Este País, Alemanha By Solange Ayres / Share 0 Tweet A feira internacional de Vinhos Pro Wein que acontece a cada ano na cidade de Düsseldorf, é o mais importante evento anual internacional na área de vinhos e bebidas alcoólicas, e talvez a maior feira do gênero do mundo, dirigida às áreas de supermercados, revendedores e gastronomia. Os 33.000 visitantes provenientes de mais de 50 países tiveram quase todos seus desejos realizados nos 3.300 stands de provas montados na feira. Eu disse “quase”, pois nem todos puderam provar, como eu, um “Sori Tildin”, feito 95% variedade “Nebiolo” e 5% da variedade “Barbera” produzido por Ângelo Gaja. Para tanto, era necessária a apresentação de um cartão “VIP”, Very Important People, especial para prova do tão caro líquido. Somente 6.000 garrafas, deste néctar dos deuses, são produzidas anualmente, com uvas, de um pequenino vinhedo da região de Piemont. Uau! Foi uma enorme sensação. O sabor, humm… só mesmo experimentando. Mas voltando ao extenso programa da feira, não precisamos dizer que a principal atividade lá consiste em… provar, provar e provar vinhos. Também há na feira, degustações dirigidas, nos stands pequenos acontecem seminários, workshops, uma grande fonte de informação e troca para os participantes. Esta é a terceira vez que visito a Pro Wein e desta vez fui bem seletiva na escolha dos stands que fui visitar. O universo de vinhos apresentados é tão vasto, que se não nos concentrarmos nos nossos objetivos, corremos o risco de nos perdermos entre as garrafas e provas. Eu este ano escolhi três títulos: “Vinhos Piemonteses”, “Vinhos Alemães” e “Vinhos Portugueses”. Mesmo com um programa “restrito” não consegui visitar os stands dos vinhos portugueses, me faltou literalmente “pernas” depois de tanta degustação e tanta informação a ser digerida. Trabalhando na área de vinhos, há sempre o que aprender, principalmente na ponta da língua. E a Feira de Vinhos de Düsseldorf é uma grande oportunidade para obtermos informações de primeira mão, diretamente de quem produz vinho e nos informarmos sobre as novidades. Eu sei, não sou uma típica “somelier” que se mete a fazer complicadas elucubrações e elucidações sobre os vinhos provados. Estou mais próxima aos clientes: O que a língua gosta está “aprovado”. Essa é a maneira mais fácil de se abordar o público alemão consumidor de vinho, isto é, sem usar linguagem barroca. Aqui os clientes são muito bem informados e não se dão por vencidos, ou se metem tão somente, a acreditar na… “lábia” do vendedor. Mas se somos sinceros ao descrevermos os vinhos os clientes acabam comprando. Aqui estou eu no meu “metiê”, vendas. Vinho na veia O consumo de vinho tem evoluído muito nos últimos anos e tem deixado a cerveja para traz nas vendas, embora a Alemanha ainda seja um dos maiores produtores de “louras” no mundo, ficando atrás, quem diria, da… China e dos Estados Unidos. Ah, mas cerveja é outra história. Pois há sempre uma ótima desculpa para aqueles amantes de vinhos. O consumo moderado da bebida faz bem para a saúde, pois os fenóis contidos nas uvas evitam a obstrução das artérias e tem efeitos positivos contra seu enrijecimento. Bem, bem aqui os conselhos dos médicos são seguidos à risca… Preferência internacional A preferência por sabores e procedencia dos vinhos consumidos na Alemanha é muito diversificada e está diretamente ligada à quantidade e qualidade de vinhos que têm chegado ao mercado nos últimos anos. Há vinho para todos os “gostos”. Os vinhos franceses, que eram largamente consumidos na Europa nos últimos 10 anos, ganharam concorrência de produtores além mares. Austrália, Chile, Califórnia países que estão produzindo vinhos baratos e ao gosto do freguês, isto é, para serem bebidos de imediato. Eles não contêm muita acidez e têm com acentuado sabor de fruta. Mas nem sempre foi assim: vinhos franceses, com alto ter de tanina antes precisavam dormir algum tempo na adega para amadurecer. Hoje os consumidores estão mais “impacientes” e não há mais quem queira esperar tanto tempo. O vinho é para se tomar aqui e agora, combinando com a geração mais jovem. Espontaneamente se escolhe um vinho da prateleira do supermercado, aquele