Diálogos entre paradigmas By Marcos Bidart de Novaes / Share 0 Tweet Você não sabe quem é Foucault? Nem Kant? Nunca ouviu falar da Revolução Francesa?. Não importa. Leia um pouco mais ou responda logo sim. Sim, eu nasci para ser governado, porque sou preguiçoso ou sou covarde. Não quero escrever o livro da minha vida e delego esta tarefa a outros. Quero ficar só reclamando. Bom, o tal do Foucault, em sua série de palestras-leituras no Collège de France, em 1983, publicadas no Brasil sob o nome O Governo de Si e dos Outros traz uma ideia interessante. Na verdade, como boa pesquisa, esta se inicia com uma pergunta: Existe um progresso constante para o gênero humano? Foucault extrai esta pergunta das discussões de outro filósofo, Kant sobre as relações entre a filosofia e o direito. A pergunta se justifica porque seria obrigação do filósofo fazer o bonde andar e do jurista fazer o bonde parar nos sinais vermelhos, bem como inventar sinais vermelhos em todas as esquinas imaginárias possíveis. Após algumas reflexões lógicas das quais vou poupar vocês, Foucault aponta que sim, que existe um sinal claro de que o gênero humano avança. Sinal de existência de uma causa “rememorativum, demonstrativum, pronosticum”. “Isto é, um sinal que nos mostra que sempre foi assim (sinal rememorativo); um sinal de que é o que acontece atualmente (sinal demonstrativo); sinal prognóstico, enfim, que nos mostra que vai acontecer permanentemente assim.” (Foucault, 2011, p.17). Esse sinal claro, este acontecimento claro, é a Revolução. Kant se referia à Revolução Francesa, mas pensava em todas as revoluções. Deixava no entanto registrado que por revolução não entendia grandes gestos feitos por homens, coisas grandes que ficam pequenas ou coisas pequenas que se fazem grandes. Não imaginava que a revolução implicasse na derrubada de grandes edifícios políticos por uma magia que fazia surgir outros, como rosas que se transformam em coelhos em cartolas que engolem mundos. Não. O real significado da revolução é a maneira como é recebida em toda a sua volta por expectadores que não participaram dela, mas a vêem, a assistem e, por bem ou por mal, se deixam arrastar por ela. A revolução, porém, é sempre um fracasso. Em primeiro lugar pelas mortes e sangue derramado. Isto não quer dizer que ela não deva ser feita. É esta a característica das revoluções. Quem as faz as faria de novo, mesmo que dizendo que se imaginasse tudo teria feito diferente, mais bonito… Um fracasso necessário, portanto. Mas o grande fracasso das revoluções é mais sutil. As revoluções são feitas por pessoas inconformadas com a situação de superimposição da vontade dos outros, situação causada supostamente pela violência ou ardilosidade de uma autoridade não mais aceita. Mas quem faz as revoluções são alguns poucos. Estes, que decidem desempenhar os papéis de libertadores, o fazem em nome dos covardes e preguiçosos. Esta é a lei que ao mesmo tempo condena e torna inexoráveis as revoluções. Os que as fazem de forma passiva, pelo seu inconformismo sem ação, caem necessariamente sob o jugo dos libertadores que agem. Este texto não é pessimista. É só um lembrete. Você tem escolhas, como eu. Vai fazer parte no futuro muito próximo dos 1% que ficam nos castelos sem entender a revolta da turba, sugere que eles comam bolos se falta pão e no final morrem decapitados ou fogem disfarçados de padre ou pastor… Ou vai fazer parte dos 98% dos que fazem a revolução ecando os gritos e chamados dos libertadores. Ou vai fazer parte dos 1% de libertadores. Mesdames e messieurs, faites vos jeux. Referência FOUCAULT, Michel. O Governo de Si e dos Outros. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011