Cachaça, cerveja e esperança de vida


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O cidadão vai ao banco e pega seu dinheiro (do Bolsa Família), compra pão para sua
família, compra os gêneros de primeira necessidade (….) mas, mesmo que uma família
compre uma cachaça por mês, são 11 ou 12 milhões de garrafas de cachaça.
Isso ajuda toda a economia
Cândido Vaccarezza (PT-SP), em 01/03/2011

O Brasil é um país leniente com o uso (e abuso) de bebida alcoólica e seus danos para as pessoas, a economia e o bem-estar da população. A bebida alcoólica é uma das causas da redução da esperança de vida e do aumento do número de óbitos, especialmente entre a população masculina.

As mortes por causas externas, no Brasil, foram responsáveis por 134 mil mortes, em 2008. Entre os homens, foram 47 mil óbitos por acidentes de trânsito, 52 mil por homícidios e agressões e 11 mil por causas violentas não determinadas. Entre as mulheres foram 13 mil óbitos por acidentes de trânsito, 6 mil por homícidios e agressões e 3 mil por causas violentas não determinadas. Somando os dados dos anos 2000 e 2007, foram assassinados no Brasil 355.612 homens. No mesmo período foram assassinadas 30.906 mulheres. Em 2008 foram assassinados 130 homens e 10 mulheres por dia, segundo o sistema de informações de mortalidade do DATASUS. Isto significa que a cada 2 horas uma mulher e onze homens foram assassinados no país.

Evidentemente a má conservação das estradas brasileiras e as imprudências explicam grande parte dos acidentes de trânsito. O tráfico de drogas explica muito da violência. Mas sem dúvida a bebida alcoólica é uma das grandes responsáveis tanto pelos acidentes de trânsito, quanto da violência em geral e da violência doméstica.

A pesquisa nacional sobre nível de consumo de alcoól da população brasileira (UNIFESP/SENAD, 2007) mostrou que existem cerca de 14% dos homens e 4% das mulheres dependentes do uso de alcoól, além de um número expressivo de pessoas que declaram uso ocasional de bebida. Diversos estudos epidemiológicos mostram que o abuso no uso de bebidas alcoólicas diminuem a esperança de vida para ambos os sexos, mas é mais pronunciado na redução do tempo de vida dos homens, os maiores usuários.

O efeito social e econômico das mortes externas e das mortes provocadas pelo uso de bebidas alcoólicas é muito grande. O Brasil tem um enorme prejuízo econômico com esta mortalidade que poderia ser evitada. As famílias sofrem muito com país e/ou filhos alcoólicos que comprometem o futuro do país. Além das mortes, tem o custos de internação e de cuidados com dependentes alcoólicos ou com acidentes provocados por pessoas que abusam – mesmo que por apenas um dia – do consumo de bebidas alcoólicas.

É neste sentido que se torna desastrosa e afrontosa a declaração do deputado Cândido Vaccarezza, líder do governo, dizendo que um possível aumento do consumo de cachaça, em decorrência dos benefícios do Programa Bolsa Família seria bom para a economia brasileira. O ilustre deputado deveria saber que o aumento da produção e do consumo de cachaça não é bom nem para a economia e nem para o dia a dia das famílias e das pessoas.

Mas a apologia do uso de bebidas é uma grande fonte de lucro. Diversos artistas fazem propaganda de cerveja. Ivete Sangalo e Zeca Garotinho são campeões da propaganda e possuem polpudas contas bancárias preenchidas com a venda do direito de imagem. Imagine quantas pessoas não morreram para sustentar esta máquina de propaganda e consumo.

Recentemente uma marca de cerveja incluiu cantores como Samuel Rosa e Sandy na sua lista de pagamento, visando diversificar e ampliar o público que vai sofrer os efeitos do alcoolismo. São muitos artistas que ganham milhões fazendo propaganda sem se preocupar com os efeitos do alcoolismo na redução da esperança de vida e nos prejuízos econômicos das mortes precoces e das internações hospitalares.

Outro exemplo acontece na seleção brasileira que mudou de técnico e de equipe depois do fracasso na África do Sul. Porém, o que não mudou foi o uso da seleção de futebol como chamariz para induzir os jovens ao consumo de alcoól. O técnico Mano Menezes – que não tem apresentado bons resultados dentro de campo – tem dado um show de bola na propaganda de uma determinada marca de cerveja. Muitos jovens seguem os apelos do técnico boa praça da seleção brasileira de futebol e vão reproduzir festas e bebedeiras, como aquelas que desencadearam os fatos que desaguaram na prisão do goleiro Bruno.

Mas tudo isto não parece preocupar as autoridades governamentais, a mídia e a opinião pública brasileira. Afinal estamos na semana pré-carnaval. O Brasil é um país alegre e a bebida alcoólica é um dos combustíveis desta alegria. Para que se preocupar com mortes, vícios, doenças, violências e redução da esperança de vida? Viva a cordialidade brasileira.

Feliz carnaval 2011!!!!

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José Eustáquio Diniz Alves