Tá lá o corpo estendido no chão!


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Juristas, de todos os gêneros, debaterão se o corpo teria o direito de estar ali, estendido no chão. Alguns, quem sabe, iriam mais longe e defenderiam a tese de que é inconstitucional o ato de um corpo estar no chão.
 
Políticos imediatamente convocariam, não sem muita discussão, uma CPMI para investigar se o corpo no chão teria ligações com a corrupção praticada pelos pares opostos, financiados, estes, por grupos privados interessados em manter todos os corpos no chão.
 
Religiosos de todas as práticas diriam que o corpo lhes pertence, na tentativa se salvar sua alma. Ateus, também de todos os gêneros, ficarão felizes por terem certeza de que não passa de um corpo estendido no chão.
 
Movimentos de minorias dirão que foi mais um assassinato praticado por quem é contra os direitos humanos. Defensores de cotas bradarão que o corpo deverá ser enterrado em cemitério público, enquanto estudantes pintarão as caras para mostrar que ainda são capazes de protestar contra a polícia e contra as péssimas condições do ensino no Brasil.
 
Haverá uma “campus party” no local, pois alguém se deu conta de que o corpo estendido no chão tinha um tablete na bolsa. Logo, só pode ser um corpo incluído. A confusão vai se estabelecer quando os defensores dos movimentos “occupy” chegarem para ocupar o local. “Occupy o corpo” dirão”, já estendendo as barracas. O Twitter apontará, nos “Trending Topics”, a tag #UmCorpoNoChão como a de maior sucesso mundial por uma semana.
 
Veio camelô vender anel, cordão, perfume barato
Quatro horas da manhã baixou o santo na porta-bandeira
E a baiana prá fazer pastel e um bom churrasco de gato

 

Menos um drogado; menos um viado; menos um petralha ou menos um tucano; menos um negro, um branco, uma prostituta, um pai ou mãe, um filho ou filha…
 
Menos um, diremos todos nós em uníssono!
 
Essas parecem ser as únicas tônicas da nossa sociedade: menos um e cada um por si. Há que deitar os inimigos como um mero corpo estendido no chão; há que fazer prevalecer as formas individuais (ou corporativas) de ver o mundo, mesmo que apenas vejam mais um corpo estendido no chão. Só vale o que eu penso; só vale o que eu quero.
 
Perdemos a referência. Não nos entendemos mais sequer sobre o que seja um corpo estendido no chão. E ninguém é mais capaz de apenas estender a mão….Vá que o corpo, ali estendido no chão, ainda estivesse vivo…

 

About the author

Luiz Afonso Alencastre Escosteguy

Apenas o que hoje chamam de um idoso. Parodiando Einstein, só uma coisa é infinita: a hipocrisia. E se você precisou saber meu "currículo" para gostar ou não do que eu escrevo, pense bem, você é sério candidato a ser mais um hipócrita!