Visões pessimistas sobre o Brasil

O Brasil esteve na moda e com “a bola toda” até 2010. A revista britânica Economist colocou, em matéria de capa, o Cristo Redentor decolando para o infinito como se fosse um foguete disparado do Corcovado, representando o bom momento da economia brasileira. A maioria absoluta das notícias eram favoráveis e otimistas. O Brasil havia deixado de ser o país do futuro para ser o país do presente. O gigante adormecido estava acordando. Uma propaganda de um dos produtos industriais que encanta a nova classe média colocou o Pão de Açucar levantando como se fosse o gigante do Hino Nacional finalmente acordando e se movimentando a partir da baia da Guanabara.

Mas o clima otimista do crescimento do PIB de 7,5% em 2010 deu lugar ao pessismo, depois do crescimento abaixo de 3% em 2011 e das previsões modestas para 2012. Mas não é apenas o baixo crescimento econômico que está provocando pessimismo. É um conjunto de problemas. Vamos dar alguns exemplos de visões pessimistas sobre o país.

O economista indiano Ruchir Sharma, em entrevista à folha de São Paulo, de 14/05/2012, disse que “O Brasil está ficando para trás entre os emergentes, com o real supervalorizado, gargalos de infraestrutura que inibem a produção, mão de obra cara e excesso de gasto público. O país avançou de fase, mas sua mentalidade, não”. Para ele “Baixar juros não é solução. Sem investimento e sem conter o gasto público, leva à inflação. Os juros são sintoma de um problema: o investimento está estancado pelo alto gasto do governo. O investimento em infraestrutura no Brasil ainda é muito baixo ante o de outros emergentes”.

O famoso brasilianista Kenneth Maxwell, em coluna de 03/05/2012, sobre “Perspectivas do Brasil” cita estudo do jornalista Andres Oppenheimer, do jornal “Miami Herald”, que diz que o Brasil é “um gigante temporariamente desorientado” e acredita que as expectativas quanto à situação atual do Brasil sejam exageradas. Quanto às perspectivas dos BRICS alguns dizem que é melhor falar em RIC (Rússia, Índia e China), outros preferem IC (Índia e China) e outros só o C de China.

O fato é que o ministro Mantega falava em crescer em torno de 6% ao ano no início do governo Dilma. Agora fala em pouco mais de 4%. Mas a maioria dos analistas dizem que o crescimento do PIB brasileiro deve ficar em torno de 3%, em 2012. E o mais complicado são os atrasos na área social. Enquanto o governo multiplica o bolsa familia, o bolsa verde, o “bolsa” cegonha, o “bolsa” carinhoso, etc, o mercado de trabalho continua contando com pessoas com baixo nível de qualificação por conta do baixo nível educacional brasileiro. A criação de emprego formal perdeu impulso na medida que cresce a ociosidade das plantas industriais e avança o processo de desindustrialização.

Enquanto se diz que cresceu a classe média, dados do censo 2010, mostram que em mais de 28% das casas a renda mensal por pessoa não passava de meio salário mínimo: R$ 8,50 por dia. No Nordeste, quase 50% das famílias tem renda inferior a R$ 8,50 ao dia. Ainda segundo o censo do IBGE, um em cada seis jovens de 15 a 17 anos estava fora da escola e 50% da população com mais de 25 anos fazia parte do grupo de pessoas sem instrução, ou não havia completado o ensino fundamental (oito anos de estudo). Com isto diminui as pessoas que chegam ao ensino secundário e mais ainda de quem chega à universidade.

E além da corrupção que se propaga como erva daninha, a janela de oportunidade demográfica já começa a se fechar, enquanto crescem o déficit da previdência e os déficits interno e externo. Há quem diz que o Brasil pode enfrentar brevemente uma crise fiscal junto com o aumento da inflação.

Paralelamente crescem as reclamações de que tudo no Brasil está muito caro e as coisas não funcionam direito, vide a preparação para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. A Petrobrás perdeu a sua posição de número 1 na América Latina. Na última edição da revista Economist há uma reportagem fazendo considerações sobre as fraquezas da economia brasileira, bem diferente daquela do Cristo decolando.

Portanto, enquanto se dilui o clima de otimismo, o Brasil está ficando mais vunerável às crises externas e mais frágil internamente. Isto é uma péssima noticia diante da crise do Euro que se avizinha e da enorme dívida social e ambiental que ainda resta e que precisa ser vencida.

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José Eustáquio Diniz Alves