Pobre rica Alemanha!

Alemanha: Produto Interno Bruto: 2.423 bilhões de euros, a maior economia da Europa, o terceiro exportador do mundo, à frente dos EUA e Japão, um dos países mais avançados tecnologicamente do mundo e…

 

 

 

 

 

 

Uma a cada 6 crianças n`Este País Alemanha está ameaçada pela pobreza. Quem acreditaria que país rico também não tem esse tipo de problema? Este foi o resultado no cômputo geral de uma pesquisa feita pelo “Deutsches Instituts für Wirtschaftsforschung” publicado pela UNICEF em 26 de maio de 2008. A pesquisa foi baseada na Convenção da ONU para direitos das crianças. Os resultados? Um vexame para um país considerado um dos mais ricos do mundo (veja no quadro abaixo). No estudo foram reunidas informações não só da situação material, mas também educação, saúde, segurança pessoal, relação familiar com os pais, amigos, e bem estar social, os dados foram comparados com o de crianças de outros países ricos.

 

Situação das crianças em nações industriais:

Pequeno glossário para o quadro:

Dimension: Dimensão

Materiele Situation: Situação material

Gesundheit: Saúde

Bildung: Educação

Beziehungen zu Eltern und Gleichaltigen: Relação com os pais e outras crianças

Lebensweise und Risiken: Estilo de vida e riscos

Eigene Einschätzung: Valores próprios

Deutschland: Alemanha

 

Vamos direto às conclusões

 

 

Na Alemanha há mais crianças pobres do que adultos pobres. Cerca 35 a 40 % das crianças crescem na pobreza. As crianças procedentes de famílias menos favorecidas estão em desvantagem em relação àquelas que os pais têm emprego. Pais empregados podem ter acesso às facilidades como jardins ou pessoas que cuidem das crianças.

Também as chances de se ter acesso a uma boa educação estão diretamente ligadas ao lugar em que as crianças moram e de seu país de origem, no caso de imigrantes. Crianças procedentes de famílias de imigrantes raramente freqüentam os primeiros anos do jardim da infância, não vão aprender o idioma alemão ficando em desvantagem com relação às crianças filhas de pais alemães. Elas estão poucos representados nos ginásios, 17% dos jovens filhos de imigrantes deixam a escola sem concluir o curso. Em Baden Wütermber são 30% e Hamburgo e Berlin 25%.

O nível educacional dos pais, local de moradia e o número de livros que a família possui em casa podem ser indicadores do sucesso ou fracasso escolar das crianças.

As crianças mais atingidas pela pobreza são as de famílias de origem estrangeira: começa pelas dificuldades com o aprendizado da língua alemã, pois muitas vezes os pais também não falam o alemão e não podem dar apoio necessário às crianças nas tarefas escolares.

A situação de pobreza contribui para o aparecimento de doenças crônicas, como a adiposidade, é freqüente, a bronquite neurodermitis que atinge a 13% das crianças e 15% delas estão acima do peso ou têm problemas emocionais.

Os dados estão aí e servem para mostrar a triste realidade vivida por boa parte das crianças na Alemanha. O mais interessantemente é que em quase todas as nações mais ricas e industrializadas a situação de pobreza cresce a cada dia e atinge principalmente às crianças. Na Alemanha nos anos de 1990 a porcentagem de pessoas pobres estava em torno 7 a 9% do total dos habitantes, em 2004 este índice sobe para 13, 3%. Isto significa 1,7 milhões de crianças e jovens em situação de pobreza. Em 2003 era 7,2% o número de jovens e crianças cujas famílias recebiam ajuda social do governo.

 

Pobreza absoluta e pobreza relativa

 

O conceito definido pelos sociólogos para “pobreza absoluta” é quando um cidadão ganha até U$ 150 (cento e cinqüenta dólares) por ano, valor que dá para adquirir alimentos capazes de cobrir suas necessidades calóricas diárias, ou seja, 2.160 a 2.670 dependendo do país. Situação que implica em se ter uma expectativa de vida 55 anos, além de altas taxas de mortalidade de 33 por 1000 habitantes.

Já o conceito de “pobreza relativa” leva em consideração o quanto ganha uma pessoa em média no seu país. Quem ganha menos que a metade da média (depende da relação socio-econômica e cultural de cada país) é considerado pobre.

