina da direção das empresas e órgãos estatais. Nas Unidades da Federação são poucas as secretárias estaduais indicadas pelos governadores. Como vencer as eleições se as mulheres não ocupam cargos de projeção?
Estudos acadêmicos já comprovaram que o número de mulheres eleitas aumenta quando aumenta o número de candidatas com igualdade de oportunidade na disputa eleitoral. Portanto, para haver justiça, basta modificar a legislação eleitoral e implantar uma lei de paridade reservando metade das candidaturas para cada sexo. Com maiores opcões de escolha, o eleitorado daria a palavra final sobre os homens e mulheres que seriam seus representantes.
No começo do século, houve muito preconceito contra a participação das mulheres nos esportes. Hoje, este preconceito soa totalmente anacrônico. O mesmo não se pode dizer da misoginia política. A ausência feminina no poder tem sido uma das principais causas da desigualdade de gênero na sociedade. Através da exclusão política outros preconceitos contra as mulheres são perpetuados.
A participação equilibrada de homens e mulheres no processo decisório é condição para que haja justiça social, prosperidade e bem-estar. Como disse o revolucionário francês Charles Fourier, há quase 200 anos: “O grau de emancipação da mulher numa sociedade é o barômetro natural pelo qual se mede a emancipação geral”.
Desta forma, a paridade de gênero na política, assim como nos esportes, seria um passo decisivo para a emancipação das mulheres e o desenvolvimento do Brasil, condição para um melhor desempenho do país no cenário interno e internacional.
 
 
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José Eustáquio Diniz Alves