Sociedade de Risco e Sustentabilidade


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Segundo Ulrich Beck eu seu Risk Society de 1992, não há como ter absoluta certeza de que determinados caminhos são os mais proveitosos para a sociedade como um todo. Sempre existe a possibilidade (ou probabilidade) de que interesses escusos estejam por trás dos dados e informações que geram as ações dos seres humanos envolvidos nesta problemática, provocando ao final mais dano do que soluções para todas as partes envolvidas. A partir disto, não só o indivíduo, mas a sociedade, produtora de riscos, se torna cada vez mais autocrítica, e ao mesmo tempo em que a humanidade põe a si em perigo, reconhece os riscos que produz e reage diante disso. A sociedade global reflexiva se vê obrigada a confrontar-se com aquilo que criou de positivo e negativo: os bens que pertencem a alguns e os males que a todos ameaçam.

A questão introduzida por Beck é que, na mesma medida em que a sociedade se desenvolve, são produzidos bens e são produzidos males ou riscos. Enquanto os primeiros continuam sendo desigualmente distribuídos, alguns destes últimos são compartilhados na mesma medida entre todos os indivíduos na sociedade. “Essa ‘lógica’ da produção e distribuição de riscos se desenvolve de forma comparável à ‘lógica’ da distribuição da riqueza (que até então determinou o pensamento teórico social)” (BECK, 1992, p. 13). Alguns dos riscos diretamente ligados à miséria e a determinadas classes sociais se distribuem de forma oposta à riqueza, sendo maiores para as classes menos favorecidas. Outros, no entanto, diferentemente dos riscos industriais e ocupacionais, que eram associados a determinadas localizações e profissões, são riscos supranacionais e transcendem classes sociais.

Beck  afirma que “[…] no sentido de uma teoria social e de um diagnóstico de cultura, o conceito de SR designa um estágio da modernidade em que começam a tomar corpo as ameaças produzidas até então no caminho da sociedade industrial”. Riscos sociais, ambientais, políticos, econômicos e individuais estão escapando do controle dos mecanismos criados até então pelas instituições organizadas para manter a proteção da sociedade. Trata-se de uma globalização de riscos que coloca em marcha uma dinâmica social, que não mais pode ser compreendida em categorias de classes sociais. “A circularidade do perigo que ameaça a sociedade pode ser generalizada: sob o teto dos riscos da modernidade, perpetrador e vítima mais cedo ou mais tarde se tornam idênticos” (BECK, 1992, p. 38). Isto porque não há conflitos e contradições materiais claras entre os afetados por certos riscos de larga escala e os não afetados por eles.

Esta dinâmica social também provoca dinâmicas políticas. Não há mais como haver consenso sobre questões como, por exemplo, benefícios fiscais para geração de empregos, pois os custos envolvidos e escondidos ao se receber certas indústrias podem exceder em muito os benefícios aparentes. A opinião pública se torna interessada em opinar em detalhes técnicos e muitos querem se tornar uma voz ativa em detalhes técnicos, econômicos e legais, criando um sistema de referências novo e sem precedentes (BECK, 1992). A questão dos riscos a que a sociedade está exposta é, portanto, de difícil solução, caso se confie apenas no papel da ciência em suas funções de criadora e reveladora de novas tecnologias e técnicas (BECK, 1992).

A ciência tradicional é certamente ainda a maior fonte de conhecimento para detectar e analisar os riscos para a sustentabilidade, em especial os mais sutis. No entanto, ao estar engajada ao mesmo tempo em seu papel tradicional de gerar novas descobertas e novas tecnologias e em papéis de subserviência a interesses comerciais, a ciência cria e adiciona novos riscos aos existentes. Os atores sociais, em função destes papéis nem sempre claros da ciência, dividem-se entre pressões para descobertas tecnológicas inovadoras e, ao mesmo tempo, na reinvenção das instituições sociais, políticas e da própria ciência. A tecnologia traz em seu bojo novos riscos e descontroles, envolvidos no seu próprio uso e, em especial, “na concentração de poder que recai sobre os especialistas e comunidade científica e na dependência tecnológica entre países pobres e ricos, entre outros aspectos” (ibid, p. 11).

Beck traz inúmeros exemplos de questões ligadas a riscos e incertezas e sua relação com a ciência. Um destes foi o do gás CFC, que foi lançado comercialmente em 1927. Apenas em 1974, mais de 40 anos depois, se descobriram os danos que causava à camada de ozônio e os riscos de câncer que provocava em massa à população da Terra. É a mesma ciência que continua lançando novos produtos e serviços, talvez com mecanismos de regulação maiores, mas com os mesmos interesses financeiros e, por vezes, com o mesmo grau de incerteza sobre as consequencias futuras do uso indiscriminado daqueles produtos e serviços. Como Beck (2007) afirma, aceitar riscos faz parte da vida do indivíduo, mas quem gerencia o significado do que é arriscado ou não escapa do poder individual; quem diz se realizar uma determinada cirurgia tem risco de 10 ou 90% é a ciência e os mecanismos de comunicação, o mesmo aplicando-se ao uso de produtos ou de serviços.

A construção do significado do que seja sustentabilidade é então influenciada pelo poder de comunicação dos grupos de interesse que dominam os sistemas especialistas daquela área. Para entender melhor o que seja, de fato, ‘sustentável’ para uma organização é necessário desconstruir o conceito em trabalho conjunto com determinados grupos e, novamente, o construir com os mesmos grupos dentro de organizações e locais de trabalho específicos. Pode-se, assim, fazer surgir um corpo de ideias, dentro das organizações, que espelhe as necessidades específicas de cada empresa. 

 

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Marcos Bidart de Novaes