Segundo as pesquisas do Ministério Alemão para Economia, 13% dos alemães são pobres. “Pobres” são aqueles, que na definição da União Européia, moram sozinhos e ganham menos que 60% da média, que está em torno de 781 euros por mês (dados de 2008).

Mas então vocês perguntariam o que seria pobreza para Este País-Alemanha, já que aqui não existem favelas, nem pobres, e principalmente crianças, nas ruas? Pobreza na infância aqui pode ser definida quando as crianças não podem participar da sociedade no mesmo nível que outras crianças, como por exemplo, não ir aos passeios organizados pelas escolas, não poderem ir ao cinema, freqüentar as piscinas públicas, participar de clubes de esporte, ou freqüentar aulas de música por falta de dinheiro.

Numa sociedade onde o nível de competitividade é alto as crianças têm suas chances limitadas, a possibilidade de socializar-se é diminuída, elas se sentem excluídas, por não poder participar da sociedade como um todo.

Muitas famílias não têm dinheiro para comprar comida. São comuns nas crianças e jovens problemas na alimentação o que reflete no rendimento escolar. Há famílias que sequer possuem dinheiro nem para ir ao dentista. Quem vai contratar um jovem faltando dente da frente?

 

 

Subindo na vida

 

 

 

Para subir tem que pagar. Escalada 0,50 centavos de euro.

 

 

Desqualificados

 

 

Nos anos 70, na Alemanha, somente 5% da mão-de-obra sem qualificação estava fora do mercado de trabalho, hoje este número cresceu, o desemprego gira em torno 20 a 25%. Se compararmos com as pessoas que possuem formação acadêmica a porcentagem é de somente 3,3% de desempregados hoje, os mesmos níveis verificados em 1970, o que prova que a formação profissional é um fator importante para se sair da situação de pobreza. Numa sociedade onde as estruturas se modificaram rapidamente, há poucas chances de ingressarem no mundo do trabalho para aqueles que não se qualificaram.

 

Os ricos cada vez mais ricos

 

 

As estatísticas mostram que nos últimos 10 anos aumentou a concentração de renda na Alemanha e o número de ricos aumentou. Por outro lado dobrou o número de crianças em situação de pobreza. Não precisa ser doutor em matemática, nem em estatística para constatar o que já foi constatado em mundo todo: a conseqüência da pobreza está diretamente ligada à distribuição da renda. Temos como exemplo nossa casa o Brasil.

15 milhões crianças e jovens cujos pais recebem ajuda social do governo, pois estão desempregados, se os pais estivessem empregados as crianças teriam mais chances. Então há um círculo vicioso: pais desempregados, crianças e jovens sem chances e em desvantagens sociais.

Aqui, na Alemanha, a ajuda social do governo se dá de diversas formas: “Kindergeld” dinheiro para cada criança, 154 euros, “Wohnungsgeld” dinheiro para o aluguel ou dinheiro direto do Estado para comida, roupa, além do clássico abatimento no imposto de renda. São 35 bilhões de euros transferidos, por ano, para cidadãos se manterem vivos. Se não houvesse esse dinheiro a situação das famílias se agravaria levando mais 1,7 milhões de crianças caírem na pobreza.

 

Conseqüências das causas

 

 

Por toda parte na Alemanha se vê mulheres e homens trabalhando por pouquíssimo dinheiro, no que aqui é chamado de “mini-job” ou “mini emprego”, trabalho terceirizado. Trabalha-se pouco e ganha-se quase nada. As empresas preferem contratar essa pobre gente de forma terceirizada, que pagar um salário descente com contrato fixo. Com a terceirização os trabalhadores saem dos pisos salariais exigidos pelos sindicatos. Esta é uma situação conhecida no mercado de trabalho no Brasil. Tudo isso acontece com a ajuda dos políticos que afrouxaram a legislação trabalhista alemã para permitir que as empresas contratassem mão-de-obra por parcos euros à hora.

Não precisamos ir mais longe para localizar uma das causas da pobreza infantil, e de novo as estatísticas não mentem entre 2003 a setembro de 2007 o número de cidadãos alemães que trabalham em 2 empregos subiu em média 61%. Destes 2,1 milhões 2/3 deles são mulheres, a maioria acima de 40 anos até em idade de se aposentarem.

