População mundial, distribuição de renda e impacto ambiental


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Todo crescimento populacional tem um inevitável impacto ambiental. Porém, para uma análise dos impactos das atividades antropogênicas, para além do número de pessoas, é preciso considerar o crescimento da produção e do consumo per capita desta população. Contudo, apenas o impacto per capita não é capaz de colocar em evidência os diferentes impactos que ocorrem nas camadas altas, médias e pobres da população. O objetivo deste artigo é apresentar alguns números globais sobre população e economia mundial, no período 1950 a 2011, utilizando um exercício que considera o estrato alto (10% mais ricos), o estrato médio (40% da “classe média”) e os segmentos pobres (50% da base de renda da população).

Entre 1950 e 2011, a população mundial cresceu 2,8 vezes enquanto a economia mundial cresceu 11 vezes. Em consequência, a renda per capita mundial cresceu 4 vezes. Vejamos os números

Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) a economia mundial (Produto Interno Bruto – PIB  – em poder de paridade de compra – ppp) deve atingir 78,09 trilhões de dólares (ppp), em 2011. Como o PIB mundial cresceu cerca de 4% ao ano, em média, nos últimos 61 anos, isto significa que o PIB mundial em 1950 – a preços constantes de 2011 – era de 7,1 trilhões de dólares (ppp).

Segundo dados da divisão de população da ONU, a população mundial era de 2,5 bilhões de habitantes, em 1950, e deve atingir 7 bilhões em 2011. Isto representa um crescimento populacional de 1,7% ao ano e um crescimento da renda per capita de 2,2% ao ano.

Se o impacto ambiental do crescimento da população já foi grande, muito maior foi o impacto do crescimento da economia, pois a renda per capita (a preços de 2011) era de 2.839 dólares (ppp), em 1950, e passou para 11.156 dólares (ppp), em 2011.

Este crescimento da população e da renda per capita, significa que, em média, as pessoas estão alimentando mais e consumindo mais moradias, bens duráveis (geladeiras, automóveis, celulares, etc.), serviços de saúde, educação, lazer, etc. Além disto, o padrão de produção industrial tem aumentado a emissão de gazes de efeito estufa – acelerando o processo de aquecimento global – as atividades agropecuárias tem abusado do uso da água e da terra – aumentado as áreas de deserto, de erosão do solo e emissão de gás metano  – e a pesca indiscriminada tem reduzido o estoque de peixes. Para piorar a situação, tem aumentado o volume de lixo e de resíduos sólidos que exigem disponibilidades de terra e que poluem o meio ambiente.

Evidentemente que o impacto da população é diferente quando consideramos a desigual distribuição da renda. Para tanto, vamos fazer um exercício que considera que os 10% da população com maior renda aproprie 50% do PIB mundial, os 40% médios da população apropriem 40% do PIB mundial e os 50% mais pobres da população apropriem de somente 10% do PIB mundial.

Nesta distribuição (e considerando o PIB a preços de 2011), os 10% mais ricos da população recebiam 3,550 trilhões de dólares, em 1950, e passaram para 39,046 trilhões de dólares, em 2011. Portanto, a parcela dos 10% mais ricos da população mundial apropriava, em 2011, quase 7 vezes o PIB total de 1950. Assim, a pequena elite mais rica da população é responsável pelo maior impacto ambiental, considerando que este impacto cresce em função da renda.

Os 40% da “classe média” mundial recebiam 2.839,7 trilhões de dólares, em 1950, e passaram para 31,236 trilhões de dólares, em 2011. Assim, somente a classe média mundial apropria em 2011 de 4 vezes o PIB de 1950. O impacto da classe média, pois, é bastante significativo.

Agora vejamos os 50% mais pobres da população. Em 1950 somavam 1,25 bilhão de habitantes e apropriavam 709,9 bilhões de dólares, passando para 3,5 bilhões de pessoas e apropriavam de 7,809 trilhões de dólares, em 2011. Assim, apenas esta parcela dos 50% mais pobre da população, em 2011, é maior do que toda a população mundial em 1950 e passaram a apropriar um volume de recursos maior do que o PIB total de 1950.

Desta forma, se pode dizer que os 10% mais ricos da população mundial apropriam a maior parte da renda e, consequentemente, impactam mais negativamente o meio ambiente. Também se pode dizer que o impacto ambiental dos 40% da população mundial que formam as classes médias é apenas um pouco menor do que o das elites populacionais e contribui muito para o stress ambiental.

Já os 50% mais pobres da população, com uma participação de 10% no PIB mundial, possuem um impacto muito menor, mas não desprezível. De fato, em 1950, a metade de baixo da pirâmide de renda contava com 1,25 bilhão de pessoas e um renda total de 709,9 bilhões de dólares, em 1950, passando para 3,5 bilhões de pessoas e uma renda de 7,809 trilhões de dólares, em 2011. Portanto, a atual parcela pobre da população mundial, em 2011, é maior em termos de número de habitantes do que toda a população de 61 anos atrás e a sua renda – mesmo sendo apenas 10% do PIB mundial  em 2011 – é maior do que todo o PIB de 1950.

Diversas projeções, com base em um crescimento anual da economia de 3,5% ao ano, apontam para um PIB de 280 trilhões de dólares e uma população de 9 bilhões de pessoas, em 2050. Se for mantida a mesma distribuição de renda, os 10% mais ricos (900 milhões de pessoas) ficariam com 140 trilhões de dólares, a “classe média” (com 3,6 bilhões de pessoas) ficaria com 112 trilhões de dólares e os pobres (4,5 bilhões de pessoas) ficariam com 28 trilhões de dólares.

Será que o planeta Terra vai conseguir sobreviver a este consumo crescente (consequência da maior renda), especialmente das “classes” altas e médias, mas também dos pobres? A tecnologia poderá encontrar soluções para os desafios ambientais e o limites do Planeta? Ou a humanidade, na medida em que avança no “progresso” está caminhando para o suicídio e o ecocídio?

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José Eustáquio Diniz Alves