Dois Vezes Um By Rafael Reinehr / Share 0 Tweet – Ó lá, os times tão entrando em campo. É hoje que a gente goleia. – Não gosto de ver essa entrada. Me dá uma tristeza danada. – Por quê? – É a segunda maior frustração da minha vida. – O que, meu Deus? O que? – Tá vendo essa criançada que entra com o time? – Sim, os mascotes. – Pois é. Eu sempre quis ser um mascote quando era criança. Mas nunca consegui. Quando vejo um time entrar em campo, lembro disso e fico triste. – Que viadagem. – Você acha? – É, uai! Entrar em campo com um monte de macho de shorts e suados… não sei não. – Alto lá. Suados, não. Eles ainda não jogaram. Estão secos. – Tão nada. Eles aquecem no vestiário. Tão tudo melado. – Tão nada. Um atleta aquecendo é como se estivesse dormindo. Em resumo: não faz nem coceguinha. Estão secos. – Não fala besteira. Como você pode ter tanta certeza, se nunca esteve lá, se nunca foi mascote? – Não apela que eu choro. Com frustração não se brinca. – Tá, desculpa. Mas você disse que não ser mascote é a segunda maior frustração da sua vida. Qual é a primeira? – Nunca fui dama de honra em casamentos. – Como? – Isso. Eu nunca fui daminha. – Agora sim, virou viadagem o assunto. – Por quê? – Que eu saiba, dama de honra é coisa de menina. E você, pelo que eu saiba, é homem. Quando criança, você deve ter sido menino. Não é isso? – Sim, fui menino. – Pois então. Me dizendo que você queria ser dama de honra, eu entendo que você queria ser menina. E, hoje, mulher. – Não coloque palavras na minha boca. Eu disse que queria ser dama de honra, não mudar de sexo. – Taí, você tem certa razão. Mas a pergunta natural é: você queria tanto ser dama de honra a ponto de ter que mudar de sexo para realizar a proeza? – Não. Eu queria ser menino e ser dama de honra. É tão difícil assim entender? – Mas você não queria ser menina? – Não. Queria ser dama de honra, mas sendo menino. – Mas daminha se veste com vestido. Você queria usar vestido? – Querer, eu não queria. Mas eu queria ser dama de honra. E como para a função é necessário estar de vestido, eu me sacrificaria pelo meu sonho. – Quem veste vestido é mulher. – É? E o padre? Ele usa vestido. – Aquilo é a batina. – Questão semântica. Parece vestido de onde vejo. – Batina é diferente de vestido. – Qual a diferença? – Quem usa batina é padre. Quem usa vestido é mulher. – Então a diferença básica dos vestuários é quem o usa? – É. – Se eu vestir uma batina, viro padre? Se eu usar um vestido, viro mulher? – Exatamente. Você já viu algum padre usando vestido? Ou alguma mulher usando batina? – Nunca. – E sabe por que? – Porque a partir do momento que o padre usa vestido, ele vira batina. E quando qualquer mulher traja uma batina, ela passa a ser vestido? – Exatamente. – Imaginemos uma situação hipotética. Se eu fosse uma criança prodígio e, com três anos, ingressasse no sacerdócio e virasse padre aos oito. Com nove, já padre, eu resolveria mudar de sexo. Nessas condições, eu seria um padre-mulher que poderia, em tese, realizar um casamento e ainda atuar como dama de honra na mesma cerimônia. Considerando tudo isso, a pergunta é simples: que roupa eu usaria? Batina ou vestido? – Acho que camisa de força. – Ó lá, os times tão entrando em campo. É hoje que a gente goleia. – Não gosto de ver essa entrada. Me dá uma tristeza danada. – Por quê? – É a segunda maior frustração da minha vida. – O que, meu Deus? O que? – Tá vendo essa criançada que entra com o time? – Sim, os mascotes. – Pois é. Eu sempre quis ser um mascote quando era criança. Mas nunca consegui. Quando vejo um time entrar em campo, lembro disso e fico triste. – Que viadagem. – Você acha? – É, uai! Entrar em campo com um monte de macho de shorts e suados… não sei não. – Alto lá. Suados, não. Eles ainda não jogaram. Estão secos. – Tão nada. Eles aquecem no vestiário. Tão tudo melado. – Tão nada. Um atleta aquecendo é como se estivesse dormindo. Em resumo: não faz nem coceguinha. Estão secos. – Não fala besteira. Como você pode ter tanta certeza, se nunca esteve lá, se nunca foi mascote? – Não apela que eu choro. Com frustração não se brinca. – Tá, desculpa. Mas você disse que não ser mascote é a segunda maior frustração da sua vida. Qual é a primeira? – Nunca fui dama de honra em casamentos. – Como? – Isso. Eu nunca fui daminha. – Agora sim, virou viadagem o assunto. – Por quê? – Que eu saiba, dama de honra é coisa de menina. E você, pelo que eu saiba, é homem. Quando criança, você deve ter sido menino. Não é isso? – Sim, fui menino. – Pois então. Me dizendo que você queria ser dama de honra, eu entendo que você queria ser menina. E, hoje, mulher. – Não coloque palavras na minha boca. Eu disse que queria ser dama de honra, não mudar de sexo. – Taí, você tem certa razão. Mas a pergunta natural é: você queria tanto ser dama de honra a ponto de ter que mudar de sexo para realizar a proeza? – Não. Eu queria ser menino e ser dama de honra. É tão difícil assim entender? – Mas você não queria ser menina? – Não. Queria ser dama de honra, mas sendo menino. – Mas daminha se veste com vestido. Você queria usar vestido? – Querer, eu não queria. Mas eu queria ser dama de honra. E como para a função é necessário estar de vestido, eu me sacrificaria pelo meu sonho. – Quem veste vestido é mulher. – É? E o padre? Ele usa vestido. – Aquilo é a batina. – Questão semântica. Parece vestido de onde vejo. – Batina é diferente de vestido. – Qual a diferença? – Quem usa batina é padre. Quem usa vestido é mulher. – Então a diferença básica dos vestuários é quem o usa? – É. – Se eu vestir uma batina, viro padre? Se eu usar um vestido, viro mulher? – Exatamente. Você já viu algum padre usando vestido? Ou alguma mulher usando batina? – Nunca. – E sabe por que? – Porque a partir do momento que o padre usa vestido, ele vira batina. E quando qualquer mulher traja uma batina, ela passa a ser vestido? – Exatamente. – Imaginemos uma situação hipotética. Se eu fosse uma criança prodígio e, com três anos, ingressasse no sacerdócio e virasse padre aos oito. Com nove, já padre, eu resolveria mudar de sexo. Nessas condições, eu seria um padre-mulher que poderia, em tese, realizar um casamento e ainda atuar como dama de honra na mesma cerimônia. Considerando tudo isso, a pergunta é simples: que roupa eu usaria? Batina ou vestido? – Acho que camisa de força. Leia no blog de origem: Dois vezes Um