 

Casa ou profissao?

 

 

Muitas mulheres n´Este País-Alemanha vivem um dilema, ou trabalham fora, ou cuidam da prole. A principal causa disto é a falta jardins de infância. Não tendo com quem deixar os filhos, as mulheres que trabalham fora de casa, após a licença maternidade, que aqui pode durar até de 3 anos, são muitas vezes obrigadas a ficar em casa ou a reduzir as horas de trabalho recebendo menos.

A situação em outros países europeus nem sempre é a mesma, na França, por exemplo, as crianças, ainda bebês, são recebidas em berçários do Estado, sendo bem cuidadas o que possibilita às mães trabalharem tranquilamente. Lá o horário de funcionamento dos berçários é adaptado ao horário de trabalho das mães.

Ao contrário aqui na Alemanha é difícil se conseguir uma vaga nos jardins e os horários não são compatíveis com as necessidades das mães trabalhadoras. São raros os jardins que aceitam crianças com fraldas. Por lei as crianças têm o direito a uma vaga nos jardins somente após os 3 anos. As mães não têm alternativa que ficar em casa cuidando de suas crianças. O governo alemão se propôs, até o ano 2013, criar jardins de infância ou berçário para abrigar pelo menos um terço das crianças, até 3 anos. Uma meta que está muito longe de ser atingida.

Se não forem tomadas providências em relação ao desemprego, coisa difícil em tempos de concorrência com outros mercados onde a mão-de-obra é mais barata. Aquí lembremos do “O caso Nokia” relatado por mim aqui no OPS, quando a indústria Nokia de fabricação de telefones foi fechada na Alemanha e reinstalada na Romênia. Não vamos estranhar que Alemanha estara novamente disputando os primeiros lugares no ranking negativo da Unifec nos próximos anos.

Os políticos, ah, eles de novo, incoerentes pedem mais dinheiro para o “Kindergeld” ao invés de legislarem por mais postos de trabalho. Os Verdes são contra a elevação do valor pago para cada filho e são pela construção de mais jardins da infância. Eles alegam que o dinheiro pago, muitas vezes vai servir para tapar buraco no orçamento doméstico e não beneficia às crianças como já foi comprovado na prática no Estado de Thuringen. Com razão, o Estado distribui o que arrecada. Se não houver geração de riqueza não há como redistribuir a renda.

 

Enquanto isso na fazenda ao lado…

 

 

… Dois terços das crianças na Alemanha vivem como nunca viveram as crianças de outras gerações passadas. São bem alimentadas, viajam duas vezes por ano com os pais em férias. Crianças e jovens de 6 a 13 anos têm à sua disposição, poupança, recebem dinheiro de mesada e dinheiro como presenste de aniversário e primeira comunhao, num total de 5,76 bilhões de euros, segundo a pesquisa de Kids-Verbrauchanalyse de 2007.

 

Essas são crianças felizes e como tudo indica vêm de família que tem propriedade rural e estão sendo educadas para o futuro. Pelo que vemos o motorista já assumiu a responsabilidade da direção, já a carga parece se divertir…

 

Absurdo

 

 

O Ministério para a Família acha a estatística “absurda”. É senhora ministra, são mesmo absurdidades da modernidade só porque que a senhora acha nas estatísticas oficiais do Armutberich der Bundesregierung (Relatório Oficial da Pobreza) Este País-Alemanha está um pouco melhor, em 8° lugar e não em 5°lugar como foi noticiado no relatório da UNICEF.

É realmente um absurdo.

 

Fotos: Solange Ayres.

 

Fonte:

Der UNICEF- Berich zur Lage von Kirndern in Deutschland.

Gráfico: UNICEF.

Stern-Politik & Panorama.

Telepolis/Kinderarmut in Deutschland.

Sozialhilfe-24.

Tagesspiegel.

Wikipédia: em alemão.

Armutsbericht 2008 Bundesregierung.

Deutscher Bundestag- Kinderarmut in Deutschland.

Bündnis 90/Die Grünen.

Planet Wissen.

Kds Verbraucher Analyse 2007.

Bundesagentur für Arbeit.

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Solange Ayres