que está mais próximo, pronto para ser bebido, à noite com alguns amigos. Nada complicado, com ritual de ir ao porão frio, ou adega e escolher um vinho de mil novecentos e cafunga e abri-lo em ritual de fé. Então os vinhos australianos, californianos, chilenos são perfeitos. Favorecidos pelo clima quente e o calor as uvas amadurecem e transportam para as taças o sabor da fruta verdadeira. Vinhos alemães Na Alemanha há cerca de 80.000 produtores de vinho em quase 102.000 hectares plantados, colhendo cerca de 9.500.000 de hectolitros. Um quinto da produção é exportada, particularmente para a Inglaterra, Holanda e USA. Os maiores vinhedos se encontram na região Rheinhessen, 26.444 hectares seguidos da região Pfalz com 23.46l hectares e pertencem ao estado Rheinland-Palz. Esta região não é tão privilegiada para o cultivo de uvas, e o que é produzido lá, surpreende pela alta qualidade. Os vinhedos se localizam as margens do rio Reno, em suas encostas, onde o sol brilha mais intensamente, isto é, do lado sul e oeste. Durante o dia o solo armazena o calor que ao cair da noite aquece os vinhedos, evitando o congelamento em dias mais frios, no início da primavera. As regiões de vinhedos alemães podem ser assim divididas: Ahr, Baden, Franken, Hessische Bergstraße, Mittelrhein, Mosel, Nahe, Palz, Rheingau, Rheinhessen, Saale-Unstrut, Sachsen, Wüttemberg, Dentre as uvas mais cultivadas Rivaner, Pinot Noir, Dornferlder, Silvaner, Grauburgunder o Pino Gris em francês, Blauer Portugieser, Weißer Burgunder, Kerner, Trollinger, Schwarzrriesling, Lemberger o destaque aqui é para a variedade Riesling, a mais importante uva cultivada na Alemanha e que mais se adapta ao clima frio. O Riesling é artigo de exportação e os mais expressivos vem do vale dos rios Mosel e Reno. Dentre os produtores, “Robert Weil”, que esta em 12° lugar dos 31 vinicultores citados na lista de “Gault Millau WeinGuide Deutschland” como um dos melhores produtores de vinho da década 2001/2010 da região de Rheingau. À frente dos negócios está o neto,Wilhelm Weil (foto). Ele é um dos mais conhecidos e prestigiados vinicultores alemães e leva a fama do vinho branco alemão para o mundo todo. A produção anual é de 550.000 garrafas, sendo 99% da variedade Riesling. O vinho da uva Riesling, procedente do “terroir” Kiedricher Grafenberg, ano 2008, servido pelo próprio senhor Weil, foi provado por mim na ProWein e hum…elegante, filigrama, inconfundível… Tapete vermelho para… Aqui segue a lista dos que obtiveram as maiores notas como os melhores produtores do mundo, segundo o guia “Gallt Millau”, para aqueles que se interessarem pelo tema. Os produtores listados nesta categoria pertencem aos melhores dos melhores da Alemanha e podem ser comparados aos níveis de produtores franceses como Romanee Conti, da região de Borgonha, ou Chateau Margaux, região de Bordeux. Com sorte nos sites há tradução para o inglês. Vale a pena passear pelos sites que estão documentados com belas fotos. Região de Baden: – Bernhard Huber Região de Mosel: – Fritz Haag – Egon Müller- Scharzhof – Joh. Jos Prüm Região de Nahe: – Hermann Dönnhoff – Emrich-Schönleber Região de Palz: – Ökonomierat Rebholz Região de Rheingau: – Robert Weil Região de Rheinhessen: – Keller Realeza Desde 1949 é escolhida na cidade de Neustadt a Rainha do Vinho. As candidatas são procedentes das 13 regiões produtoras de vinho da Alemanha. O concurso é promovido pelo “Deutschen Weininstitutes”, Instituto alemão de vinhos, na “Estrada do Vinho”. Como atributo a rainha tem que conhecer muito bem de vinho e sua função é representar os vinhos alemães em festividades em toda a República. As “princesas” também têm o seu papel de substituírem a rainha nas festividades. Na Pro-Wein fui apresentada para a para “Princesa do Vinho” Christ Schäfer (foto) da região de Wüttemberg para o reinado de 2009/2010, que muito simpática, se deixou fotografar para o OPS. *A autora é especializada na venda de vinhos e trabalha a 10 anos no ramo. Atualmente ocupa cargo de vendedora em um grande fornecedor de produtos de alta qualidade para gastronomia e hotelaria na cidade de Colônia, Alemanha. Fotos: Solange Ayres e Franz Hecker