Demografia By José Eustáquio Diniz Alves / Share 0 Tweet Os Estados Unidos da América (EUA) possuem uma tradição de mais de 200 anos de democracia. O país foi a primeira colônia americana a conquistar sua libertação das potências europeias. A Declaração da Independência dos EUA aconteceu em 1776. O primeiro presidente eleito do país, George Washington, tomou posse em 1789. No começo só existiam 13 Estados que foram se expandindo até atingir os atuais 50 Estados (Por isto a bandeira americana tem 13 listas e 50 estrelas). Nas primeiras eleições não votavam nem os escravos e nem as mulheres. A escravidão terminou no bojo da Guerra de Secessão (11 Estados escravocratas do Sul latifundiário contra os Estados do Norte industrializado e abolicionista), entre 1861 a 1865. O Congresso dos Estados Unidos aprovou a Lei dos Direitos Civis de 1875 (Civil Rights Act), que proibia a discriminação racial em todos os estabelecimentos públicos. Mas na prática a população negra continuou segregada até o movimento pelos direitos civis e a aprovação da Lei dos Direitos Civis, assinada pelo presidente Lyndon Johnson, em 1964. As mulheres só conseguiram o direito de voto em 1919. Mas até hoje nunca houve uma mulher na Casa Branca como presidente ou vice-presidente. Segundo Alexis de Tocqueville, a força da democracia dos Estados Unidos estava na capacidade de mobilização das organizações de base, na cidadania participativa e na mobilidade social ascendente. Ao contrário das sociedades europeias, hierárquicas e aristocráticas, ele via na democracia americana um impulso irresistível para a igualdade e para o nivelamento das condições de vida da população. Isto é o que se convencionou chamar de “sonho americano”. Tocquevile disse: “Os americanos foram sábios o suficiente para evitar o despotismo e estabelecer os princípios da soberania popular” e observou “Os americanos de todas as idades, de todas as condições, de todos os espíritos estão constantemente a se unir. Não só possuem associações comerciais e industriais, nas quais todos tomam parte, como ainda existem mil outras espécies: religiosas, morais, graves, fúteis, muito gerais e muito particulares, imensas e muito pequenas”. A maioria dos autores atribuem a esta democracia americana o sucesso econômico e social dos Estados Unidos, que se tornaram a maior potência nacional que já houve na história da humanidade. Porém, a economia e a democracia americanas estão em crise neste início de século XXI. Os EUA estão na iminência de perder a hegemonia econômica para a China e enfrentam sérios problemas com sua estrutura democrática e no relacionamento entre o Legislativo e o Executivo. Em 2011, pela primeira vez na história houve rebaixamento da nota da dívida americana para AA+, por parte da agência Standard&Poor’s. O rebaixamento significa que o mercado considera que os títulos emitidos pelo Tesouro dos EUA perderam a classificação de risco zero. E o que motivou isto, além da alta dívida pública e dos altos déficits gêmeos (comercial e orçamentário), foi a briga política entre os dois principais partidos da democracia americana. O governo e as instituições políticas estão ficando desfuncionais. Desde a crise de 2008, os Estados Unidos ainda não conseguiram recuperar o mesmo nível de renda per capita de 2007. Ou seja, a população está mais pobre do que há 5 anos atrás. Aliás o censo 2010 mostrou que, em dólares reais de 2010, a renda domiciliar média dos EUA era de US$54.941 em 2000 e caiu para US$ 50.046 em 2010. A queda da renda foi de quase 9% na primeira década do século XXI e a taxa de pobreza subiu para 15,1%, a mais alta desde 1993. Ao mesmo tempo cresceu a concentração da renda, com o 1% mais rico da população apropriando de uma parcela maior da renda nacional. Não é de estranhar, portanto, o crescimento do movimento “Occupy Wall Street”, que busca ser a voz dos 99% da população e se espalha por todas as grandes cidades americanas. Ou seja, os EUA perderam o “trem” da mobilidade social ascendente e estão super endividados e sem competitividade internacional. Mas em 2012 haverá eleições presidenciais e o presidente Barack Obama é candidato à reeleição. Porém, o que tem chamado à atenção do mundo é o baixo nível político da campanha das primárias do Partido Republicano, que é popularmente chamado de G.O.P. (Grand Old Party). Já no começo da campanha Tim Pawlenty , ex-governador de Minnesota, desistiu da disputa. Depois do início das primárias desistiram Jon Huntsman, Jr. , ex- governador de Utah e embaixador dos EUA na China e Rick Perry , governador do Texas . O empresário do ramo de pizzas, Herman Cain, também desistiu por conta de denúncias de mulheres que foram vítimas de suas investidas sexuais. As duas mulheres que são “divas” do movimento ultra-conservador Tea Party não tiveram fôlego de campanha. Sarah Palin, ex-governadora do Alaska, é a personalidade política com maior rejeição popular nos EUA. Michele Bachmann , representante dos EUA a partir de Minnesota, não fica muito atrás da impopularidade de Sarah Palin e foi obrigada a desistir da disputa por falta de apoio de base e partidário. Até o mês de março permaneciam na campanha, na ordem de liderança nas pesquisas: Mitt Romney, ex-governador de Massachusetts; Rick Santorum, ex-senador dos EUA da Pensilvânia; Newt Gingrich , ex-Presidente dos EUA na Câmara dos Deputados a partir de Geórgia; e Ron Paul , representante dos EUA a partir de Texas. Mas a campanha das primárias do GOP em 2012 tem sido marcadas pelo baixo nível das discussões, pelos ataques mútuos entre os candidatos e a elaboração de propostas conservadoras e longe da realidade americana e do mundo. Ron Paul quer acabar com o Banco Central (FED). Gingrich propôs construir um base permanente na Lua até 2020 com cerca de 13 mil pessoas. Santorum fez como centro da sua campanha a luta contra a homossexualidade, contra a legalização do aborto, contra filhos fora do casamento, contra familias monoparentais, contra a disponibilidade universal de métodos contraceptivos, além de reclamar da separação entre Estado e religião. Ele é o representante máximo do conservadorismo moral e do fundamentalismo religioso. O ricaço Romney faz força para mostrar que é tão conservador como o Rick (rico) Santorum. Ronmey ganhou milhões de dólares nos últimos anos e pagou menos de 14% de impostos, metade do que paga a classe média. Recentemente ele disse que não está preocupado com os pobres e que só pensa em equilibrar as contas do governo. Os 4 candidatos remanescentes combatem Obama utilizando os assuntos culturais (religião, casamento gay, aborto) e querem um orçamento público equilibrado via cortes de impostos para os ricos. Eles são radicamente contra o aumento de impostos, não acreditam no aquecimento global e defendem cortes nos programas sociais. Ou seja, Romney, Santorum, Gingrich e Paul querem aprofundar o fosso social entre ricos e pobres nos Estados Unidos, indo na contramão da construção democrática. Enquanto isto os EUA continuam na marcha da mobilidade social descendente. Mas o mais decisivo é que a democracia americana não se faz mais de baixo para cima. O que tem predominado na campanha de 2012 são os gastos milhonários feitos pelos candidatos e pelos Super PAC (Political Action Committee) que transformam as propagandas na mídia em armas decisivas para impulsionar as candidaturas e criticar os rivais. A democracia virou um jogo do poder econômico e da propaganda paga. A democracia na América deixou de ter com base a força da sociedade e passou a ser mais um elemento da sociedade do espetáculo, controlada pela grande mídia e o poder econômico.