Pegada ecológica e sustentabilidade da população

O ser humano não é dono, mas sim, inquilino da Terra e do sistema solar. A humanidade depende da disponibilidade de terra, água e ar existente no Planeta. Ultrapassar os limites existentes significa caminhar para o suicídio e o ecocídio. Qual é a situação atual.

Após 200 anos de desenvolvimento econômico, propiciado pela Revolução Industrial, a população ganhou com a redução das taxas de mortalidade e crescimento da esperança de vida. Hoje em dia, na média, as pessoas vivem mais e melhor. O consumo médio da humanidade cresceu muito. Entre 1800 e 2010 a população mundial cresceu, aproximadamente, 7 vezes (de 1 bilhão para 7 bilhões de habitantes) e a economia (PIB) cresceu cerca de 50 vezes. Mas o crescimento da riqueza se deu às custas da pauperização do Planeta. Como medir o impacto do ser humano na Terra?

A Pegada Ecológica é uma metodologia utilizada para medir a quantidade de terra e água (em termos de hectares globais – gha) que seria necessária para sustentar o consumo atual da população. Considerando cinco tipos de superfície (área cultivada, pastagem, floresta, área de pesca e áreas edificadas), o planeta Terra possui aproximadamente 13,4 bilhões de hectares globais (gha) de terra e água biologicamente produtivas.

Segundo dados da Global Footprint Network’s 2010 a Pegada Ecológica da humanidade atingiu a marca de 2,7 hectares globais (gha), em 2007, para uma população mundial de 6,7 bilhões de habitantes na mesma data (segundo a divisão de população da ONU). Isto significa que para sustentar esta população seriam necessários 18,1 bilhões de gha. Ou seja, já ultrapassamos a capacidade de regeneração do Planeta. No nível médio de consumo mundial atual, com pegada ecológica de 2,7 gha, a população mundial sustentável seria de no máximo 5 bilhões de habitantes.

Se a população mundial adotasse o consumo médio do continente africano – com pegada ecológica per capita de 1,4 gha – a população mundial poderia atingir 9,6 bilhões de habitantes. Se o consumo médio mundial fosse igual à média asiática (1,8 gha) a população mundial poderia ser de 7,4 bilhões de habitantes. Com base na pegada ecológica da Europa (4,7 gha) a população mundial não poderia passar de 2,9 bilhões de habitantes, com a pegada ecológica da América Latina (2,6 gha), a população mundial não poderia poderia ultrapassar 5,2 bilhões de habitantes. Com as pegadas ecológicas da Oceania (5,4 gha) e dos Estados Unidos e Canadá (7,9 gha) a população mudial não poderia ultrapassar 2,5 bilhões e 1,7 bilhão de habitantes, respectivamente.

Qual é a perspectiva para as próximas décadas?

Segundo os dados da divisão de população da ONU a população mundial, em 2050, deve atingir 8 bilhões de habitantes, na projeção baixa, 9 bilhões, na projeção média, e 10 bilhões de habitantes, na projeção alta. Segundo dados do FMI, a economia mundial deve crescer acima de 3,5% ao ano de 2010 a 2050. Isto significa que o PIB mundial vai dobrar a cada 20 anos, ou multiplicar por quatro até 2050. Portanto, o mais provável é que a Terra tenha mais 2 bilhões de habitantes nos próximos 40 anos e uma economia quatro vezes maior. O Planeta suporta?

Evidentemente que não há como manter este crescimento no padrão de produção e consumo atuais. Para que a humanidade possa sobreviver e permitir a sobrevivência das demais espécies do Planeta será preciso fazer uma revolução energética, incentivar a eficiência energética, reciclar, reutilizar e reaproveitar o lixo; reduzir os desperdícios em todas as suas formas; reforçar e melhorar o transporte coletivo; incentivar o vegetarianismo, diminuir o consumo de carnes e reduzir os impactos da agropecuária; reduzir o consumo de bebidas alcoólicas, outras substâncias tóxicas; introduzir inovações tecnológicas nos prédios e casas para melhorar o aproveitamento da energia e a reciclagem de materiais; criar empregos verdes; ampliar as áreas de florestas e matas e a preservação ambiental; proteger a biodiversidade; desestimular a cultura dos PETs Shops e o elevado consumismo dos animais de estimação; avançar com a aquacultura e a revolução azul; reduzir os gastos militares; reduzir o consumo conspícuo e o consumo que provoca maiores danos ambientais; etc.

Desta forma, mais do que nunca é preciso discutir a alternativa do modelo do “decrescimento sustentável”, especialmente a redução das atividades mais poluidoras, com mudança no padrão de consumo e o avanço da sociedade do conhecimento e da produção de bens imateriais e intangíveis.

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José Eustáquio Diniz Alves