O abismo fiscal nos EUA


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A economia dos Estados Unidos da América (EUA) vem seguindo uma rota insustentável desde os anos de 1970, mas especialmente, desde o início do governo George Bush (filho) no início do século XXI. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, o governo americano colocou objetivos inviáveis para o equilíbrio econômico: aumento dos gastos militares (com as guerras do Iraque e do Afeganistão) e corte de impostos para a população em geral, mas fundamentalmente para os mais ricos. Com isto, aumentou o déficit público e a dívida pública foi para a extratosfera.

Esta situação se agravou depois da crise de 2008/2009 que jogou a economia na recessão, reduzindo as receitas do governo, aumentando os gastos com os planos de resgate dos bancos e de diversas empresas, como as do setor automobilistico, mas também os gastos com o desemprego aberto que atingiu níveis elevados e ainda está perto de 8%, sem contar o desemprego oculto e o desalento.

Existe um consenso geral de que o povo norteamericano mantem um padrão de vida acima das possibilidades atuais do país. Há também um grande déficit ambiental, pois os EUA possuem uma pegada ecológica per capita bem acima da biocapacidade per capita do seu território. Com a ascensão de países como China, Taiwan e Coréia do Sul – dentre outros – os EUA perderam competitividade no comércio internacional e possuem um grande déficit em transações correntes e o país já possui a maior dívida externa do mundo.

Por tudo isto, não é de se estranhar que os EUA estejam à beira de um abismo fiscal (fiscal cliff). O déficit público anual está acima de US$ 1 trilhão. A dívida pública que estava abaixo de 40% do PIB na década de 1960, deve ficar próxima de 100% na atual década e pode atingir a impressionante marca de 247% do PIB até 2040, segundo o Escritório de Orçamento do Congresso (Congressional Budget Office). O envelhecimento da população vai fazer com que as despesas de saúde e da previdência acelerem o rombo orçamentário. E a falta de dinheiro está comprometendo a modernização da infraestrutura e os investimentos em educação.

Mas ao invés de buscar uma solução de longo prazo, o que o Presidente Obama e o Partido Democrático querem é apenas adiar os cortes orçamentários, fazer um pequeno aumento dos impostos dos ricos e garantir o aumento do teto do endividamento. Ou seja, as soluções propostas pelo governo vão no sentido de empurrar os problemas com a barriga, comprometendo as perspectivas das gerações futuras.

Mas o pior é que nem as “soluções meia-sola” são aprovadas pelo Partido Republicano, que defende o aumento dos gastos militares e querem reduzir ainda mais os impostos para as camadas mais privilegiadas da população. O GOP (Grand Old Party) defende uma política tipo Hobin Hood ao inverso, ou seja, tirar dos pobres para dar aos ricos. Além disto,  os republicanos defendem uma política recessiva para prejudicar as perspectivas do segundo mandato de Obama.

Desde que os republicanos ganharam a Câmara dos Deputados em 2010, os EUA têm cambaleado de um confronto político inútil após o outro. Em cada caso, o Congresso e a Casa Branca tem repetidamente falhado na busca de soluções para resolver os desequilíbrios fiscais e para estimular o crescimento econômico, com respeito ao meio ambiente.

Dizem que a democracia americana é um exemplo para o mundo. Mas a transição autoritária de governo na China parece que está sendo mais eficaz do que a desfuncionalidade da briga dos dois partidos que dominam a política americana. Pouco antes de mudar a atual legislatura, por 275 votos a favor e 167 contrários, às 23h do dia 01 de janeiro, a Câmara de Representantes aprovou o projeto de lei que aumenta de 35% a 39,6% os impostos para as famílias com renda superior a US$ 450 mil ao ano. No senado a votação foi de 89 a 8. Embora sendo contra qualquer aumento de impostos, os republicanos, divididos, aceitaram votar a favor da medida para evitar o abismo fiscal e o desgate junto à opinião pública.

Mas o que aconteceu foi um acordo fraco que continua generoso demais com os ricos e não vai gerar receita suficiente para cobrir as necessidades profundas de investimentos públicos do país. Outros dramas políticos virão em breve. O certo é que a economia americana vai continuar crescendo pouco, perdendo sua ampla hegemonia internacional, os conflitos políticos estão longe de serem resolvidos e a cada dia que passa o abismo (econômico e ambiental) fica mais fundo.

 

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José Eustáquio Diniz Alves